Crise de confiança: Congresso enfrenta desafio econômico após declaração de Lula

No colo do Congresso (por Leonardo Barreto)

Crise de confiança na autoridade econômica

Na semana passada, o presidente Lula chamou Arthur Lira e Rodrigo Pacheco de
“amigos”. A declaração, no entanto, veio acompanhada de um presente de grego:
uma crise de confiança na autoridade econômica que o Congresso terá que
resolver.

O pacote anunciado pelo governo traz duas pegadinhas políticas. A primeira é a
sensação de que que as medidas são insuficientes para resolver o problema
fiscal. Lula espera que o Congresso faça o dever de casa, assumindo para si a
impopularidade da tarefa?
A segunda armadilha é a isenção do imposto de renda para pessoas que recebem até
R$ 5.000. Ninguém sabe ao certo o quanto a medida custará e muito menos se as
medidas compensatórias serão suficientes para cobrir o rombo, mas isso não
importa porque o chute inicial foi dado e a pressão está do lado dos
parlamentares.

Cabe ao Congresso desarmar a bomba fiscal e proporcionar ao governo seu
principal coringa político para 2026. Uma leitura possível é que Lula tenta
terceirizar o ônus e se apropriar do bônus. Outra é que tanto o prejuízo quanto
o lucro serão compartilhados entre Executivo e Legislativo.
Seja como for, a bola está com o Congresso.

No que diz respeito ao tamanho do pacote fiscal, é possível dizer que, para quem
já aprovou a reforma da Previdência (embora tenha acontecido no outro governo,
os líderes são mais ou menos os mesmos) e está quase finalizando a reforma
Tributária, não há nada muito complicado ali.

Sobre a isenção do IR, a situação é outra porque trata-se de um jogo de soma
zero e se um lado vai ganhar, outro vai ter que perder. E não está claro se
apenas os mais ricos darão conta de fechar essa conta ou se ela vai ter que ser
dividida com os PJs, por exemplo, por meio da tributação de lucros e dividendos.
Trata-se de uma discussão mais difícil.

Se Lula tentou condicionar os pacotes à sua caminhada eleitoral, é claro que
deputados e senadores farão o mesmo. Possivelmente isso significa não ir além do
que Haddad está pedindo no projeto de corte de gastos. Se ele precisar ser
engrossado para atender as necessidades fiscais, então o PT e o governo terão
que deixar claro sua responsabilidade.

Uma possibilidade é que o Congresso, para aprovar medidas, exija de Fernando
Haddad o envio também de uma reforma administrativa, colocando o famoso “guizo
no gato”.

Se lembrarmos a última vez que o PT apresentou um pacote fiscal, no início do
segundo governo Dilma, é importante o partido não repetir o erro de tentar se
blindar do pacote enquanto os outros parceiros da coalizão faziam o “trabalho
sujo”. Quanto o restante da base aliada percebeu que o partido do governo não
queria arcar com os custos de popularidade, saíram todos de cena.

Por fim, o Congresso deve exigir uma pacificação da questão orçamentária, com a
manutenção do desenho atual, e a realização de uma reforma ministerial para
renovar os termos da parceria, inclusive com o PT e Lula tendo que ceder
ministérios que lhe são caros, como a Saúde.

A partir das necessidades, pode ser que não é apenas o pacote fiscal que está
caindo no colo do Congresso. O controle do governo também, numa dança forçada na
qual Legislativo e Executivo vão acertando o passo das conceções de ambas as
partes.

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Político e sócio da consultoria Think
Policy.

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“Senado Federal aprova PLP nº 121/2024: programa federal de renegociação de dívidas dos estados”

O Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (17/12), o projeto de lei complementar (PLP) nº 121/2024, que cria um programa federal para renegociação de dívidas dos estados e do Distrito Federal com a União. O texto, de autoria do presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), segue agora para sanção presidencial. Foram 72 votos favoráveis, sem votos contrários ou abstenções. A estimativa atual é de que as dívidas estaduais somam mais de R$ 760 bilhões, sendo a maioria referente aos estados de Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

O projeto cria o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag) para que as unidades da Federação possam renegociar dívidas com a União. O texto prevê que, para os DE e o Distrito Federal permanecerem no programa, eles deverão cumprir regras específicas, como a realização de metas de investimento na educação e saneamento, além de limites para o crescimento de despesas. Para o pagamento das dívidas com a União, os estados poderão fazer a transferência de valores à Conta Única do Tesouro Nacional, entrega de bens móveis ou imóveis pertencentes aos estados, desde que a União aceite receber os bens, e cessão de créditos líquidos e certos.

Por fim, a proposta prevê a criação de um fundo para apoiar ações de enfrentamento às mudanças climáticas, com ações de melhoria nas áreas de infraestrutura, segurança pública e educação. Além disso, o PLP nº 121/2024 prevê que os DE criem metas de investimento na educação e saneamento, o que pode impactar positivamente o desenvolvimento dessas áreas nos estados brasileiros. O projeto de autoria de Rodrigo Pacheco busca promover o equilíbrio financeiro dos DE e do Distrito Federal, gerando um cenário mais estável e favorável para o pagamento de suas dívidas com a União.

É importante ressaltar que a renegociação das dívidas estaduais é um passo fundamental para a retomada econômica de diversos estados brasileiros, que enfrentam dificuldades financeiras. Com a aprovação do PLP nº 121/2024, os DE terão a oportunidade de reorganizar suas finanças e cumprir com suas obrigações junto à União, contribuindo para o fortalecimento da economia nacional e para o desenvolvimento sustentável do país. Agora, cabe ao presidente sancionar o projeto de lei para que as medidas de renegociação possam ser efetivadas e trazer benefícios concretos para os estados brasileiros.

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