Especialistas apontam erro grave em ação da PM que resultou na morte de um estudante em São Paulo. A abordagem dos policiais militares que culminou na fatalidade foi criticada por especialistas em segurança pública, incluindo militares de alta patente. A morte de Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, após levar um tiro dentro de um hotel na Vila Mariana, zona sul da capital paulista, foi considerada um “erro significativo”, “incorreta” e “equívoco grave” pelos especialistas consultados.
Segundo José Vicente da Silva, coronel da reserva da PM e ex-secretário nacional de Segurança Pública, o fato do estudante não representar uma ameaça para os policiais descarta a justificativa para o uso de uma arma de fogo na abordagem. Os especialistas apontam que, em situações como essa, os policiais deveriam ter utilizado recursos não-letais, como gás lacrimogêneo, cassetete ou taser, para conter o jovem desarmado.
O ex-corregedor da PM de São Paulo, coronel Marcelino Fernandes, também observou “graves equívocos” na abordagem dos policiais, destacando a necessidade de uso progressivo da força e a presença de superioridade numérica na situação. Rafael Alcadipani, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Fundação Getúlio Vargas, reforça a importância de procedimentos padrão nas abordagens policiais.
A influência do comando na tropa é mencionada pelo coronel José Vicente, que atribui às autoridades responsáveis pela segurança pública paulista a orientação dada aos policiais em suas condutas. O professor Rafael Alcadipani destaca a sensibilidade dos policiais às mensagens vindas do governo, que podem impactar diretamente na forma como agem em situações de abordagem.
As condições de trabalho enfrentadas pelos policiais também são levantadas, com Alcadipani ressaltando o stress da rotina e a jornada extenuante dos agentes. O coronel José Vicente acrescenta que o policiamento preventivo tem sido deixado de lado em detrimento de abordagens mais repressivas, influenciadas por discursos políticos. Já o coronel Marcelino Fernandes alerta para o aumento da letalidade em paralelo ao crescimento das operações policiais.
O vídeo que contradiz a versão apresentada pelos PMs no boletim de ocorrência é mencionado como prova de que a abordagem dos policiais foi equivocada. As imagens do circuito interno do hotel mostram os eventos que culminaram na morte de Marco Aurélio e levaram à indiciamento dos policiais envolvidos. A SSP informou que os PMs permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das investigações, que estão a cargo das polícias Militar e Civil.