A queda de uma rocha que matou dez pessoas em Capitólio (MG), no último dia 8 de janeiro, acendeu alerta sobre a segurança das estruturas rochosas em áreas que recebem turistas. No Brasil, não é obrigatório que estes espaços tenham laudo geológico, tampouco é costume que eles sejam feitos. Agora, especialistas querem produzir um modelo piloto na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, que seja base para uma legislação específica do setor e que possa ser adaptado às diferentes regiões do Brasil.
“A ideia é fazer um piloto na Chapada para ver como vamos trabalhar risco em áreas turísticas. Faremos análise técnica e geológica, do uso turístico e do patrimônio geológico. Isso é para criar as normativas no Brasil, que sejam leis estaduais ou federais”, explica Joana Sánchez, professora e pesquisadora em Geologia na Universidade Federal de Goiás (UFG). A especialista faz estudos na Chapada dos Veadeiros há cinco anos.
“Enquanto professores, a gente não consegue fazer análise de todos os locais de risco do Brasil. Então, vamos criar a normativa para que as regiões possam contratar empresas ou universidades que façam o trabalho”, detalha a professora da UFG.
Para que isso aconteça, a proposta é juntar o grupo de estudos formado pela UFG em parceria com a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), a Federação Brasileira de Geólogos (Febrageo), o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) – uma empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia – e ainda a Agência Estadual de Turismo (Goiás Turismo), do governo de Goiás. As conversas, no entanto, ainda estão no início e o projeto não está fechado. Também não há data exata para o início e orçamento definido.
Para além da Chapada
No dia 10 de janeiro, o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, se reuniu com secretários de Turismo de vários estados brasileiros, entre eles o de Goiás, Fabrício Amaral, que também é presidente do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo (Fornatur). Na conversa, foram discutidas medidas que podem ser adotadas para evitar tragédias como a de Capitólio.
Ficou decidido que os estados fariam relatórios de áreas de risco em suas respectivas regiões turísticas. “Infelizmente não recebemos de todos. Metade dos estados enviaram”, conta Fabrício Amaral. Segundo ele, no relatório goiano, o CPRM “identificou uma área de atenção em Aparecida de Goiânia, que não é área turística, é urbana”. Segundo informado à reportagem do DE, não seria possível precisar a localização, por uma questão de escala no mapa, que reúne 560 municípios.
Um centímetro do mapa corresponde a 150 metros. “Essas áreas são monitoradas”, pontuou Fabrício se referindo aos locais apontados como de risco. “[Em Aparecida], não tem nenhuma demanda oficial de área que esteja caindo. Não fomos demandados nem pelo poder público municipal nem pelo privado. Na verdade, o que estamos fazendo é antecipar”, afirmou o presidente da Goiás Turismo.
Depois deste relatório, que foi geral, a proposta é fazer um levantamento geológico detalhado, começando pela Chapada e indo também a regiões como o Parque Estadual da Terra Ronca.
“É um trabalho minucioso, novo, que ainda não se fez no Brasil. A gente vai mapear e elaborar um relatório diagnóstico para demonstrar se cada área tem grau pequeno ou máximo [de risco]”, explica Fabrício Amaral.
O presidente da Goiás Turismo diz que pretende dar andamento no assunto depois do carnaval. “Não sei quanto vai custar ou quanto tempo vai demorar, mas minha ideia enquanto gestor é essa: tanto em áreas públicas, quanto privadas, criar um mecanismo real de investigação”, pontua.