Uma mulher de 32 anos, que reside em Cariacica, no Espírito Santo, expôs uma situação de discriminação que sofreu durante uma seleção para uma vaga de emprego. Pelo Linkedin, Samara Braga publicou prints da conversa com o recrutador, que se atrasou três horas para a entrevista.
Os prints foram publicados juntamente com uma legenda que dizia “isso aconteceu comigo e ainda estou sem acreditar que exista profissional assim. Não é o tipo de publicação que os recrutadores gostam de ver no perfil, mas é necessário compartilhar”.
Logo no início da conversa, Samara afirma estar pronta para a entrevista, às 07h51, mas não tem respostas. Ela ainda cobra respostas às 08h44. “Bom dia, Fábio. Tudo bem? Pode enviar o link que já estou aguardando”, disse.
Entretanto, o recrutador apenas se manifesta às 11h da manhã, questionando se já podem iniciar a entrevista. Em resposta, Samara diz que não conseguiria e pergunta se a conversa pode ser marcada para o final do dia. “Olá, infelizmente não consigo agora. Estava marcado para às 08h e me organizei para este horário, agora já são 11h. Teria a possibilidade de ser no final do dia?”, diz.
Então, o recrutador diz ter muitos compromissos, afirmando que não consegue transferir o horário. Da mesma forma, Samara diz que também tem compromissos e como resposta o recrutador diz que pode imaginar “a rotina de tantos compromissos de um desempregado”. A mulher então relata que estava se organizando para levar o filho para a escola e preparando um pudim que encomendaram.
“Não é porque estou desempregada que tenho que ficar disponível o dia todo. Neste momento estou organizando para levar meu filho para a escola e também estou fazendo um pudim que me encomendaram”, se defende.
Assim, o responsável pela contratação diz ser difícil contratar quem tem filhos e sugere que ela tenha prioridades. A mulher diz achar difícil trabalhar “com quem não tem compromisso e não respeita o tempo do outro”, além de dizer que estar focada em “pagar as contas e não morrer de fome”.
Aos olhos da lei
Ao jornal Diário do Estado (DE), a advogada trabalhista Carolina Cintra afirmou que, diante da situação, a mulher tem uma série de direitos previstos pela Organização das Nações Unidas (ONU), sendo eles à vida; liberdade e segurança pessoal; igualdade e estar livre de todas as formas de discriminação; liberdade de pensamento; informação e educação; privacidade; saúde e proteção desta; construir relacionamento conjugal e planejar sua família; decidir ter ou não filhos e quando tê-los; benefícios do progresso científico; liberdade de reunião e participação pública; e não ser submetida a torturas e maus-tratos.
Segundo Carolina, a atitude do recrutador foi discriminatória. “Apesar de não existir uma lei que regule como deve ser o processo de seleção de emprego, [a atitude] pode gerar dano moral”, disse.
Além disso, a advogada diz que a legislação coibi esse tipo de discriminação baseada no gênero. “Neste caso, cabe uma ação com pedido de dano moral pela discriminação comprovada pela conversa via WhatsApp. Em âmbito trabalhista, em caso de relação de trabalho/emprego, caberia uma ação de rescisão indireta pela falta grave cometida pelo empregador cumulada com indenização”, explica.
De acordo com Carolina, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê “multa por discriminação em razão do sexo ou etnia e assegura a isonomia salarial (artigo 461)”. Ela ressalta ainda que a “legislação federal também traz disposições que vedam a prática discriminatória”.
“A Lei 9.029/1995 proíbe genericamente a adoção de qualquer prática discriminatória para efeito de acesso à relação de emprego ou sua manutenção, seja por motivo de sexo, origem, ração, cor, estado civil ou idade”, relatou a advogada.
Situações parecidas
Em um segundo post na rede social, Samara agradece o apoio que recebeu dos internautas na publicação.
“Sobre meu post anterior, vi tantos relatos parecidos com o meu. O que será que passa na cabeça dessa pessoa? Será que ele imagina que alguém que esteja desempregado não tem compromissos diários? Meu filho é a minha maior motivação. Corro atrás para pagar as minhas contas e não deixar faltas nada para ele. Pessoas assim não deveriam trabalhar gerindo pessoas. Estou a cada dia mais forte e sigo em busca de uma oportunidade. Obrigada a todos pelo apoio”, escreveu.