Cerca de 23% das vagas do Fies não foram preenchidas este ano

O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) preencheu 115.445 vagas de um total de 150 mil ofertadas no primeiro semestre deste ano, de acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o que equivale a 76,68% vagas. O restante permaneceu disponível mesmo após uma rodada de oferta das vagas não preenchidas no processo regular, cujo prazo terminou no último dia 22.

No primeiro semestre do ano passado, das 250 mil ofertadas, 102 mil não foram preenchidas, o equivalente a 41% das vagas. Após esse resultado, o MEC começou a ofertar as vagas ociosas em processo posterior ao regular. Mesmo assim, a porcentagem de vagas não preenchidas se mantém mais ou menos constante. No segundo semestre do ano passado, segundo o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Sólon Caldas, das 75 mil, cerca de 20% ficaram ociosas.

“De um lado ficam muitos alunos precisando de financiamento para ter acesso à educação superior e, do outro lado, vagas sobrando. A conta não está fechando e o governo precisa equalizar essa equação”, diz Caldas.

Segundo ele, as vagas não são preenchidas devido aos critérios do próprio programa. Desde o final de 2014, o Fies começou a ter uma série de restrições. Passou a ser exigida uma pontuação mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 450 pontos nas provas e uma renda mínima de três salários mínimos por pessoa, o equivalente em valores atuais a R$ 2.811. Os juros aumentaram e a porcentagem de financiamento que o estudante recebe passou a ser calculada de acordo com a renda, não chegando mais a 100%. “Quando o aluno tem a pontuação, não tem a renda; e quando tem a renda, não alcança a pontuação”, diz Sólon.

Outro critério criticado por Sólon é a destinação de 70% das vagas do Fies para cursos prioritários nas áreas de saúde, engenharia e de formação de professores. “Os cursos são os que o governo julga prioritários para o país, mas nem sempre são os prioritários para os estudantes, que buscam uma posição no mercado de trabalho”.

Mudanças
Na semana passada, em audiências públicas no Congresso Nacional, o ministro da Educação, Mendonça Filho, afirmou que reformulará o Fies. Ele não adiantou quais serão as mudanças, mas garantiu que os contratos vigentes não serão prejudicados e que o programa se voltará principalmente aos mais pobres. Segundo ele, a intenção é ampliar o atendimento pelo programa e torná-lo mais sustentável. O Fies, segundo o ministro, acumulou um rombo de R$ 32 bilhões até 2016. A inadimplência é de cerca de 46%.

Para ser beneficiado pelo Fies, atualmente, é necessário que o estudante que tenha participado do Enem a partir de 2010, obtido pelo menos 450 pontos na média nas provas e não tenha tirado 0 na redação. O candidato precisa ter também renda familiar mensal bruta per capita de até 2,5 salários mínimos. O Fies oferece financiamento de cursos superiores em instituições privadas a uma taxa de juros de 6,5% ao ano.

O setor privado aguarda ansiosamente as alterações. No ensino superior, as instituições particulares concentram 75% das matrículas. Programas como o Fies e Programa Universidade para Todos (ProUni) chegaram a bancar 40% dos estudantes nessas instituições.

Com as mudanças e as restrições no financiamento, o setor passou também a buscar alternativas. Para o presidente da Anima Educação, grupo de educação de capital aberto, Daniel Castanho, o Fies perdeu a força. Nas instituições do grupo, 11% dos novos alunos neste ano são financiados pelo Fies. Esse percentual já chegou a 40%. Levando em conta todos os estudantes matriculados, 30% são beneficiados pelo Fies.

“Como tinha o Fies com condições imbatíveis, ninguém pensava em entrar [no mercado de financiamento estudantil]. Agora, os bancos estão desenhando [financiamentos]. Nos próximos anos, vão surgir vários canais de possibilidades, formando, com o Fies, uma cesta de financiamento”, diz. Ele avalia que o Fies foi importante para a inclusão e para que os estudantes considerassem financiar as matrículas, algo que não era pensado antes do programa.

“Acredito que as novas condições serão piores para as instituições e para os alunos e um pouco melhores para o governo, que financiava muito, tomava todo o risco”, diz Castanho. “Será mais sustentável”.

Fonte: Agência Brasil

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Dono de banco preso em operação da PF contra lavagem de dinheiro é policial civil e já foi acusado de corrupção por delator do PCC

 A Polícia Federal (PF) realizou nesta terça-feira,26,  uma operação contra crimes financeiros que resultou na prisão de um policial civil de São Paulo, Cyllas Elia, que também é dono do 2 Go Bank. Elia havia sido acusado de corrupção por um delator do PCC que foi executado no Aeroporto Internacional de São Paulo.
A operação, que ocorreu em seis estados (São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Ceará, Santa Catarina e Bahia) e no Distrito Federal, visou desmantelar uma organização criminosa que operava um complexo sistema bancário ilegal de lavagem de dinheiro e evasão de divisas para pelo menos 15 países. A investigação revelou que o grupo, chefiado em parte por chineses, movimentou cerca de R$ 6 bilhões nos últimos anos.
O delator, Gritzbach, havia denunciado Elia por corrupção oito dias antes de ser morto a tiros no aeroporto em 8 de novembro. As câmeras de segurança capturaram o crime. Gritzbach era réu em dois processos: um por mandar matar dois membros do PCC e outro por lavar dinheiro para a quadrilha. Ele aceitou a delação premiada para reduzir sua pena.
A PF não realizou a operação diretamente por causa da delação de Gritzbach, mas tinha informações de que Elia já havia sido acusado anteriormente por crimes financeiros. Elia pediu afastamento da Polícia Civil há um ano e meio e é CEO e fundador do 2 Go Bank, segundo suas páginas pessoais na internet e registros na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp).
A delação de Gritzbach indicou que o 2 Go Bank era usado por Elia para lavar dinheiro do PCC. Além disso, Elia tem ligações com dois membros do PCC executados em 2021 em São Paulo.
A operação “Tai-Pan” envolveu a prisão de 16 pessoas e a execução de 41 mandados de busca e apreensão. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 10 bilhões de 214 empresas. O dinheiro circulava dentro do Brasil e era enviado principalmente para a China, Hong Kong, Estados Unidos, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Inglaterra, Itália, Turquia e Emirados Árabes.
A organização criminosa usava métodos clássicos de lavagem de dinheiro, como boletagem, empresas de fachada, laranjas, falsificação de documentos de importação e exportação, e operações de câmbio fraudulentas. Além disso, recorreu a métodos modernos que permitiram saltar de milhões para bilhões de reais.
Dois suspeitos de participarem da execução de Gritzbach, Kauê do Amaral Coelho e Matheus Augusto de Castro Mota, são procurados pela polícia e têm prisões temporárias decretadas.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo trabalha com várias linhas de investigação, não descartando a participação de membros do PCC, agentes de segurança ou devedores de Gritzbach. Cinco policiais civis delatados e oito agentes da Polícia Militar que faziam a escolta particular de Gritzbach foram afastados preventivamente.

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