A Covid-19 é uma doença infecciosa causada por um vírus, mas também é uma doença inflamatória – que pode afetar não apenas o músculo do coração, mas todo o sistema cardiovascular, órgãos associados a ele, além de artérias e veias.
O médico cardiologista Aguinaldo Freitas Júnior, Chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), explica que quando essa inflamação gerada pela Covid acomete diretamente o músculo do coração, o paciente tem uma miocardite, de pode ser apresentar de forma leve, ou seja, dor no peito e febre, mas pode evoluir com casos graves, levando à completa falência do músculo do coração e uma insuficiência cardíaca. Nesses casos, o paciente sente cansaço, falta de ar e queda no rendimento para fazer as atividades diárias.
A Covid está associada também a um aumento do número de fenômenos tromboembólicos, ou seja, é uma doença que tem predisposição a formar coágulos e eles podem acometer veias, levando à trombose e até a embolia pulmonar, infarto do miocárdio e AVC isquêmico, que é o derrame cerebral.
“Então, são sequelas dos fenômenos tromboembólicos associados à Covid, o infarto, o derrame, a embolia pulmonar ou trombose e o aumento de pessoas com hipertensão e de hipertensos com a pressão muito descontrolada”.
O médico conta que tem visto muito na prática clínica um aumento no número de pessoas hipertensas. “É uma coisa curiosa porque é impressionante o número de hipertensão descontrolada pós-covid. Ou a Covid mostrou que o paciente era hipertenso e não sabia, ou aqueles paciente hipertensos tornaram-se descontrolados depois da doença”, explica.
O cardiologista afirma que qualquer pessoa que teve Covid pode apresentar essas sequelas. “Já cuidamos de pacientes com miocardite de 22 anos; de uma jovem atleta de 34 anos com embolia pulmonar e de um infarto em um senhor de 70 anos. Então todo paciente pode ter sequelas pós-Covid. Todo paciente está sujeito a isso”, diz.
Ele lembra que os pacientes vacinados ou aqueles que já tem uma imunidade por infecção prévia de Covid tendem a ter menos complicações cardiovasculares do que pacientes não vacinados ou que não tem uma certa imunidade.
A pessoa imunizada tem risco menor de ter um caso grave de Covid e, por consequência, tem menos chance de ter sequelas cardiológicas. Mas um outro fator que pode ajudar a diminuir esta chance, segundo o médico Aguinaldo Freitas Júnior, que também é professor da Faculdade de Medicina da UFG, é controlar as comorbidades. “Se já era hipertenso, mantenha a pressão controlada. Se é diabético, mantenha o diabetes controlado, e assim por diante”.
Para evitar problemas no coração após ter Covid, a pessoa deve observar se está tendo dor no peito. “O Covid dá vários sintomas. Queda de cabelo, dificuldade de memória, cansaço, alterações em vários órgãos, mas uma coisa que ele não dá é dor no peito. O paciente pode ter cansaço pós-Covid. Pode ter síndrome da fadiga crônica, mas dor no peito, não”, alerta.
Se há dor no peito e febre pós-Covid, associado a cansaço, falta de ar, inchaço, o paciente não deve atribuir os sintomas ao sedentarismo ou a alguma infecção. A pessoa deve ir a uma consulta com um cardiologista, afirma o médico. “Ele vai investigar, examinar adequadamente para ver se tem alguma repercussão cardíaca. Vai pedir exames simples como eletro, ecocardiograma e talvez um raio-x de tórax”. Essas complicações cardiológicas podem acontecer até três meses após a covid-19.
“O objetivo aqui não é alarmar a população, mas informar e esclarecer. Não há necessidade de procurar um cardiologista se não tem sintomas. O mesmo para aquelas pessoas que tiveram Covid e querem retomar as atividades físicas. Se não sente nada anormal, vida normal. Mas se algo está limitando a capacidade de fazer algo que conseguia antes da infecção é extremamente importante investigar”.