‘DataToalha’ não tem valor científico, mas funciona como termômetro

DataToalha Lula e Bolsonaro
O fenômeno “DataToalha” pode até ser curioso e, definitivamente, faz parte da crônica cotidiana. Ele não é cientificamente relevante, ainda que represente um termômetro das ruas. O Diário do Estado conversou com o cientista político, consultor e especialista em marketing Ricardo Arreguy, com mais de 30 anos de experiência na carreira, para saber mais a respeito do assunto.

O que é o “DataToalha”?

“DataToalha” foi uma maneira informal que as pessoas encontraram para denonimar uma espécie de disputa presidencial extraoficial entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL). Nessa disputa, o que está em jogo é a quantidade de toalhas vendidas com o rosto de cada candidato. Aquele que vender mais, fica na frente da “pesquisa”. O sistema viralizou.

A pesquisa informal vale de algo?

Em primeiro lugar, Ricardo Arreguy explica que, em qualquer pesquisa, sempre haverá uma margem de erro. No entanto, é necessário entender a diferença entre uma pesquisa com metodologia científica e aquela que se assemelha a uma enquete.

Na pesquisa científica, há como controlar os elementos da amostra, com representação de partes da sociedade em dimensões pequenas. Nesse caso, é possível ter controle da amostra e obter resultados probabilisticamente relevantes, com valor estatístico real. É uma probabilidade que assegura uma representação fiel do universo. Não é o que ocorre no DataToalha.

“É um processo semelhante a de uma enquete. Na enquete, ela gera resultados definidos pelo ato espontâneo do pesquisado. Manifesta-se quem quer, então não tem valor científico propriamente dito. Entretanto, é bastante utilizado porque serve como termômetro”, analisa.

Se, por exemplo, eleitores de direita começarem a se interessar por uma enquete específica, provavelmente começarão a viralizá-la entre si mesmos. Ao descobrir, a esquerda iniciará uma espécie de corrida para ver quem consegue mais expressividade. Por esse motivo, uma enquete jamais representará a opinião reinante do universo.

Um termômetro interessante

Na Avenida Olinda, em Goiânia, nas proximidades da Alego, José Henrique começou a vender toalhas de Lula e Bolsonaro há cerca de duas semanas. Perguntado sobre qual candidato está vendendo mais, José Henrique não quis se comprometer. “É um empate. Se fosse DataFolha, seria empate técnico”, brinca.

Segundo o homem de 52 anos, até hoje não houve nenhum tipo de animosidade, apesar dos nervos à flor da pele dos cidadãos a dois meses das Eleições. “Um mercador de esquina conhece muito bem a temperatura do público”, comenta Ricardo Arreguy.

Além disso, o cientista político ainda acrescenta que não dá para concluir que a venda de toalhas pode vir a influenciar algum eleitor. “Quem já gosta, pode reforçar. Quem não gosta, tende a se irritar mais”, pontua.

Na sua visão, o DataToalha é um termômetro interessante. Um observador atento pode enxergar uma tendência de mudança de opinião em uma determinda região. No entanto, outros meios são mais relevantes nessa questão de influência.

“As pessoas se informam sobre política para fundamentar suas opiniões. Isso se dá muito em função dos meios de comunicação e, mais recentemente, da Internet e das redes sociais, especialmente WhatsApp e meios de comunicação pessoal. A grosso modo, é por aí que se forma opinião pública a respeito de política. Logicamente, a paisagem também influencia, mas eu não diria que há algo decisivo”, conclui.

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BYD cancela contrato com empreiteira após polêmica por trabalho escravo

Na noite de segunda-feira, 23, a filial brasileira da montadora BYD anunciou a rescisão do contrato com a empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., responsável pela construção da fábrica de carros elétricos em Camaçari, na Bahia. A decisão veio após o resgate de 163 operários chineses que trabalhavam em condições análogas à escravidão.

As obras, que incluem a construção da maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, foram parcialmente suspensas por determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia. Desde novembro, o MPT, juntamente com outras agências governamentais, realizou verificações que identificaram as graves irregularidades na empresa terceirizada Jinjiang.

Força-tarefa

Uma força-tarefa composta pelo MPT, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), resgatou os 163 trabalhadores e interditou os trechos da obra sob responsabilidade da Jinjiang.

A BYD Auto do Brasil afirmou que “não tolera o desrespeito à dignidade humana” e transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região. A empresa reiterou seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, especialmente no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores.

Uma audiência foi marcada para esta quinta-feira, 26, para que a BYD e a Jinjiang apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e negociem as condições para a regularização geral do que já foi detectado.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que sua embaixada e consulados no Brasil estão em contato com as autoridades brasileiras para verificar a situação e administrá-la da maneira adequada. A porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, em Pequim, destacou que o governo chinês sempre deu a maior importância à proteção dos direitos legítimos e aos interesses dos trabalhadores, pedindo às empresas chinesas que cumpram a lei e as normas.

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