Os números não mentem: 75% de toda a produção nacional é transportada por rodovias. Na prática, esse dado significa que dependemos dos caminhoneiros para escoar e receber produtos nacionais e importados.
A falta deles já foi notada em 2018, após paralisação nacional, em protesto pelos mesmos problemas que enfrentam agora. No entanto, apesar de os caminhoneiros não orquestrarem uma manifestação coletiva, a desistência da carreira por parte dos motoristas pode ter reflexos desastrosos.
A análise é do presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas em Goiás (Sinditac), Vantuir Rodrigues. Ele acredita que as consequências de anos de precarização da carreira, resistência dos governos em solucionar alguns problemas relacionados ao modal e ainda questões externas ao Brasil serão sentidos pela população novamente neste semestre.
“Já estão faltando algumas coisas no supermercado no país afora porque não estão chegando, não estão sendo transportadas. Se as coisas continuarem assim, estaremos caminhando para o caos no Brasil”, alerta.
O reajuste de 24,9% sobre o diesel em vigor desde a última sexta (11) comprometeu ainda mais o trabalho dos caminhoneiros. Eles reclamam que os aumentos são absurdos e constantes, a ponto de muitos preferirem deixar os veículos parados na garagem.
O auxílio-diesel, prometido pelo presidente Bolsonaro como uma medida salvadora, para eles não ajuda em praticamente nada, considerando os custos totais para o transporte de cargas.
Em resposta, motoristas cruzaram o braço em uma reação pontual e independente de sindicatos na semana passada. Um vídeo que circula entre os grupos de caminhoneiros mostra o que disseram ter sido uma manifestação provocada pelo atual contexto ao registrar imagens da BR-101, no Espírito Santo, sem trânsito de cargas. O local teria ficado assim por, pelo menos, uma hora.
Vantuir exemplifica a situação citando o próprio caso, que tem um caminhão com um tanque de 800 litros de capacidade. Com o diesel custando R$7, em média, o total gasto seria de R$3,5 mil. O auxílio-diesel de R$400, nesse caso não aliviaria muita coisa porque representa o custo de apenas um dia e meio de trabalho.
“A verdade é que os caminhoneiros vão largar a carreira ali no início de junho, quando acabar a safra, se não houver nenhuma medida contundente. Vão largar a carreira e vão vender o caminhão. As rodovias não estão em bom estado. Um pneu para dar tração custa R$3,5 mil e está arriscado estragar e a gente não ter como comprar outro. A gente não está conseguindo nem mais abastecer”, explica.
Salário em real ou dólar?
Segundo o caminhoneiro com mais de 30 anos de estrada, já são duas décadas de preço do frete defasado e a categoria é unânime ao criticar a política de Paridade de Preços Internacionais, a PPI. Vantuir diz que a aplicação desse critério no cálculo dos combustíveis vendidos no Brasil “azedou tudo” porque impacto não alcança apenas eles, mas toda a população ao ser repassado nos preços de alimentos e outros itens básicos. “Aqui ninguém recebe em dólar. Não faz sentido”, reclama.