Uma vez usada, a bucha de canhão vai para o lixo. Essa é uma estratégia recorrente do presidente Jair Bolsonaro: sempre que se vê em um momento difícil, ele e seus apoiadores relembram o atentado sofrido por ele em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Naquelas eleições, a facada serviu como um impulso para Bolsonaro, proporcionando uma cobertura midiática sem precedentes e, consequentemente, milhões de votos. Mesmo hospitalizado, o então candidato soube administrar o silêncio e ganhar eleitores sem precisar fazer grandes discursos ou campanhas elaboradas.
Durante seus quatro anos de mandato, Bolsonaro não hesitou em exibir publicamente as cicatrizes de sua cirurgia, lembrando os eleitores de sua bravura e despertando emoções diversas. Essa estratégia ajudava a garantir a fidelidade dos votos conquistados e desviar a atenção de temas delicados que ele preferia não abordar.
A notícia do indiciamento de Bolsonaro pela Polícia Federal em crimes como tentativa de golpe de Estado certamente traria à tona debates e questionamentos incômodos para o presidente. Diante disso, por que não recorrer novamente à narrativa da facada, como fez seu filho Eduardo Bolsonaro em uma postagem recente nas redes sociais?
É evidente que Bolsonaro e seus advogados enfrentam um dilema: ignorar as acusações e correr o risco de parecerem culpados ou admitir a tentativa de golpe e se indignarem com a situação. Independentemente disso, a tentativa de assassinato de figuras políticas como Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes revela um cenário turbulento e cheio de intrigas.
Apesar das reviravoltas políticas e das disputas internas, uma coisa é certa: Bolsonaro foi utilizado como uma bucha de canhão pelos militares que almejavam impedir a volta da esquerda ao poder em 2018. O presidente se tornou peça fundamental nesse xadrez político, sendo manipulado e, posteriormente, descartado pelos próprios aliados.
No entanto, a resistência de parte do Alto Comando do Exército e a tentativa de golpe fracassada evidenciam a fragilidade de tais estratégias. A democracia prevaleceu, mas a trajetória de Bolsonaro como bucha de canhão revela as intricadas relações de poder e o jogo político que ainda permeiam a sociedade brasileira.
A história do presidente e sua ascensão ao poder remete a um enredo complexo, no qual os interesses políticos se sobrepõem à ética e à transparência. Resta saber como Bolsonaro lidará com as acusações e os desafios que permeiam seu mandato, bem como qual será o desfecho desse enredo cheio de reviravoltas e surpresas.