A política de segurança pública de São Paulo: a escalada das mortes pela polícia

A política de jogar homens da ponte e de atirar na cabecinha

Uma polícia que comete crimes para combater o crime

Que recado um governante manda para a tropa ao nomear para chefiar as polícias
um ex-policial que já foi investigado por ter participado de operações em que 16
pessoas foram mortas?

Na gestão de Guilherme Derrite como Secretário de Segurança Pública de São
Paulo, as mortes por policiais cresceram 90% em um ano – quase duas por dia, um
total de 595.

Derrite é um ex-capitão que serviu na Rota, batalhão famoso por matar. Acabou
desligado. Um dia, perguntaram-lhe por quê. A resposta que ele deu: “A real?
Porque eu matei muito ladrão”.

Matou, mas nunca foi punido. Dizem que o governador Tarcísio de Freitas
(Republicanos) o nomeou Secretário de Segurança porque Derrite é bolsonarista.
Sejamos justos com Tarcísio.

Não foi por isso que Tarcísio nomeou Derrite. Foi porque, a exemplo de
Bolsonaro, Tarcísio acredita que uma polícia com carta branca para matar é o
meio mais eficiente de se combater o crime.

Ou seja: uma polícia que, se necessário, despreze a lei à caça dos que também a
desprezam; criminosos em potencial que vestem farda contra criminosos que não
vestem ou são apenas suspeitos.

Tarcísio pensa assim não porque que Bolsonaro pensa, nem porque serviu a
Bolsonaro como ministro da Infraestrutura do seu governo. Pensa assim por que
sempre pensou ou se convenceu.

“Nenhum policial que sai de casa para defender a sociedade será
injustiçado”, afirma Derrite. “Até que se prove o contrário, a ação ocorreu
dentro da lei”. Tarcísio assina embaixo.

O comportamento da dupla Tarcísio e Derrite estimula a certeza de impunidade
entre seus comandados e o desprezo deles pela justiça, a quem acusam de mandar
soltar quem é preso.

Em 3 de novembro, um PM matou a tiros um homem no bairro Jardim Prudência, em
São Paulo. Três dias depois, uma criança de 4 anos e um adolescente de 17
morreram baleados em Santos.

No dia 20, um estudante foi morto com um tiro à queima roupa durante abordagem
da PM na Vila Mariana. No dia 2 de dezembro, um policial jogou um homem de uma
ponte na Vila Clara.

O homem arremessado da ponte feriu-se ao cair de uma altura de três metros, A
primeira coisa que ele fez ao deixar o hospital foi fugir de São Paulo com medo
de sofrer retaliação da polícia.

Tarcísio limitou-se a cumprir o protocolo para ocasiões como essa: lamentou o
acontecido, prometeu apurá-lo com rigor punindo os eventuais culpados, e
defendeu Derrite e a Polícia Militar.

É o que costuma fazer a maioria dos governadores. O Rio já teve um, Wilson
Witzel, que recomendava à polícia “atirar na cabecinha” de bandidos. Não por
isso, ele renunciou ao cargo.

A extrema-direita está pronta para desfraldar nas eleições de 2026 a bandeira da
segurança pública a qualquer custo – mesmo ao custo da morte de inocentes; é o
que chama de “feitos colaterais”.

Um dos subprodutos de tal política é o aumento do número de suicídios cometidos
por policiais militares. No primeiro ano da gestão de Tarcísio, o número bateu
recorde em São Paulo.

Foram 43 casos registrados em 2023, uma alta de 30% em relação aos 33 casos de
2022 e quase o dobro (95,5%) das 22 ocorrências de 2015.

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