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Dentista presa acusada de deformar pacientes cobrava até R$ 15 mil em cursos

Última atualização 01/02/2024 | 16:20

Presa suspeita de deformar o rosto de pacientes com procedimentos estéticos, a dentista Hellen Kacia Matias da Silva chegava a cobrar R$ 15 mil pelos cursos que ministrava ensinando técnicas que só podem ser aplicadas por médicos. É o que revelou a delegada do caso, Débora Melo.

A prisão preventiva da dentista aconteceu na terça-feira, 30, por policiais civis da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon). Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão em Goiânia e em Santa Bárbara de Goiás, município localizado na região oeste de Goiás.

“Um curso para realização de cirurgias faciais com uma carga horária de 3 dias de duração e pagando cada aluno entre R$ 10 a 15 mil”, detalhou a investigadora. Apesar da alta quantia, no contrato do curso a profissional ainda dizia que ele não era reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC).

De acordo com a polícia, quantidade de dentistas que fizeram cursos de cirurgias faciais com Hellen é bem grande. Especialmente porque são profissionais espalhados por vários estados do país. No entanto, o número exato não foi divulgado porque a Polícia Civil ainda está contabilizando os casos.

Em nota, o MEC respondeu que “é responsável por instituições e cursos de nível superior, não tendo competência sobre cursos livres” e que o “exercício da profissão é de competência do respectivo Conselho Federal”. Já o Conselho Federal de Odontologia (CFO)  não se pronunciou sobre o caso.

Defesa

As advogadas da dentista argumentam que a prisão ocorreu de maneira “arbitrária e injusta”. Elas alegam que houve confusão por parte da Justiça quanto ao procedimento realizado por Hellen, que teria descumprido uma ordem judicial de não realizar cirurgias estéticas faciais após 22 de novembro de 2023.

Ao ser detida, Hellen já tinha depoimentos de 13 vítimas e ex-funcionários, que descreveram a dentista como intolerante a críticas e negligente com os pacientes. Após a divulgação pública, mais quatro pessoas do interior do estado denunciaram a dentista, todas agendadas para depor em breve.

A polícia, ao analisar o celular da dentista, descobriu mais de 30 queixas de consumidores insatisfeitos, indicando um possível aumento nas vítimas durante a investigação. Os depoimentos e prints revelam reclamações de inflamações, cicatrizes e resultados assimétricos, destacando a realização de cirurgias estéticas proibidas fora do ambiente hospitalar, colocando em risco a integridade física dos consumidores.

Outros envolvidos

Além da profissional presa, outros três dentistas também são suspeitos de realizar os procedimentos expressamente vedados pelo Conselho Federal de Odontologia. Segundo a PCGO, os profissionais divulgavam os serviços de procedimento estéticos nas mídias sociais com valores abaixo do mercado, o que atraia um número considerável de pessoas.

Assim, a odontóloga vendia os procedimentos abertamente em suas mídias sociais, que chegavam a mais de 650 mil seguidores. Além disso, ela ministrava cursos para outros profissionais da saúde. Os cursos ensinavam a realização de cirurgias sob sua supervisão. Durante as diligências na clínica da suspeita, a polícia encontrou diversos instrumentos cirúrgicos, anestésicos e medicamentos vencidos.

Dessa forma, os agentes apreenderam os materiais encontrados e descartados pela Vigilância Sanitária. Esta, por sua vez, também autuou a dentista por infrações administrativas como inadequação do alvará sanitário do estabelecimento. Portanto, tais condições a impediria de realizar qualquer procedimento invasivo nos pacientes.

Ainda nas diligências, os policiais apreenderam também o celular usado para comunicar com os pacientes. Com isso, descobriram que vários deles estavam com o rosto deformado pelas cirurgias realizadas pela dentista ou pelos seus “alunos”.

Para investigação, a PCGO conseguiu colher declarações de mais de dez vítimas da dentista, além de ex-funcionários do instituto onde ela realizava os procedimentos. Além de proceder com as cirurgias em local inadequado, pacientes e ex-funcionários declararam que a suspeita não aceitava críticas ao seu trabalho e tratava com descaso os pacientes.