Condenação de Lula é confirmada em 2ª instância

O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi condenado por unanimidade, em segunda instância, há 12 anos e um mês de reclusão, por corrupção ativa e lavagem de dinheiro pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, em Porto Alegre. A 8ª turma do TRF é avaliada por especialistas como uma banca severa e punitiva. De 24 sentenças julgadas em quatro anos de Lava Jato, apenas quatro, tiveram parecer de absolvição.

O primeiro a votar foi o relator do processo, desembargador João Pedro Gebran Neto, que votou favoravelmente pela condenação e aumentou a pena de 9 anos e 6 meses, proposta por juiz federal Sérgio Moro, para 12 anos e um mês de reclusão. O revisor, desembargador Leandro Paulsen, foi favorável ao voto de Gebran Neto, alegando que diante dos fatos investigados não há dúvidas do envolvimento do ex-presidente em atos de corrupção e recebimento de propinas. “Não há dúvidas de que o triplex foi reformado para Lula, nem de que ele tinha conhecimento e coordenava todo o processo de distribuição de dinheiro ilícito”, citou durante explanação do voto. Por último, o desembargador Victor dos Santos Laus, fez questão de esclarecer que o julgamento esgotou a matéria dos fatos e que o tribunal não vota pessoas, vota fatos. “A Constituição não é a favor, nem contra ninguém. É um instrumento de fazer valer os direitos e deveres de todos os cidadãos.”

Apesar da condenação, Lula não será preso imediatamente, porque a defesa do ex-presidente deve recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de reverter a situação. Legalmente, os recursos não foram esgotados, e decisão pela condenação não impede o registro da candidatura de Lula à Presidência da República, nem de manter a campanha ativa enquanto houver recurso pendente. Após a finalização do processo, caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a decisão sobre a inelegibilidade ou não, de Lula.

Para o jornalista e comentarista político Valdo Cruz, a estratégia da defesa dependerá da morosidade ou celeridade do judiciário para votar os recursos. “O cenário político brasileiro começa a ser definido hoje. Considerando que Lula não está fora do “páreo” das eleições, partidos de situação e centro devem rever seus pré-candidatos”, analisa.

Foram citados como réus no processo, porém absolvidos, o ex-presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, e os executivos da OAS, Paulo Roberto Gordilho, Fábio Hori Yonamine e Roberto Moreira Ferreira. Além de Lula, foram condenados também o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro (condenado há três anos e seis meses, em regime semiaberto) e o executivo da OAS, Agenor Medeiros (condenado a seis anos de reclusão).

ACUSAÇÕES DOS DESEMBARGADORES:

1- Lula recebeu propina da empreiteira OAS na forma de um apartamento triplex no Guarujá;

2- A propina foi oriunda de um esquema de corrupção na Petrobras;

3- O dinheiro saiu de uma conta da OAS que abastecia o PT em troca de favorecimento da empresa em contratos na Petrobras;

4- Embora não tenha havido transferência formal para Lula, o imóvel foi reservado para ele, o que configura tentativa de ocultar o patrimônio (lavagem de dinheiro);

5- Embora possa não ter havido “ato de ofício”, na forma de contrapartida à empresa, somente a aceitação da promessa de receber vantagem indevida mediante o poder de conceder o benefício à empreiteira já configura corrupção;

6- os fatos investigados na Operação Lava Jato revelam práticas de compra de apoio político de partidos idênticas às do escândalo do mensalão;

7- O juiz Sérgio Moro – cuja imparcialidade é contestada pela defesa – era apto para julgar o caso.

ALEGAÇÕES DA DEFESA:

1- Lula não é dono do apartamento;

2- Não há provas de que dinheiro obtido pela OAS em contratos com a Petrobras foi usado no apartamento;

3- Que, de acordo com essa tese, Moro, responsável pela Lava Jato, não poderia ter julgado o caso;

4- Que o juiz age de forma parcial;

5- Que Lula é alvo de perseguição política.

Patrícia Santana

Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp

Indiciado, Bolsonaro diz que Moraes “faz tudo o que não diz a lei”

Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF), o ex-presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta na rede social X, nesta quinta-feira (21), trechos de sua entrevista ao portal de notícias Metrópoles. Na reportagem, ele informa que irá esperar o seu advogado para avaliar o indiciamento. 

“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, disse o ex-presidente.

Bolsonaro também criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF). “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, criticou Bolsonaro.

Bolsonaro é um dos 37 indiciados no inquérito da Polícia Federal que apura a existência de uma organização criminosa acusada de atuar coordenadamente para evitar que o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin, assumissem o governo, em 2022, sucedendo ao então presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições presidenciais.

O relatório final da investigação já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Também foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos; o ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin) Alexandre Ramagem; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.

Na última terça-feira (19), a PF realizou uma operação para prender integrantes de uma organização criminosa responsável por planejar os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.

Receba as notícias do Diário do Estado no Telegram do Diário do Estado e no canal do Diário do Estado no WhatsApp