O Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, capital de Portugal, foi construído no começo do século 16 pela monástica Ordem de São Jerônimo – daí o nome, inclusive – durante o reinado de Dom Manuel I. O reino português tinha acabado de ganhar relevância na Europa por causa da riqueza gerada pelos novos negócios na África e na Ásia. Foi o fluxo constante dessa bonança que permitiu a construção e ornamentação do que hoje é um dos principais cartões-postais do país.
O Mosteiro dos Jerónimos foi construído perto do lugar onde o navegador e explorador português Vasco da Gama saiu pela primeira vez em direção à Índia, em 1497. Segundo a história, ele e seus navegantes mais próximos passaram as noites anteriores à expedição ali, realizando uma pequena missa na Ermida do Restelo, a capela que ficava no lugar onde hoje está o palácio.
Ao contrário de quase toda a cidade de Lisboa, a construção passou ilesa pelo terremoto que destruiu quase todos os prédios em novembro de 1755. Na ocasião, o sismo não apenas colocou abaixo os principais templos da capital portuguesa como foi sucedido por tsunami que arrastou boa parte da parte baixa da cidade, onde ficava o Paço Real.
O mosteiro é o exemplo mais bem preservado de um estilo arquitetônico autenticamente português – incomum, assim, em qualquer outro lugar da Europa: chamado de “manuelino”, depois da ascensão de Dom Manuel. É uma mistura de elementos góticos, islâmicos e da Renascença. Em 1983, por causa disso, o castelo foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Foi naquela época que Portugal desenvolveu também uma filosofia arquitetônica própria, chamada “plateresco”, ou “filigrana de prata”, cuja expressão material é o trabalho em pedra e madeira com que as igrejas foram decoradas. Hoje, muitos templos católicos ainda utilizam essa técnica, se valendo de massa de madeira para formar e fixar os altares, por exemplo.
No caso do mosteiro, a técnica funcionou bem com o estilo gótico, que vivia seu período final e ia sendo substituída, no século 16, pelas ideias renascentistas. “Era uma arquitetura dramática, bem ornamentada, elegante. Os pedreiros medievais tornaram-se mestres nessa época, já que não eram mais desafiados por problemas estruturais, e já conseguiam trabalhar muito bem com pedra”, explica o arquiteto Horácio Oliveira.
A entrada do Mosteiro dos Jerónimos é um caso à parte: os arcos arredondados da porta principal indicam um retorno à arquitetura greco-romana, com uma profusão de detalhes em pedra que lembram o gótico, enquanto tudo o que é talhado nos personagens tem a cara do plateresco.
As formas geométricas são uma referência ao estilo mouro, que dominaram a península ibérica por séculos.
Segundo especialistas, o que diferencia o estilo “manuelino” é justamente a síntese de todas essas influências distintas – mas com um outro elemento muito próprio de Portugal do século 16: os temas marítimos. Naquela época, símbolos da navegação portuguesa pelo mundo começaram a aparecer também nas construções do reino, como criaturas do mar, navios, cordas, bússolas e algas marinhas talhadas em paredes, arcos e colunas das igrejas e castelos.
“O Mosteiro dos Jerónimos representa, de alguma forma, um dos últimos grandes momentos do gótico, dramático, com excesso de detalhes, profundamente atmosférico, embora tudo aquilo estivesse perto de ser suplantado pela elegância do estilo renascentista”, reflete Oliveira.
Para quem estiver em Lisboa e desejar conhecer o mosteiro, a entrada é gratuita, mas alguns passeios são pagos. Para conhecer o Clausto, por exemplo, o ingresso custa 10 euros, dando direito também à entrada na Torre de Belém, famoso cartão-postal que fica na praça adjacente.
O tour completo, com guia, pelo mosteiro e pela torre, custa 26 euros.
Do ponto de vista geográfico, a construção não fica tão perto da região central. Como os turistas costumam ficar nos bairros de Chiado, Alfama ou Baixa, o ideal é ir até o Cais do Sodré e, então, tomar o bonde 15E, no sentido Algés (Jardim), percorrendo 13 paradas até Mosteiro dos Jerónimos. É um passeio interessante, já que é feito por meio dos veículos tradicionais de transporte público da cidade.