Especialistas traçaram um novo perfil de pessoas que estão fazendo a população de rua de Goiânia crescer. Segundo o delineamento, seriam majoritariamente homens, desempregados, que não conseguem pagar aluguel e não possuem familiares para recorrer.
Se considerados os últimos três anos, o membro do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Denis de Oliveira, relata ter percebido um aumento da quantidade de pessoas morando nas ruas. Segundo ele, o crescimento começou durante a pandemia da covid-19, uma vez que muitas pessoas que tinham emprego e viviam de aluguel ficaram desempregadas e sem condições de se sustentarem.
Denis diz que as ações do poder público a favor dessa população não são proporcionais ao crescimento. “O Centro Pop [Centro de Referências Especializado para a População em Situação de Rua] era para ser um local de instrução para que essas pessoas consigam um trabalho e saiam da rua. Na prática, basicamente só fornecem alimentação”, frisa.
O arquiteto e urbanista Rafael Tavares também vem acompanhando a população de rua da grande capital goiana durante os últimos dois anos. Em uma análise quase que diária para realizar uma pesquisa, o profissional afirma que o aumento da população não acontece exclusivamente em Goiânia, mas resulta de um processo de empobrecimento generalizado. “Vemos casos em que famílias inteiras vão para as ruas. Este é um perfil diferente do que tínhamos antes, como usuários de drogas e homossexuais expulsos de casa”, aponta.
Relacionado à análise de Denis sobre a pandemia, Rafael também diz que a falta de dados oficiais atualizados sobre o tamanho da população de rua após a covid-19 impede que as políticas públicas sejam desenvolvidas. De acordo com ele, o esvaziamento de dados é um método para manter a extensão do problema no sigilo e, assim, o poder público não precisa resolver a situação. Denis, por sua vez, concorda que não existem políticas públicas eficazes, mas que pelo menos há um trabalho assistencial de qualidade realizado por organizações filantrópicas.
Novos dados
A previsão é que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs) atualize os dados referentes à população de rua na capital goiana ainda em 2023. Por meio de nota, a pasta informou que uma equipe de trabalho para realização da atividade já está sendo organizada. O objetivo, segundo eles, é atualizar quantificadores e qualificadores dessas pessoas na Comarca de Goiânia.
O último Censo feito foi apenas em 2019, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Criminalidade e Violência (Necrivi), juntamente com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e apontou que haviam cerca de 1,2 mil pessoas em situação de rua em Goiânia.