Eles já são quase 15% da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a tendência é ocupar ainda mais espaço na sociedade. Os idosos compõem um grupo que exige atenção, cuidado e paciência. O diagnóstico de algumas doenças em pessoas de faixa etária demanda a contratação de profissionais específicos e especializados, a exemplo de cuidadores de idosos. O mercado está em crescimento para atender a demanda cada vez maior das famílias.
A dificuldade em lidar com o familiar por limitações emocionais, comportamentais ou mesmo de tempo devido ao trabalho torna a função de cuidar de um idoso o ganha pão de muitos goianos. A ex-empregada doméstica Eliane Maria está na área há pouco tempo e não se arrepende. Ela afirma ter se “descoberto” na profissão, mas a atividade também evidenciou problemas que ela nunca havia imaginado.
“O meu primeiro trabalho foi com um senhor de 82 anos que tinha ELA, a Esclerose Lateral Amiotrófica. Fiquei lá por seis meses. Nos três primeiros eu senti muita dificuldade, mas consegui me adaptar. Nos demais, eu tive problemas com a família em relação ao salário combinado e exaustão. O senhor de quem eu cuidava insistiu que somente eu cuidasse dele porque gostou do meu trabalho”, afirma.
Com o desgaste físico e mental, Eliane pediu aos parentes que contratassem outros cuidadores para que houvesse rodízio entre os profissionais. Ela percebeu que algumas atividades da rotina recaiam exclusivamente sobre ela e que algumas das pessoas nem sempre davam a atenção necessária ao paciente, além de receber menos que os outros integrantes da equipe, segundo ela.
Depois da experiência, ela realizou um curso profissionalizante e conseguiu muitas outras oportunidades. Ela afirma que indicaria a profissão, que considera linda e gratificante. “Eu mesmo estou aprendendo muito. Paciência é imprescindível até porque cada paciente é diferente, tem as suas manias..”, diz.
A categoria convive com o amadorismo e a qualificação técnica de pessoas que ingressam no segmento por falta de opção de emprego. A falta de conhecimento aliada à ansiedade das famílias faz com que cuidadores despreparados assumam a responsabilidade do cuidado com idosos, principalmente quando o diagnóstico é de patologias que causam declínio cognitivo e funcional. A geriatra Jacqueline Cássia alerta para os erros mais comuns dos profissionais.
“Várias doenças causam limitações em idosos. Podemos citar as demências, sendo a doença de Alzheimer a mais comum, que pedem aumento da demanda familiar ou de um cuidador. Esse profissional é a pessoa que passa mais tempo com o idoso. Eles costumam falhar ao não deixar que o idoso se movimente, na atenção inadequada à qualidade da alimentação, ao não respeitar o tempo desse paciente nas refeições e ao não incentivar a ingestão de água”, detalha.
Jeitinho
Foi justamente o medo que incentivou a chef de cozinha Alessandra Castro a solicitar a uma vizinha da mãe com 87 anos que ficasse com a idosa durante o dia. A correria do trabalho e a vontade de manter a convivência, ao menos durante à noite, a fizeram optar pelos serviços da mulher que não tinha experiência na área. Apesar do diagnóstico recente de Alzheimer, os cuidados não foram alterados por causa da doença.
“Eu confio nela e minha mãe também. Nós três já nos conhecíamos há anos, então foi uma situação favorável para todos: a cuidadora não tinha emprego, eu preciso trabalhar e minha mãe quer companhia. Não sei como será quando a doença progredir. Talvez tenhamos que levá-la para um espaço voltado somente para idosos porque sei que o cuidador precisa ter noção do que fazer e como agir. Uma das consequências da demência é a irritação, então é preciso saber lidar com esse idoso”, diz.
Reconhecimento legal
Os embates legais para a regulamentação da profissão esbarram na disputa por espaço de outros nichos. Um projeto de lei chegou a ser vetado pelo presidente Jair Bolsonaro, mas um outro tramita no Senado Federal, apesar de enfrentar relutância dos enfermeiros. A categoria alega que parte das atribuições descritas no texto são específicas desses profissionais.
Cuidado em casa e fora dela
No cenário em que um dia de trabalho de cuidadores custa pelo menos R$ 130 e a noite R$ 150, os centros dia ganham espaço em Goiânia. É uma espécie de creche onde os parentes deixam os idosos em horário comercial enquanto trabalham e buscam no final da tarde para o convívio familiar à noite.
Funciona como um espaço para socialização com outros idosos, troca de experiências, realização de atividades ocupacionais e assistência especializada. Em um desses locais pesquisados pela reportagem do Diário do Estado, o período de 12 horas custa R$ 160, incluindo alimentação, banho e atividades, como fisioterapia, hidroterapia, musicoterapia e psicopedagogia.
A rede pública oferece opções para as famílias que não podem arcar com os gastos extra com os idosos. A capital tem um Centro de Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (CRASPI), sob responsabilidade da Prefeitura no setor Cidade Jardim, no qual há iniciativas de promoção de saúde, assistência e reabilitação para manter a autonomia e independência dessa população.
Instalada na Vila Mutirão, a Casa do Idoso – Lar para idosos independentes assiste esse público por meio do atendimento integral em parceria com a Estratégia da Saúde da Família. O governo de Goiás oferece ao idoso morador serviços nas áreas social, psicológica, médica, fisioterapia, terapia ocupacional, enfermagem, nutrição e odontológica.
A geriatra chama atenção para a necessidade de verificar a vida pregressa do profissional e de checar informações da instituição onde se pretende hospedar o idoso, seja centro dia ou longa permanência. Especificamente no caso de contratação de um cuidador, Jacqueline sugere verificar o nada consta do candidato, conferir as referências, fazer entrevista e instalar câmeras de monitoramento.
“Contratar um cuidador de idoso é uma decisão de extrema responsabilidade. Afinal, você estará depositando nas mãos de terceiros, a segurança física e mental de uma pessoa idosa. Além disso, é de extrema importância a formação profissional para a contratação de um cuidador. Também é de extrema importância que a família participe dos cuidados porque é um momento de carinho entre o idoso e o familiar e de fortalecimento de vínculos”, esclarece.