A lista de pessoas à espera de doações de órgãos ficou ainda maior na pandemia. A resistência das famílias em autorizar a captação é um dos maiores obstáculos para garantir sobrevida a pacientes que aguardam o fim da angústia de recorrentes tratamentos dolorosos. Em Goiás, o esforço de profissionais pela conscientização das famílias que perdem entes queridos fez do Hugol um dos maiores centros de distribuição de órgãos no Brasil, inclusive pediátricos.
Em 2022, as doações do hospital ajudaram a melhorar a qualidade de vida e salvar 90 pacientes em todo o Brasil. Na semana passada, a equipe assistencial da unidade homenageou uma criança que teve a captação permitida pelos pais. O garoto de 2 anos de idade teve a morte encefálica diagnosticada e teve rins e fígado destinados para o Rio Grande do Sul e para Minas Gerais, respectivamente. No trajeto do corpo até o centro cirúrgico, o menino recebeu uma salva de palmas de funcionários do Hugol.
O rim, o fígado e córneas de um homem de 38 anos também foi captado no mesmo dia no Hospital Estadual de Formosa e encaminhado para quatros pacientes de Pernambuco, Distrito Federal e Goiás. A média mensal do procedimento em Goiás varia, porém, os dados indicam 11 transplantes renais por mês. Entre janeiro e novembro de 2021, Goiás registrou 105 transplantes, número 4,5 vezes menor do que o líder no ranking nacional, São Paulo, com 476.
A gerente de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Katiúscia Freitas, explica que a doação pediátrica segue uma fila de transplantes nacional.“Atualmente no país, cerca de mil crianças estão na fila aguardando um transplante. Diante da dificuldade nacional em ter doadores de órgãos, a doação pediátrica é ainda mais incomum. O preparo da equipe e o acolhimento da família nesse processo é fundamental para auxiliar na decisão da família”, destaca.
A médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hugol, Teresa Cristina Godinho, destacou que a escassez de órgãos disponíveis para transplantes é um desafio constante na medicina. “A doação transcende fronteiras e diferenças, unindo pessoas em um ato de altruísmo e generosidade. Como médica, incentivo a todos a refletirem sobre a importância da doação de órgãos”, reforça.
Por lei, o consentimento dos familiares é a única forma de autorizar o procedimento. Assim, mesmo com documento expresso do desejo, a pessoa falecida não poderá ter os órgãos doados se não houver aprovação da família. Dessa forma, a retirada de órgãos de indigentes também é proibida, sob pena de reclusão por dois a seis anos.
Múltiplos beneficiados
De um doador é possível obter vários órgãos e tecidos para realização do transplante. Podem ser doados rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos e tendões. Com isso, inúmeras pessoas podem ser beneficiadas com os órgãos e tecidos provenientes de um mesmo doador. O Brasil é referência mundial na área de transplantes e possui o maior sistema público de transplantes do mundo.
Em números absolutos, o País é o segundo maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A rede pública de saúde nacional fornece aos pacientes assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.