Quais são os riscos e perspectivas da eleição de Trump na relação comercial
entre a RMC e os EUA
Observatório PUC-Campinas analisou, a pedido do DE, impactos da vitória no
comércio bilateral da Região Metropolitana de Campinas com os Estados Unidos.
Protecionismo econômico defendido pelo presidente eleito pode reduzir volume de
exportações.
Donald Trump em discurso após a eleição de 2024. — Foto: Jim WATSON / AFP
A eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos deve
causar impactos no comércio bilateral entre o país, dono da maior economia do
mundo, e o Brasil.
A pedido do DE, o Observatório PUC-Campinas fez uma
análise dos riscos e das perspectivas da vitória do republicano nas relações de
importação e exportação entre Região Metropolitana de Campinas (RMC), que tem um
dos polos industriais mais importantes do Brasil, e o país norte-americano.
Economista, professor e pesquisador do Observatório, Paulo Ricardo Oliveira
pontuou que o principal fator que deve ser observado do ponto de vista de uma
eventual mudança na balança comercial é a ideia de governo a qual Trump se
apoiou durante a campanha que o levou de volta à Casa Branca.
Um dos panos de fundo do slogan “Make American Great Again” (tornar a América
grande novamente) é justamente a ideia de protecionismo para reverter o processo
de desindustrialização dos Estados Unidos. Ou seja, a intenção é frear a
instalação de multinacionais americanas em outros países – atraídas por
vantagens de custo – e devolver essas empresas ao solo americano para aumentar a
produção industrial e gerar empregos domésticos.
No entanto, a medida pode causar implicações a países comercialmente parceiros,
considerando que há o risco do governo de Trump reduzir o número de produtos que
os Estados Unidos importam do Brasil para concentrar a fabricação na produção
interna. O movimento pode acontecer com mercadorias de média e baixa
complexidade que ainda utilizam intensa mão-de-obra.
“Nesse sentido, são produtos mais fáceis, com alguns incentivos, de serem
internalizados. As fábricas podem voltar para os Estados Unidos e isso pode
viabilizar barreiras tarifárias e não tarifárias dos produtos que a gente
exporta para os Estados Unidos. Então, é um risco a ser considerado do ponto
de vista do comércio regional. Isso tem que ficar no radar e a gente tem que
entender quais das promessas de campanha se concretizam e quais setores serão
priorizados em uma possível guinada protecionista nos Estados Unidos”, afirmou
Oliveira.
Entenda abaixo mais detalhes sobre as perspectivas do novo mandato de Donald
Trump na balança da região de Campinas e veja o cenário do comércio entre os
dois países nos últimos anos em relação ao volume de importação, exportação e
produtos comercializados.
Indústria de placas eletrônicas — Foto: Hidalgo Dal Colletto
REACOMODAÇÃO DA INDÚSTRIA NACIONAL
A guinada nacionalista que o presidente eleito dos Estados Unidos promete “não é
necessariamente ruim”, de acordo com o pesquisador. Segundo a análise do
Observatório, o peso do país norte-americano na economia mundial pode provocar
uma maior simpatia das instituições de comércio multilateral, principalmente a
Organização Mundial do Comércio (OMC), às políticas protecionistas, o que
proporciona aos países mais “espaço político” para defender a mesma estratégia.
O novo desenho do cenário econômico a partir de 20 de janeiro de 2025, quando se
inicia o segundo mandato de Trump (o primeiro foi de 2017 a 2020), deve, de acordo com o estudo, abrir caminho para uma “readequação da indústria
brasileira” associada a uma política comercial.
“Quando a gente fala em economias abertas, a gente precisa considerar que
falar de política industrial necessariamente envolve alguma política
comercial, que é a regulação do que importamos e exportamos. E esse contexto
pode ser uma oportunidade para alinhar nossa política a interesses mais
benéficos ou mais alinhados com um desenvolvimento da indústria nacional”,
completou o economista.
BALANÇA COMERCIAL DA RMC
O contexto geral do comércio bilateral com os Estados Unidos é que a balança
comercial é historicamente deficitária, considerando que o Brasil importa duas
vezes mais do país norte-americano do que exporta.
Segundo o Observatório, de 2020 a 2023, houve uma trajetória de crescimento das
exportações da Região Metropolitana de Campinas para os EUA, mas que já
apresentou uma tendência de queda em 2024, o que não necessariamente está
relacionado às eleições americanas.
Já em relação às importações, há uma maior estabilidade, mas, a partir de 2022,
também observou-se uma queda no valor.
PRODUTOS
Veja os principais produtos exportados pela indústria da RMC aos EUA em 2024:
– Preparações de carne: US$ 98 milhões
– Petróleo: US$ 53 milhões
– Tratores de construção civil: US$ 48 milhões
Veja os principais produtos importados pela indústria da RMC aos EUA em 2024:
– Agroquímicos: US$ 375 milhões
– Insumos da indústria farmacêutica: US$ 67 milhões
– Medicamentos: US$ 60 milhões
“São produtos de média alta complexidade nos dois casos. Quanto maior a
complexidade do produto, maior o valor agregado dele e mais exclusivo ele é do
ponto de vista do comércio internacional. Ou seja, ele está mais associado com a
estrutura produtiva de países desenvolvidos. Então, a balança é equilibrada do
ponto de vista qualitativo”, finalizou Paulo Ricardo Oliveira.
Professor Paulo Oliveira, da PUC-Campinas, é responsável pela avaliação da
balança comercial na RMC — Foto: DCOM/PUC-Campinas
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