Entenda leilão de trecho da Rodovia Raposo Tavares e por que moradores da região são contrários à concessão
Concessão envolve vias presentes em 10 municípios paulistas e investimentos que devem somar R$ 8 bilhões nos próximos 30 anos. Quatro empresas disputam o lote.
O governo estadual realiza na tarde desta quinta-feira (28) o leilão que definirá qual empresa do setor privado assumirá o controle de 92 km de rodovias na Região Metropolitana de São Paulo pelos próximos 30 anos.
O objeto da disputa é o “Lote Nova Raposo”, que envolve 10 municípios — Araçariguama, Barueri, Cotia, Itapevi, Jandira, Osasco, Santana de Parnaíba, São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu das Artes — e é composto pelos seguintes trechos:
Rodovia Raposo Tavares (SP-270) — entre os km 10,9 e 34;
Rodovia Presidente Castelo Branco (SP-280) — entre os km 13,2 e 54,1;
Rodovia Coronel PM Nelson Tranchesi (SP-029) — entre os km 34,5 e 43,7;
Estradas, ruas e avenidas que ligam as cidades de Cotia e Embu das Artes.
Segundo o governo de São Paulo, o objetivo da concessão é melhorar a segurança nessas vias e desafogar o congestionamento, especialmente nos horários de pico.
Dentre as intervenções previstas para o lote estão:
Construção de 48,6 km de pistas marginais ao longo de todo o trecho urbano da Raposo Tavares;
Construção de 31,2 km de faixa adicional na Raposo e 43,7 km na Castelo Branco;
Construção de túnel para conectar o final da Raposo Tavares à Av. Francisco Morato, na Zona Oeste da capital;
Construção de três viadutos, uma ponte e duas alças de retorno na Marginal Pinheiros;
Implantação do sistema “free flow” de pedágio em sete pontos da Raposo, seis pontos da Castelo e dois da Coronel;
Manutenção e construção de passarelas e acessos nas rodovias.
O leilão será realizado às 16h, na sede da Bolsa de Valores (B3). Quatro empresas se habilitaram para participar do certame (EcoRodovias, CCR, Via Appia e EPR), sendo que as três primeiras já operam no estado de São Paulo.
Ganhará a empresa que apresentar o maior lance, que deve ser superior a R$ 4,6 milhões.
Ao longo das três décadas de concessão, a iniciativa privada deverá realizar cerca de R$ 8 bilhões em investimentos.
CRÍTICAS À CONCESSÃO
Engenheiros, moradores e comerciantes das margens da rodovia criticam o projeto apresentado pelo governo e apontam falta de diálogo com o poder público. Por isso, criaram o movimento “Nova Raposo Não” e contrataram uma pesquisa para saber a opinião da população local sobre as obras.
Segundo o grupo, foram mais de 2 mil entrevistados por telefone: 63% deles disseram que nem conheciam o projeto. Dos que conheciam, 77% consideraram que haverá impactos negativos para a população — como redução de áreas verdes, aumento da poluição e da temperatura local.
“Nós queremos, sim, melhorias para que a população possa se deslocar melhor na Raposo Tavares, mas o projeto apresentado vai aumentar o fluxo de carros, colocar pedágios, desapropriar casas, derrubar árvores, e a gente não vê nesse projeto nenhuma melhoria do transporte público”, disse a moradora Sabrina Teixeira, que integra o movimento contrário à concessão.
O professor Ernesto Maieiro, que também faz parte do movimento, relatou que a maioria dos moradores soube do projeto de concessão da rodovia pela imprensa e que não houve tempo hábil para participar da audiência pública realizada pelo governo.
Ernesto afirma que o grupo chegou a marcar duas audiências na Assembleia Legislativa (Alesp) para discutir o tema, mas ambas foram suspensas antes de ocorrer.
“Nós queremos a suspensão deste leilão, que se abra o debate. Nós queremos resolver o problema da Raposo, mas de uma forma adequada, sustentável”, afirmou.
Por nota, o governo do estado disse que o projeto ficou aberto para consultas públicas por 30 dias e que 60% das contribuições apresentadas foram incorporadas. Isso é contestado pelos moradores, que afirmam que a “essência do projeto foi mantida”.
O movimento “Nova Raposo, Não” afirma ter consultado especialistas, que apresentaram saídas para melhorar a situação de quem depende da rodovia, sem causar o impacto previsto pelo atual projeto, como:
Aumento da frota de ônibus que transita pela Raposo Tavares;
Implantação de Metrô ou VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) que conecte a capital ao município de Cotia.
Sobre a questão ambiental, o governo de São Paulo informou que o assunto será tema de novas audiências públicas específicas para o licenciamento e posterior início das obras.