UFG oferece curso sobre tratamentos à base de cannabis

Epilepsia, depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e síndrome do intestino irritável são exemplos de doenças que podem ser minimizadas com a cannabis. A partir do dia primeiro de março, a Universidade Federal de Goiás (UFG) promove um curso de extensão sobre o assunto. O objetivo é mostrar a profissionais e estudantes, principalmente de áreas da Saúde, o que a Ciência e a prática clínica já descobriram sobre os potenciais da planta.

O curso de extensão Terapêutica Endocanabinoide: Fundamentos e Prática Clínica Integrativa e Multiprofissional é realizado pela UFG, que também emite o certificado. A organização é da Associação Curando Ivo e a Fibrocannabis – Quem Tem Dor Tem Pressa. As aulas serão online, com carga horária de 90 horas. As inscrições ainda não começaram, mas a previsão é para o fim de janeiro ou início de fevereiro. O curso tem o valor, no lançamento, de R$ 840.

O objetivo é ensinar sobre a importância da cannabis e como ela atua no organismo em tratamentos de pacientes. “Ministrando o curso, teremos, por exemplo, engenheiro agrônomo, farmacêutico, médico e profissionais da Nutrição”, explica a farmacêutica e coordenadora geral do curso, Vivian Dalla Colletta.

“O curso é uma demanda da sociedade. A gente ainda tem um preconceito arraigado muito grande. Até entre as pessoas do meio científico, às vezes, falta informação. A ideia do curso é levar essas informações. Com a cannabis, a gente não vai curar nenhuma doença, mas vai melhorar a qualidade de vida, a dor e os sintomas da pessoa”, afirma o coordenador administrativo-financeiro do curso e professor da UFG, André Freiria de Oliveira.

O que a Cannabis faz

Há quatro anos, Rodrigo faz uso medicinal da cannabis. (Imagem: Arquivo Pessoal)

Além da estrutura da própria planta, o curso explicará como é o sistema endocanabinoide. Todas as pessoas têm este sistema, assim como possuem o sistema respiratório, por exemplo. É nesta parte do corpo que a cannabis age, aliviando sintomas, como a dor. Diferente de outros sistemas, o endocanabinoide não é visto a olho nu, mas está em praticamente todo o corpo: membrana das células e envolvendo enzimas.

“Para regular este sistema endocanabinoide, nosso organismo produz substâncias que são muito parecidas com as da maconha. Então, quando o organismo não consegue produzir ou produz em quantidade não adequada e, principalmente em algumas patologias, este sistema fica desequilibrado no corpo. A terapêutica endocanabinoide ajuda a regular este funcionamento, atua em doenças e ajuda a melhorar a qualidade de vida das pessoas”, detalha Vivian Dalla.

A melhora é observada de perto pelo professor da UFG que participa da organização do curso. Rodrigo, de nove anos, é autista e filho de André Freiria.

“Melhorou muito a qualidade de vida dele e a da família também. O Rodrigo tinha variações de humor muito grandes durante o dia na escola e em casa. Agora, as variações são bem menores, ele consegue desempenhar tarefas simples, como fazer uma prova”, conta o pai.

Segundo o professor da UFG, a Ciência vem percebendo que outras partes da maconha, além do canabidiol, têm efeito terapêutico. Por exemplo, o tetrahidrocanabinol (THC), a substância psicoativa da planta. “Antigamente, se pensava que o THC era para o uso recreativo e o canabidiol era o que ia curar. Mas alguns trabalhos científicos já usam o extrato da maconha inteira, com canabidiol, mas também com THC. Percebe-se que o resultado é melhor, acontece o que chamamos de efeito comitiva. No caso de dor, por exemplo, parece que o THC é mais efetivo que o canabidiol”, explica.

Antes e depois

Ivo, pai de Filipe, usa apenas o óleo extraído da maconha como tratamento contra Alzheimer. (Foto: Arquivo Pessoal)

A Associação Curando Ivo, que faz parte da organização do curso, nasceu de duas experiências positivas com a cannabis. Filipe Barsan Suzin viu o pai mudar radicalmente de comportamento ao ser diagnosticado com Alzheimer, aos 58 anos. O senhor Ivo passou a ser agressivo e a família encontrava dificuldade em coisas simples, como alimentá-lo. O uso medicinal da cannabis, assim como no caso de Rodolfo, com autismo, mudou tudo. Por exemplo, Ivo passou a comer melhor e a cannabis aliviou a agressividade. Assim como o pai, Filipe faz uso medicinal da maconha para controle de epilepsia.

A família tem autorização para cultivar a planta em casa para extrair manualmente o óleo responsável pelo alívio dos sintomas. Esta concessão é dada pela Justiça, com Habeas Corpus, já que adquirir o óleo, muitas vezes, tem custo alto. Dessa forma, Filipe criou a A Associação Cuidando Ivo, em 2020, para ajudar mais pessoas. O objetivo é conseguir autorização para cultivar a maconha, retirar o óleo e oferecer aos associados a baixo custo. O projeto está em fase de estruturação, mas já tem equipe técnica de aproximadamente 60 pessoas, entre médicos, farmacêuticos e agrônomos.

“Hoje a Associação tem um terreno de 10 mil metros quadrados em Nerópolis. O objetivo é fazer o cultivo neste espaço e ajudar as pessoas com algo que realmente seja benéfico, prezando pela qualidade de vida”, conta Filipe.

Cannabis no Brasil

Apenas um produto é vendido como medicamento à base de cannabis no país. Na última semana, aconteceu o décimo registro dos chamados produtos à base de cannabis – que não são considerados medicamentos, mas são de uso em saúde – no território brasileiro. A Anvisa autoriza a entrada de medicamentos do exterior por meio de importadoras, a partir de demandas da população, como mães que reivindicam o direito de tratar seus filhos.

Nas importadoras, o preço varia de R$ 300 a R$ 1.500. Nas farmácias, o medicamento pode chegar a custar R$ 3.000. Por conta desse alto custo, tantas associações, como a Cuidando Ivo, nascem e buscam autorização para que possam cultivar a maconha, extrair o óleo e oferecer aos pacientes com preço mais acessível.

De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327/2019, apenas médicos estão legalmente habilitados para prescrever tratamento à base de cannabis no Brasil. Segundo Vivian Dalla, existe a expectativa de que uma revisão desta resolução inclua também os dentistas.

Além disso, o Projeto de Lei 399 tramita desde 2015 e pretende regulamentar a cadeia produtiva da cannabis e o uso medicinal. “A previsão é de votação no início deste ano. Está todo mundo de olho porque, uma vez votado, vai regulamentar o processo, coisa que não existe hoje”, explica Vivian.

🔔Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp

Senado aprova projeto para proibir uso de celular em escolas

O plenário do Senado Federal aprovou, em votação simbólica, na noite de quarta-feira, 18, o Projeto de Lei 104/2015, que restringe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis, sobretudo de telefones celulares, nas salas de aula dos estabelecimentos públicos e privados de ensino infantil e médio de todo o país.

O texto já havia sido aprovado pela Câmara dos Deputados, na semana passada, em votação terminativa na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Apoiado pelo governo federal e por especialistas, o texto também teve rápida tramitação no Senado, indo direto para votação em plenário. Com a aprovação no Congresso, o projeto segue para sanção presidencial e poderá valer já para o ano letivo de 2025.

Países como França, Espanha, Grécia, Dinamarca, Itália e Holanda já possuem legislações que restringem uso de celular em escolas.

De acordo com o relator do PL no Senado, Alessandro Vieira (MDB-SE), a medida não traz punições, mas “orienta uma política pública educacional”.

“Entre o início do período de aula até o final, o uso de celular está proibido, salvo questão de necessidade, como saúde. A regra é que o aluno deixe esse celular desligado, mutado, na sua mochila ou no estabelecimento que tiver espaço, e ele tenha concentração total na aula. É um projeto muito simples, ele quer resgatar a atenção do aluno, levar esse aluno a prestar atenção na aula”, argumentou o senador, durante a sessão de debates.

Apesar de ter obtido unanimidade entre os senadores, duas emendas chegaram a ser apresentadas. Uma delas, de autoria do senador Rogério Marinho (PL-RN), visava estabelecer a obrigatoriedade apenas no ensino infantil e fundamental, do 1º ao 9º ano, excluindo o ensino médio. O argumento do parlamentar era aplicar a política de forma gradual. A emenda acabou sendo rejeitada.

Uma outra emenda, de autoria do senador Eduardo Girão (Novo-CE), chegou a ser apresentada, para obrigar a instalação de câmeras em salas de aula, mas, após os debates, o parlamentar retirou a proposta, para reapresentá-la na forma de um projeto de lei em separado.

Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp