Um levantamento confirmou o que muitas pessoas já notaram: os casais goianos preferem cada vez mais manter inalterados os sobrenomes após o matrimônio heteroafetivo. Entre 2021 e 2022, a prática alavancou em 15% nos cartórios do estado. A burocracia, o custo e a manutenção do vínculo após um possível divórcio afastam as pessoas de adotarem a prática permitida para ambos os sexos desde o novo Código Civil de 2002.
Os dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) também revelam tendência na última década de queda para mudança na documentação dos dois cônjuges e redução do número de homens que aceitar incluir o sobrenome da família da esposa. As alterações jurídicas relacionadas aos assunto foram adotadas para garantir a igualdade de gênero, mas não parecem ter se popularizado.
A jornalista Samantha Souza optou por permanecer apenas com o sobrenome de família na certidão de casamento. De acordo com ela, a prática tem raízes no machismo, já que foi criada como uma espécie de transmissão de posse da mulher do pai para o marido. “Eu não sou propriedade de ninguém. Expliquei ao meu esposo, que aceitou com meu posicionamento. Isso não faz diferença para ele”, disse.
Na perspectiva da universitária Cleoh Souza, a alteração sinaliza um passado de repressão às mulheres, mas ela se valeu da chance de assumir um novo sobrenome para homenagear o sogro. “O pai do meu esposo não tem pais ou parentes além do meu marido. Quis fazer a inclusão para que ele entendesse que nos tornamos uma só família. A questão foi realmente muito simbólica dentro desse contexto”, considera.
Legalmente, a emissão da certidão de casamento com nome diferente do que consta no registro de nascimento exige atualização de todas demais documentos pessoais. A lista é extensa e inclui a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), Registro Geral (RG), Carteira Nacional de Habilitação (CNH), Título de Eleitor e Passaporte. Além disso, a pessoa precisa renovar o cadastro bancário, registros imobiliários e no local de trabalho.