Três milhões de famílias paulistanas estão endividadas, mostra pesquisa

As famílias da cidade de São Paulo nunca estiveram tão endividadas. Um relatório da FecomercioSP mostra que a principal metrópole do país tem mais de 3 milhões de famílias com alguma dívida ativa – o que é o maior número desde que a entidade começou a fazer a pesquisa, há 12 anos. É um fenômeno que impede não apenas a retomada da economia, segundo especialistas, como também favorece perspectivas piores para o ano — especialmente para o consumo.

Para a FecomercioSP, pior, a cobrança de dívida tem chegado a 24% das famílias paulistanas. Ou seja, são pessoas que estão com contas atrasadas no momento, que representa um universo de 986 mil casas na cidade. O porcentual das que não conseguirão quitar as faturas atrasadas também bateu o recorde histórico, atingindo 10,1%, das residências ouvidas na pesquisa.

Na análise de especialistas da entidade, o endividamento se explica pela alta de juros e da inflação. Só no mês de março, a taxa de aumento dos preços foi de 1,62%, a mais alta desde 1994 para o mês. Dados do sistema bancário revelam que a procura por negociação de dívidas também cresceu, à medida que as pessoas tentam continuar consumindo mesmo em meio às contas atrasadas.

O mais comum é, inclusive, a renegociação de dívidas de cartão de crédito. De acordo com a FecomercioSP, 93,7% dos lares paulistanos estavam endividados nesta modalidade em março. Já os juros altos, além de dificultar o acesso ao crédito, encareceu os financiamentos, levando a uma transferência maior da renda para o sistema financeiro, em detrimento do consumo.

Isso se vê, inclusive, no aumento de consulta de dívida ativa dentro do mercado, tanto dos consumidores quanto das empresas. Isto é, as famílias estão pagando mais em juros e têm menos recursos para compras e pagamento de contas.

Conta ainda neste cenário o conflito na Ucrânia, que agrava o processo inflacionário, dificulta ainda mais o cenário com alta das commodities agrícolas, como o trigo e a soja. Sem contar o reajuste dos combustíveis e do aumento dos alimentos. Com tudo isso, as famílias de São Paulo tem recorrido ao crédito como alternativa para manter o consumo diante da elevação dos preços.

A pesquisa aponta para uma tendência de aumento dos que pretendem contrair crédito nos próximos meses, mesmo a dívida caduca. No relatório, 8,1% dos entrevistados consideravam obter algum recurso com bancos ou financeiras. Destes, 66,3% disseram que a finalidade seria o consumo com itens como gasolina, supermercados, medicamentos etc.). Outros 31,9% pretendiam utilizar para pagamento de dívidas e de contas.

O aumento dessa situação faz com que algumas empresas entrem no mercado de resolução de atrasos, prometendo ajudar pessoas nessa situação a liquidar os boletos. Para fazer uma consulta de dívida ativa, por exemplo, não é mais necessário acessar portais oficiais ou de organizações especializadas – ao contrário, o serviço tem sido oferecido por pequenos operadores dentro do sistema financeiro.

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Mauro Cid confirma ao STF que Bolsonaro sabia de trama golpista

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estava ciente de um plano para um golpe de Estado. O ex-ajudante de ordens foi ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes na última quinta-feira, 21, para esclarecer contradições entre sua delação premiada e as investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF).

De acordo com informações apuradas pela PF, a investigação revelou a existência de um plano envolvendo integrantes do governo Bolsonaro para atentar contra a vida de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes. Contudo, os advogados de Mauro Cid negam que ele tenha confirmado que Bolsonaro estava diretamente envolvido na liderança do suposto plano de execução.

Após prestar depoimento por mais de três horas, o advogado de Cid, Cezar Bittencourt, declarou que seu cliente reiterou informações já apresentadas anteriormente. A advogada Vania Adorno Bittencourt, filha de Cezar, declarou ao Metrópoles que Bolsonaro sabia apenas da tentativa de golpe.

O ministro Alexandre de Moraes validou a colaboração premiada de Mauro Cid, considerando que ele esclareceu omissões e contradições apontadas pela PF. O depoimento foi o segundo do tenente-coronel nesta semana, após a recuperação de arquivos deletados de seus dispositivos eletrônicos pela PF.

Bolsonaro indiciado pela Polícia Federal

No mesmo dia, a Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado. O relatório foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo caso no STF.

Entre os indiciados estão os ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno, além do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O grupo é acusado de crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa, atuando em seis núcleos distintos.

Bolsonaro, em resposta, criticou a condução do inquérito, acusando Moraes de “ajustar depoimentos” e realizar ações fora do que prevê a lei. As investigações continuam em andamento, com implicações graves para os envolvidos.

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