Usar celular, computador ou tablet por horas é um hábito de milhares de pessoas em todo o mundo diariamente. A maioria delas utiliza os aparelhos para o trabalho, mas as crianças enxergam uma opção de lazer que está custando a saúde ocular.
A miopia está se tornando uma epidemia, principalmente entre elas. Cerca de 70% dos médicos entrevistados em um estudo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) notaram o panorama entres os menores de idade pelo excesso de telas.
A média geral de tempo focado nos smartphones aumentou 45% entre 2019 e 2021, conforme um levantamento da Annie Intelligence. O público infantil, entre 7 e 9 anos de idade, teve um índice parecido após a pandemia. A proporção de pequenos que ficavam três ou mais horas com o equipamento era 30% e foi para 43%, segundo a Panorama Mobile Time/Opinion Box.
O oftalmologista Bruno Rodrigues explica que a literatura médica tem registrado aumento de casos de crianças com o distúrbio, que afeta a visão nítida de longe. O erro refrativo ocorre com o uso excessivo de telas porque os aparelhos ficam próximos aos olhos durante muito tempo e exige esforço constante de acomodação ocular pelo músculo dos olhos para “capturar” a imagem.
“No caso dos adultos, as alterações são cansaço visual e olho seco. É que passamos a piscar menos, o que dificulta a renovação do canal lacrimal. Os óculos de filtro de luz azul estão na moda para tentar coibir a tendência. Teoricamente, o comprimento de luz azul emitido por telas seria mais prejudicial aos olhos. Nenhuma evidência científica, no entanto, comprova que o uso desse recurso traga benefícios para a saúde ocular”, diz o especialista.
Os sintomas de anormalidades incluem dor de cabeça, sensação de cansaço visual, sensação de coceira nos olhos e sensação de olhos arranhando, olho seco, vermelhidão, embaçamento visual ao final do dia, flutuação da visão e alteração do sono.
O brilho das telas, especialmente à noite, pode desregular o chamado ciclo circadiano, responsável pela variação nas funções biológicas em 24 horas, e a produção da melatonina, o hormônio do sono.
“É preciso estimular práticas ao ar livre e práticas esportivas para que a criança trabalhe mais a visão de longe em ambientes com iluminação solar. Isso evita o aparecimento e progressão da miopia e ajuda no desenvolvimento normal da visão. A estratégia para as pessoas mais velhas terem relaxamento da visão seria olhar para longe através de uma janela, observando e piscando mais, por exemplo”, sugere Bruno.
A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria para as crianças é que as crianças de até dois anos não sejam expostas à telas. Entre dois a cinco anos de idade a sugestão é limitar em apenas uma hora por dia. Para aquelas entre seis e dez anos, o ideal seriam duas horas por dia.
Para os adultos, o ideal são pausas ao longo da rotina diária. As consultas oftalmológicas anuais para avaliar a saúde ocular também são importantes, inclusive para verificar a necessidade de uso de óculos e identificar outras possíveis doenças.