A publicação goiana consolidou-se como a mais importante publicação da internet no segmento cultural no Brasil
Considerada uma das publicações mais importantes do jornalismo cultural brasileiro, a goiana “Revista Bula” completa 15 anos este mês. Criada em 2003, em Goiânia, por um grupo de professores, jornalistas, publicitários e escritores, ela está no seleto grupo dos 100 maiores blogs e portais com foco em jornalismo cultural em todo o mundo, comparando-se em audiência a publicações de grande peso internacional, como “Flavorwire”, “Los Angeles Review of Books”, “Publisher’s Weekly” e “TLS — Times Literary Suplement”. São mais de 3 milhões de usuários únicos mensais, somando dados do portal R7 (Rede Record de Televisão), onde está hospedada desde 2012, aos do Instant Articles, do Facebook e do Google Analytics. O número de assinantes também chama atenção: são 155 mil usuários, espalhados por 22 países.
Além de consolidar-se como referência para o jornalismo cultural em termos de conteúdo, a “Revista Bula” também se transformou em uma das publicações mais populares das redes sociais no Brasil: só no Facebook são 2 milhões de seguidores.
Apesar de ter entrado no ar apenas no início dos anos 2000, o projeto foi iniciado anos antes. “Quando criamos o primeiro projeto daquilo que se tornaria a ‘Revista Bula’, em 1998, a internet era apenas um vilarejo, uma novidade cara que assustava, encantava e desconcertava as pessoas. Entre idas e vindas, a ideia consolidou-se em fevereiro de 2003, no contexto da difusão do uso das redes sociais no Brasil. De lá para cá o portal atravessou diversas fases, introduzimos mudanças, fizemos algumas concessões editoriais e angariamos centenas de colaboradores — dos mais díspares perfis e tendências”, afirma o jornalista Carlos Willian Leite no livro “Os Melhores Textos da Bula”, publicado em 2017 pela editora paulista Ex Machina.
Entre os nomes que ajudaram a escrever a história da revista estão personalidades dos meios jornalístico e literário, com destaque para Edson Aran, Miguel Sanches Neto, Carlos Castelo, Alex Sens, Rafael Theodor Teodoro, Nilto Maciel, Carlos Augusto Silva, Adelto Gonçalves, André J. Gomes, Euler de França Belém, Eberth Vêncio, Lara Brenner, Marcelo Franco, Nei Duclós, Flávio Paranhos, Ademir Luiz, Karen Curi e Rebeca Bedone, além de dois ganhadores do Prêmio Jabuti — espécie de Oscar da literatura brasileira —: o goiano Edival Lourenço e o paulista Menalton Braff.
Em 15 anos, a Revista Bula publicou mais de 11 mil textos sobre os mais variados temas, divididos entre estudos críticos, entrevistas, ensaios, perfis biográficos, crônicas e listas. A vasta produção se estendeu ainda para quatro livros, que reúnem textos publicados pelo veículo em diferentes períodos. Em 2014 foi publicado, pela editora Nova Alexandria, o “Manifesto Pela Ocupação Amorosa Dos Corações Vazios”, de André J. Gomes, reunindo textos publicados na “Revista Bula” entre 2012 e 2014. Em 2015, pela editora Ex Machina, foi publicado o livro “Animal Sinistro”, de Edival Lourenço, reunindo ensaios publicados entre 2004 e 2015. Em 2017 foi publicado o livro “Os Melhores Textos da Bula”, pela editora Ex Machina, reunindo crônicas e ensaios publicados entre 2010 e 2015. Em 2018, pela Editora Caminhos, foi publicado o livro “Bipolar”, de Eberth Vêncio, reunindo crônicas publicadas entre 2005 e 2015.
Longevidade e referência
Perguntado sobre qual o segredo para se tornar uma referência em um terreno tão vasto e disputado como a internet, na qual sites nascem e morrem aos milhares diariamente, o editor responde: “Quando iniciamos o projeto, pensávamos que deveríamos publicar apenas aquilo que tivesse qualidade acima da média. Com o tempo fomos percebendo que só seria possível ter retorno financeiro e, consequentemente, manter o projeto, se fizéssemos concessões editoriais. Fizemos e descobrimos que era possível publicar textos mais, digamos, medianos, sem ter que vulgarizar nosso conteúdo. Esse talvez seja o dilema do jornalismo cultural: não adianta publicar para ninguém ler. Os anunciantes, que sustentam o jornalismo, querem mais do que bom conteúdo: querem um Google Analytics com audiência significativa”, afirma, e, conclui: “Não adianta você ter o melhor conteúdo do mundo se ninguém souber que ele existe”.