Acidentes domésticos matam anualmente cerca de 3,6 mil crianças de um a 14 anos, no Brasil

Cerca de 3,6 mil crianças de um a 14 anos morrem por ano, no Brasil, por causa de acidentes domésticos, principal causa de morte nesta faixa etária segundo pesquisa do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). As principais causas são atropelamentos e afogamentos. Outras 11 mil são hospitalizadas, sendo que mais da metade são vítimas de quedas e queimaduras de terceiro grau.

No último sábado (19), o Diário do Estado, mostrou que uma menina de seis anos morreu eletrocutada quando tentava carregar o celular usando uma extensão, na casa dela, na Vila Mutirão, em Niquelândia. A criança estava com os pais, que conseguiram socorro médico. Apesar disso, ela morreu pouco tempo depois no Hospital Municipal Santa Efigênia.

No sábado anterior (12), um menino de 10 anos também morreu ao aspirar um balão de festa na casa de uma amiga da mãe, na companhia de outras crianças, na cidade de Luziânia. Testemunhas disseram que ele tentou engolir o balão, mas ficou engasgado. O garoto foi até a cozinha para beber água e contou que havia engolido o balão, desmaiando em seguida. Ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento do Jardim Ingá, em Luziânia, onde morreu.

Vigilância permanente

Os dois casos mostram rotinas consideradas banais para as famílias. Carregar um celular, brincar de balão em uma festa, correr pela casa, explorar o ambiente. A pesquisa desenvolvida pela SBP revela que a “residência e seu entorno, quando se tem crianças e adolescentes, seja como moradores, seja como visitas, devem estar preparados para as possibilidades de sua exploração e de suas tentativas de descobertas, além dos desafios próprios de cada idade, para que se retirem os riscos dos acidentes”.

Para o pesquisador Tadeu Nunes Ferreira, autor da pesquisa “Principais causas de acidentes domésticos com crianças menores de 5 anos de idade: uma revisão da literatura “, de 2014, “os acidentes estão diretamente relacionados às fases do desenvolvimento neuropsicomotor da criança, pois são características de seu desenvolvimento o desejo de explorar o novo, conhecer o meio onde se encontra, ficando estas expostas a acidentes”.

Para ele, é preciso a adoção de medidas preventivas para evitar acidentes em crianças na faixa de 1 a 5 anos.

O vice-presidente do vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Goiânia (CMDCA), Edson Lucas Viana conta que as recomendações universais para prevenir acidentes com crianças e adolescentes em casa e fora dela são vigilância sempre.

“Eles (os acidentes) acontecem em frações de segundos. Um pequeno descuido pode ser fatal. Por isso, as crianças precisam estar ao alcance de um adulto sempre. Vigilância permanente”.

O conselheiro lembra que os acidentes ocorrem de várias maneiras: quedas, choques, afogamentos, cortes, ingestão de medicamentos. “Enfim, há uma infinidade de hipóteses que causam acidentes, a depender do ambiente onde a criança se encontra e os adultos com as quais convive”. Os acidentes podem acontecer por ação, omissão ou falta dos pais ou responsáveis e neste caso, segundo ele, “desaguam nos Conselhos Tutelares”. No mais, os dados são restritos aos hospitais e prontos-socorros.

Justiça

Delegada titular de Proteção à Criança e ao Adolescente por mais de 8 anos, entre 2003 e 2011, Adriana Accorsi investigou inúmeros casos de acidentes para definir o grau de responsabilidade dos pais ou responsáveis. Ela lembra do caso de uma criança que morreu afogada em um balde.

“Foi um caso muito triste. A mãe estava limpando um cômodo e a criança foi brincar, caiu dentro do balde e morreu afogada. Uma tragédia. O balde tinha água pela metade. Teve outro que a criança foi deixada alimentando no carrinho de bebê, engasgou e morreu”.

A delegada, hoje deputada estadual, disse nem gosta de lembrar dos casos que investigou. Mãe de Helena, de 3 anos, e de Verônica, já adulta, diz que sempre se cercou de cuidados com as filhas, pois sabe dos riscos diários que uma criança passa. Ela lembra de investigar e indiciar uma babá que desceu com uma criança e deixou a outra no apartamento sem grade. A criança se debruçou na janela, caiu e morreu. “Todo cuidado é pouco em casa com criança. Piscina tem de ter grade e ficar trancada. Tem de tomar muito cuidado com produtos de limpeza”, lembra.

Ela ainda explica que quando fica comprovado que os pais ou responsáveis não tiveram culpa do acidente, que não tinham a intenção que a criança sofresse dor, eles são indiciados por imprudência, imperícia ou negligência.

“A Polícia Civil não pode oferecer o perdão para a família que sofre uma tragédia desta proporção. O perdão judicial, como o nome diz, só pode ser conseguido na Justiça e é o que geralmente acontece, porque já é muita dor”.

Os indiciamentos acontecem quando é constatada negligência ou imprudência com a criança acidentada. 90% dos acidentes são evitáveis

Prevenção

A pediatra Ana Escobar, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP, ouvida pelo jornal da USP, informa que 90% dos acidentes domésticos poderiam ser evitados. A mesma publicação, citando dados do Ministério da Saúde divulgados pela Revista Crescer, revelam aumento dos acidentes domésticos com crianças na pandemia. Entre março e outubro de 2019 foram realizados cerca de 18 mil atendimentos em crianças e adolescentes de até 15 anos pelo Sistema Único de Saúde. No mesmo período de 2020, o aumento foi de aproximadamente 112%, passando dos 39 mil atendimentos.

No site do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), há uma cartilha desenvolvida para auxiliar na prevenção de acidentes domésticos com crianças e adolescentes. Ela foi formulada por meio da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA), Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM) e da Secretaria Nacional da Família (SNF) e está acessível neste link.

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Anvisa atualiza regras sobre implantes hormonais

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nesta sexta-feira (22) no Diário Oficial da Uniãoresolução que atualiza as regras sobre o uso de implantes hormonais, popularmente conhecidos como chips da beleza. O dispositivo, segundo definição da própria agência, mistura diversos hormônios – inclusive substâncias que não possuem avaliação de segurança para esse formato de uso.

A nova resolução mantém a proibição de manipulação, comercialização e uso de implantes hormonais com esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos para fins estéticos, ganho de massa muscular ou melhora no desempenho esportivo. O texto também proíbe a propaganda de todos os implantes hormonais manipulados ao público em geral.

“Uma novidade significativa dessa norma é a corresponsabilidade atribuída às farmácias de manipulação, que agora podem ser responsabilizadas em casos de má prescrição ou uso inadequado indicado por profissionais de saúde. Essa medida amplia a fiscalização e promove maior segurança para os pacientes, exigindo mais responsabilidade de todos os envolvidos no processo”, disse em nota Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbenm).

“É importante destacar que essa nova resolução não significa aprovação do uso de implantes hormonais nem garante sua segurança. Ao contrário, reforça a necessidade de cautela e soma-se à resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que já proibia a prescrição de implantes sem comprovação científica de eficácia e segurança”, destacou a nota.

Entenda

Em outubro, outra resolução da Anvisa havia suspendido, de forma generalizada, a manipulação, a comercialização, a propaganda e o uso de implantes hormonais. À época, a agência classificou a medida como preventiva e detalhou que a decisão foi motivada por denúncias de entidades médicas como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) que apontavam aumento no atendimento de pacientes com problemas.

Na avaliação da Sbem, a nova resolução atende à necessidade de ajustes regulatórios em relação a publicação anterior. A entidade também avalia a decisão de proibir a propaganda desse tipo de dispositivo como importante “para combater a desinformação e proliferação de pseudoespecialistas, sem o conhecimento médico adequado, comuns nas redes sociais”.

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