Sob a influência de fenômenos como El Niño e as mudanças climáticas no mundo, a onda de calor que atingiu diversas regiões no Brasil é resultado de um processo que especialistas chamam de “domo de calor”. O fenômeno consiste no aprisionamento de uma grande massa de ar quente em uma região, impedindo que frentes frias e chuvas cheguem ao local.
De acordo com a pesquisadora e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Marina Hirota, à BBC Brasil, o fenômeno também é conhecido pelo termo “bloqueio atmosférico”, que se forma impedindo qualquer outro fenômeno meteorológico. Assim, a massa de ar circula verticalmente, de baixo para cima.
A especialista explica que, a isso, soma-se a pressão atmosférica que empurra essa massa em direção à superfície da Terra, como a tampa de uma panela de pressão, o que dificulta que a massa de ar quente se dissipe, pois passa por um processo de compressão, gerando ainda mais calor.
“O bloqueio atmosférico pode permanecer por vários dias. E quanto mais ele dura, mais intenso pode ficar. Mas não é comum que esse bloqueio atmosférico se prolongue por muitos dias, como está acontecendo agora“, destaca Hirota à BBC. Outro efeito desse fenômeno é a ampliação da incidência dos raios solares que, no período de primavera e verão, promove mais calor e tempo seco.
Apesar de estar bem intenso, o fenômeno não é inusitado. Ainda de acordo com a pesquisadora, o domo de calor pode acontecer naturalmente nas regiões do Sudeste e do Centro-Oeste durante o período de inverno. “Só que não há um aumento da temperatura, porque há menos radiação solar nesse período. Esses dias são costumeiramente bem abertos, frios, com bastante Sol e poucas nuvens”, conclui a pesquisadora.