‘Eles deram tiro para matar a família inteira’, diz mãe de jovem baleada em
abordagem da PRF
‘Mesmo o carro parado, continuaram atirando’, emendou o pai.
A mãe de Juliana Leite Rangel, a jovem baleada por agentes da Polícia Rodoviária
Federal (PRF) na véspera de Natal, falou à TV Globo sobre a abordagem.
“Eles saíram atirando no carro. Não pediram para a gente parar nem um minuto e
saíram dando tiro no carro”, disse Dayse Leite Rangel.
> “Eles deram tiro para matar a família inteira, direcionada na cabeça do meu
> marido. Tanto que acertou a cabeça da minha filha, que estava atrás dele.”
Alexandre Rangel, pai de Juliana, afirmou que pensou que ninguém sobreviveria.
“Eu falei para ela [Dayse]: ‘Nós vamos morrer, é o nosso fim’. Mesmo o carro
parado, continuaram atirando”, lembrou.
A jovem, atingida na cabeça, foi internada no CTI do Hospital Adão Pereira
Nunes. O estado dela era gravíssimo na manhã desta sexta-feira (27). A TV Globo
apurou que um dreno no cérebro dela foi retirado com sucesso.
REAÇÃO COM A IRMÃ
‘Orem por ela’, diz irmã de jovem baleada durante abordagem da PRF em rodovia do RJ
Nesta quinta-feira, a irmã de Juliana contou que conseguiu falar algumas
palavras para a vítima e que os batimentos cardíacos dela aceleraram.
“Falei umas palavras lindas para a minha irmã, coisas positivas: ‘Deus vai te
tirar dessa minha irmã, você tem um coração lindo, as pessoas amam tanto você.
Deus vai te tirar dessa, tenho fé. E o batimento dela subiu. O médico falou que
ela estava me ouvindo. Isso me deu uma esperança, meu coração ficou um pouquinho
aliviado. Mas a médica falou que é grave. Por isso gente, eu peço muita oração
pela Juliana, orem por ela”, suplicou Jéssica Rangel.
Juliana estava com os pais, a caminho da casa de Jéssica, em Niterói, para a
Ceia de Natal, quando o carro da família foi alvo de diversos disparos na
BR-040, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
O Ministério Público Federal abriu uma investigação sobre o caso. O ministro da
Justiça, Ricardo Lewandowski, condenou a ação.
Juliana Leite Rangel, de 26 anos, foi baleada na BR-040 — Foto:
Reprodução/TV Globo
Segundo a mãe da moça, houve demora no socorro. “Eles não socorreram ela. Quando
eu olhei eles estavam deitado no chão batendo no chão com a mão na cabeça. E eu
falei: ‘Não vão socorrer não?’, questionou a mãe da jovem.
Dayse Rangel disse que quando viu os policiais, a família chegou a abrir
passagem para a chegada deles ao carro, mas os agentes federais só atiraram.
> “A gente até falou assim: “vamos dar passagem para a polícia”. A gente deu e
> eles não passaram. Pelo contrário, eles começaram a mandar tiro para cima da
> gente. Foi muito tiro, gente, foi muito tiro. Foi muito mesmo. E aconteceu
> que, quando a gente abaixou, mesmo abaixando, eles não pararam e acertaram a
> cabeça da minha filha”.
COMO FOI O CASO
Alexandre Rangel, pai da jovem, contou o que aconteceu:
“Vinha essa viatura, na pista de alta (velocidade). Eu também estava. Aí, liguei
a seta para dar passagem, mas ele em vez de passar, veio atirando no carro, sem
fazer abordagem, sem nada. Aí falei para minha filha ‘abaixa, abaixa, no fundo
do carro, abaixa, abaixa’. Aí eu abaixei, meu filho deitou no fundo do carro,
mas infelizmente o tiro pegou na minha filha”.
Os agentes da PRF eram formados por dois homens e uma mulher. Todos foram
afastados preventivamente das funções. O caso também é investigado pela Polícia
Federal.
Os policiais usavam dois fuzis e uma pistola automática, que foram apreendidos. Em
depoimento, reconheceram que atiraram contra o carro de Juliana. Alegaram que
ouviram disparos quando se aproximaram do veículo e deduziram que vinham
dele.
“Na hora, eu pensei que fosse bandido. Eu pensei que era bandido com carro da
polícia atirando em mim porque pensei que um policial não iria fazer isso. Eles
desceram falando: ‘você atirou no meu carro por quê?’ ‘Eu falei: ‘nem arma eu
tenho, como é que eu atirei em você?'”, explicou.
Vitor Almada, superintendente da PRF no RJ, disse que, em depoimento, os
policiais alegaram que ouviram disparos quando se aproximaram do carro, deduziram
que vinha dele, mas depois descobriram que tinham cometido um grave equívoco.
NOTA DA PRF
“Na manhã desta quarta-feira (25), a Corregedoria-Geral da Polícia Rodoviária
Federal, em Brasília/DF, determinou abertura de procedimento interno para
apuração dos fatos relacionados à ocorrência da noite de ontem, na BR-040, em
Duque de Caxias/RJ. Os agentes envolvidos foram afastados preventivamente de
todas as atividades operacionais.
A PRF lamenta profundamente o episódio. Por determinação da Direção-Geral, a
Coordenação-Geral de Direitos Humanos acompanha a situação e presta assistência
à família da jovem Juliana.
Por fim, a PRF colabora com a Polícia Federal no fornecimento de informações que
auxiliem nas investigações do caso.”
NOTA DA PF
“A Polícia Federal instaurou inquérito para apurar os fatos relacionados à
ocorrência registrada na noite desta terça-feira (24/12), no Rio de Janeiro,
envolvendo policiais rodoviários federais. Após ser acionada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), uma equipe da Polícia Federal esteve no local para realizar as medidas iniciais, que incluíram a perícia do local, a coleta de depoimentos dos policiais rodoviários federais e das vítimas, além da apreensão das armas para análise pela perícia técnica criminal.”