Responsável por fazer peça que quebrou e causou morte por asfixia de 4 jovens em
BMW tinha experiência em empresa de laticínios, diz denúncia
Ele era soldador na indústria de alimentos à base de leite, e não tinha
qualificação técnica no âmbito da engenharia mecânica. Em 1º de janeiro, jovens
sofreram paradas cardiorrespiratórias em Balneário Camboriú.
Quatro pessoas morrem dentro de BMW em Balneário Camboriú (SC); saiba quem são
O homem que fez artesanalmente a peça colocada na modificação na BMW
em que quatro jovens morreram
por asfixia em Balneário Camboriú, no Litoral
Norte de Santa Catarina, instalava peças automotivas a partir da experiência
como soldador em uma empresa de laticínios.
De acordo com a denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC),
Adailton Moreira da Silva não tinha qualificação técnica ou profissional no
âmbito da engenharia mecânica.
O DE não conseguiu contato com a defesa dele ou de Jhones Smith Jesus Da Silva,
sócio-administrador da oficina onde o serviço foi contratado, em 21 de julho de
2023 em Goiás.
Os dois viraram réus em processo que julga as acusações de quatro homicídios
culposos, quando não há intenção de matar.
As mortes aconteceram em 1º de janeiro na rodoviária de Balneário Camboriú, onde
os quatro jovens, incluindo um adolescente de 16 anos, esperavam pela namorada
de um deles. A investigação concluiu que eles foram asfixiados por inalação por
monóxido de carbono, gás que chegou dentro do carro após uma ruptura na peça
modificada instalada na BMW.
O Conselho Regional dos Técnicos Industriais da 4ª Região (CRT-04) esclareceu
que a resolução do Conselho Federal dos Técnicos Industriais número 101/2020
estabelece que técnicos em mecânica possuem a atribuição legal para realizar
serviços relacionados a reparos, manutenção e modificações em veículos
automotores e fabricar peças.
Conforme o CRT-04, esse respaldo técnico e legal é essencial para assegurar que
as alterações sejam feitas dentro dos padrões de segurança e qualidade exigidos.
Para o presidente do CRT-04, Waldir Rosa, a escolha de empresas que empregam
profissionais devidamente habilitados é fundamental para proteger a vida dos
motoristas, passageiros e demais pessoas no trânsito.
> “A contratação de profissionais registrados é uma garantia de que o serviço
> será realizado por alguém com formação específica, capacitado para respeitar
> os limites técnicos e a legislação. Isso evita tragédias”, declarou.
BMW estacionada em rodoviária de Balneário Camboriú onde corpos foram
achados — Foto: Felipe Salles/NSC TV
CUSTOMIZAÇÃO
De acordo com a denúncia, o motorista do carro, Thiago de Lima Ribeiro, de 21
anos, queria mais potência e mais barulho no escapamento. Ele contratou o
serviço para alterar o carro, uma BMW 320i M Sport.
A customização, que custou R$ 25 mil ao motorista, substituiu a peça que tinha o
catalisador do veículo por outro pedaço de tubo, conhecido como “downpipe”, e
sem o elemento catalisador. Esse, no entanto, é responsável pela redução de
gases poluentes emitidos pelo motor do veículo, dentre eles o monóxido de
carbono.
O serviço foi terceirizado. A peça colocada sofreu uma ruptura e provocou uma
abertura no tubo de escapamento dos gases.
Ainda conforme a denúncia, parte do gás acumulado entrou no compartimento de
admissão do ar-condicionado do carro. Dessa forma, as vítimas foram intoxicadas.
BMW onde corpos foram achados em parada cardiorrespiratória em SC — Foto: Felipe Salles/NSC TV
O QUE ACONTECEU NA RODOVIÁRIA
Thiago e mais três amigos saíram de Florianópolis em 31 de dezembro
de 2023 para passar o réveillon em Balneário Camboriú, que fica a cerca de 80
quilômetros da capital catarinense. Eles se locomoveram já com a BMW.
Após assistirem ao show de fogos de artifício, conforme a denúncia, por volta de
1h30 o grupo foi até a rodoviária da cidade do Litoral Norte para esperar a
namorada de um deles, que estava chegando de Minas Gerais.
Durante o trajeto até o terminal de ônibus, os amigos enfrentaram
congestionamento em Balneário Camboriú. Já durante este percurso, as vítimas
começaram a se sentir mal. Porém, acreditavam que era por causa de um
cachorro-quente que haviam consumido na praia.
Segundo a investigação policial, a mulher que o grupo aguardava na rodoviária
chegou de Minas Gerais de ônibus, por volta das 3h, e ficou aguardando os
ocupantes da BMW, que iriam encontrá-la.
“Ela chega aproximadamente duas horas antes do veículo e fica aguardando na
rodoviária. Aí o veículo chega e eles [ocupantes] avisam para ela que estão
passando mal. Eles relatam náusea, tontura, tremedeira, entenderam por bem
esperar até melhorar”, relata o delegado Bruno Effori, responsável pelo
inquérito.
Neste tempo, a jovem entra e sai do carro seguidas vezes, explica o delegado.
“Ela não permaneceu o tempo todo dentro do veículo, que ficou ligado por cerca
de três a quatro horas, com ar-condicionado ligado”.
Como todos continuam passando mal, Thiago ligou para o Corpo de Bombeiros
Militar, que orientou que eles chamassem o Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (SAMU). Porém, isso não foi feito.
Por volta das 7h, segundo a denúncia, a jovem que chegou de ônibus constatou que
os ocupantes da BMW estavam sem sinais vitais e o SAMU foi chamado. Foram feitas
tentativas de reanimação por 40 minutos, sem sucesso, e as mortes foram
constatadas.
QUEM ERAM AS VÍTIMAS
Veja quem são as vítimas:
* Gustavo Pereira Silveira Elias , 24 anos.
* Karla Aparecida dos Santos, 19 anos.
* Nicolas Kovaleski, 16 anos.
* Thiago de Lima Ribeiro, 21 anos.
Eram de Paracatu, e Patos de Minas, Minas Gerais, mas moravam há um mês na
Grande Florianópolis, com familiares.
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