De todos os fertilizantes usados no agronegócio brasileiro, 85% são comprados de outros países. Para a próxima safra (2022-2023), Goiás precisa de 4,5 a 5 milhões de toneladas do produto, segundo o Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Estado (Ifag).
Enquanto os preços dos fertilizantes já apontam aumento de até 15%, produtores e entidades goianos estão preocupados com o futuro do cultivo, principalmente pela forte dependência brasileira dos produtos vendidos pela região onde Rússia e Ucrânia estão em guerra.
Atualmente, as lavouras estão na fase da safrinha – com plantio de milho ou sorgo, por exemplo. Os fertilizantes para este cultivo já estão nos barracões. A preocupação é com a próxima safra que, em Goiás, é dominada pelo cultivo de soja, mas também há presença da cana-de-açúcar, feijão e algodão. Em geral, estes produtos são voltados para exportação. Todos demandam fertilizantes.
O Brasil tem pequena produção própria. Em Goiás, por exemplo, há apenas a de fósforo, na cidade de Catalão. Parte significativa do que os produtores brasileiros importam vem da Rússia. Entre os fertilizantes nitrogenados, 20% são do país presidido por Vladimir Putin. Já no caso do potássio, a produção russa e a de Bielorússia, juntas, somam 45% do que o Brasil compra de fora.
Em meio a sanções aplicadas à Rússia, inclusive envolvendo bancos – o que pode dificultar trocas comerciais – a ministra da agricultura, Tereza Cristina, disse nesta quarta-feira (2) que, por enquanto, nenhum dos dois países anunciou formalmente a proibição de exportação. Ainda assim, a titular da pasta disse que busca outras soluções, como negociar importação com o Canadá e até diminuir a quantidade de fertilizantes usados no solo, com apoio de estudos feitos pela Embrapa. Ainda que haja novas possibilidades, a situação preocupa.
“Bielorússia não tem saída para o mar. Então, usava a Lituânia para transportar o fertilizante de exportação. Mas, com bloqueios comerciais que vêm desde a época da Covid-19, estava fazendo isso por meio da Rússia. Agora, os russos acabam tendo dificuldade de logística. Então, apesar de não ter proibição de exportação, há dificuldade de logística sim”, explica o coordenador institucional do Ifag, Leonardo Machado.
Talvez não falte, mas deve encarecer
Fato é que os fertilizantes precisam estar nas propriedades, no máximo, até agosto. E as negociações para fechar a compra começam antes. Graziela Gregório, por exemplo, tem uma propriedade de 39 hectares no município de Piracanjuba, no sul de Goiás. Ela e o marido, Homero Gregório, veem o cenário com preocupação.
“A ministra disse que não vai faltar, mas o aumento do preço já é um problema. Com essa especulação, aumenta muito. Geralmente, a gente fecha o pacote [de fertilizantes] em abril e maio, mas estamos preocupados porque o preço já está subindo. O fertilizante é um dos maiores custos que a gente tem”, relata a produtora rural.
“A possibilidade de faltar é baixa porque temos outras fontes, outros parceiros comerciais que podem fornecer. O que pode acontecer é o produtor usar quantidade menor de fertilizante, devido à questão do preço . Isso impactaria na produtividade e podemos ter problemas na nossa safra”, alerta o coordenador institucional do Ifag. A produtora Graziela conta que já faz análise de solo para usar menos fertilizantes. “Já é feito há vários anos. A gente vem melhorando a terra para diminuir os custos”.
Ainda que a maior parte dos produtos de grandes cultivos sejam para exportação, o impasse com os fertilizantes pode impactar os consumidores brasileiros indiretamente, segundo o presidente do Ifag. “Acredito que podemos ter uma situação de processo inflacionário. Não só por causa do aumento do custo dos insumos, mas também do custo do petróleo e da questão cambial elevada”, conclui.
Enquanto a situação do fertilizante se desenha, Graziela faz pesquisa de preço antes de fechar negócio, sabendo que não pode atrasar a compra. “Não podemos esperar porque a produção não para”, pontua.