A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), se dá em decorrência da ingestão de álcool durante a gravidez e amamentação. Apresenta diversas manifestações durante a formação do bebê e também após o nascimento, desde malformações congênitas faciais, neurológicas, cardíacas e renais, até alterações comportamentais.
Já há comprovação científica de que a exposição pré-natal a qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica pode acarretar problemas graves e irreversíveis ao bebê. Eles podem revelar-se logo ao nascimento ou mais tardiamente e perpetuam-se pelo resto da vida. A frequência dessas implicações varia conforme etnia, genética e até mesmo a quantidade ingerida. Isso não significa que todos os bebês expostos serão afetados, mas a probabilidade é alta.
Dra. Cárita Rosa, ginecologista e obstetra em Goiânia explica que “os bebês costumam apresentar má formação na face, como o lábio leporino, defeitos no palato, o maxilar pequeno. Além dos defeitos cerebrais como a microcefalia, que pode acarretar distúrbios na alteração da coordenação motora, retardo mental, dificuldades de aprendizado, memorização e atenção. Também pode contribuir para que essa criança se torne um adulto alcoólatra.”
Quanto à prevenção, Dra. Cárita explica que trata-se de uma patologia que é 100% evitável, porque basta restringir a ingestão de álcool durante o período da gravidez e amamentação. Há um mito que a ingestão de cerveja preta aumenta o leite das mamães, “isso não é verdade, é danoso, é deletério para a criança e tem que ser desencorajado. Pode comprometer a criança de forma irreversível. É uma síndrome muito complicada e a única maneira de evitar é que as mães não bebam, nem antes nem depois do parto. Portanto, a prevenção torna-se o tratamento”, esclarece.
É importante ressaltar que não existe cura para a SAF. O que se pode fazer é minimizar danos, em alguns casos. “Crianças que desenvolvem problemas na cognição, podem ter uma acompanhamento na primeira infância, com um fonoaudiólogo, por exemplo. Porém, nas alterações da formação cerebral, não há o que fazer”, complementa.
Na estatística mundial, a SAF contabiliza, de meio a dois casos para cada mil nascidos vivos. Ainda segundo a Dra. Cárita Rosa, “é um número muito importante, porque representa que é mais comum um bebê ter a SAF do que a Síndrome de Down.”
Leis
Em alguns estados do país já há leis aprovadas que implementam medidas para conscientização sobre a Síndrome Alcoólica Fetal. Em Goiânia, a lei foi aprovada em outubro de 2015 e prevê “ a Semana Municipal de Conscientização sobre a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), a ser incluída no Calendário Oficial Municipal e celebrada anualmente, entre os dias 09 (nove) e 15 (quinze), do mês de setembro, no Município de Goiânia”, segundo o estatuto de Leis Municipais.
O objetivo da legislação é combater a desinformação, possibilitando que as futuras mães saibam os riscos a que estão expondo seus bebês. “Durante a gestação, mulheres que consomem bebida alcoólica estão mais sujeitas a ter parto prematuro, aborto ou morte do bebê. Portanto, a conscientização das mulheres gestantes e lactantes é essencial, para que fique claro que não se tem a quantidade mínima de consumo de álcool que não ofereça risco ao bebê”, afirma a doutora.
Estudos
Um recente estudo divulgado nos Estados Unidos, realizado com cerca de 14 mil crianças filhas de mães que beberam durante a gravidez, traz resultados assustadores e já está mudando os protocolos de ação dos médicos.
As crianças de San Diego e outras três cidades americanas foram acompanhadas durante anos e suas mães entrevistadas. Deste grupo, somente duas tinham diagnóstico inicial de Síndrome Alcoólica Fetal. No entanto, após a pesquisa, concluiu-se que 222 eram portadoras da SAF.
Os médicos dos Estados Unidos já estão orientando as mães a não ingerir uma só gota de álcool, seja de qual bebida for, não apenas durante a gestação, mas a partir do momento em que decidem engravidar. O álcool atravessa a placenta e isso pode gerar transtornos irreversíveis.
Um outro estudo, realizado no Hospital Municipal Maternidade-Escola de Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, com 2 mil mães no período pós parto apontou que 33% bebiam mesmo esperando um bebê. O mais grave: 22% consumiram álcool até o dia de dar à luz.