Torcedor do Flamengo vai à final da Libertadores por homenagem a irmãos botafoguenses
Mineiro saiu de Leopoldina e foi a Buenos Aires com filhos rubro-negros para torcer pelo Botafogo em memória de irmãos falecidos: “Glória eterna, amor eterno!”
“Botafoguense fora da curva”, Getúlio é homenageado pelo irmão em Buenos Aires
Cada uma das 72 mil pessoas que foram ao Monumental de Nuñez no último sábado terá uma história para contar sobre a final da Conmebol Libertadores. Uma delas é bastante especial e não diz respeito a torcedores de Botafogo ou Atlético-MG. Um flamenguista de Minas Gerais foi a Buenos Aires ao lado dos filhos rubro-negros para homenagear os irmãos alvinegros já falecidos.
Ivaldo Pereira Barbosa, mais conhecido como Juquinha, percorreu cerca de 2,8 mil quilômetros entre Leopoldina, na Zona da Mata mineira, e a capital argentina ao lado dos filhos flamenguistas Ítalo e Ian para representar Getúlio e Jairo, que morreram anos atrás. A história foi contada pela primeira vez pela repórter Aline Nastari, do TNT Sports.
Com o rosto dos dois alvinegros e a frase “Glória Eterna, amor eterno”, uma bandeira tremulou no Monumental para simbolizar a presença dos botafoguenses na decisão da Libertadores.
“Me dei conta da minha emoção quando dois botafoguenses viram a bandeira, me abraçaram e disseram: “Hoje eles vão ser campeões”. Ali, no momento em que eu passei das barreiras de segurança, foi que eu me dei conta de que a coisa era bem maior do que eu pensava que poderia ser” — Juquinha, irmão de Jairo e Getúlio
Getúlio morreu aos 63 anos, em maio de 2020, no início da pandemia da Covid-19. Internado em razão de baixa saturação na respiração, ele foi entubado e não resistiu. Jairo faleceu recentemente, em abril de 2024, vítima de leucemia, aos 76 anos.
De acordo com Juquinha, os irmãos eram diferentes entre si como torcedores, mas tinham em comum o amor pela Estrela Solitária.
— O Getúlio era um botafoguense doente, fora da curva. O Jairo também ia nas coisas do clube no Nilton Santos, mas o Getúlio era mais fanático, ferrenho, participava de tudo que fazia referência ao Botafogo. Ambos eram apaixonados.
— O Getúlio era um cara ímpar. A palavra “não” não existia no vocabulário dele, era querido em qualquer lugar que ele frequentasse. O Jairo era mais na dele, mas fanfarrão, gostava da cachacinha dele e do Botafogo — completou.
“COISAS QUE SÓ ACONTECEM COM O BOTAFOGO”
Ir ao estádio e sair do palco da decisão da Libertadores antes mesmo do jogo começar. Isso aconteceu com Juquinha e os filhos no Monumental de Nuñez e se encaixa muito no estigma de que há coisas que só acontecem ao Botafogo.
E os perrengues começaram cedo. O trio chegou aos arredores do estádio por volta das 15h30, cerca de uma hora e meia antes da bola rolar. Com o sinal de internet móvel fraco, pai e filhos tiveram dificuldades para abrir os ingressos e ativarem o QR Code na entrada do Monumental.
No entanto, ao perceber que os brasileiros tinham os bilhetes para a partida e que a internet estava com problemas, a organização do jogo permitiu a entrada dos flamenguistas.
Só que eles ficaram pouco tempo no estádio. Com ingressos para o setor Centenário no anel médio do Monumental, eles chegaram com o setor lotado e tiveram dificuldades inclusive para verem o campo de onde estavam.
Assistir ao jogo dali seria difícil e se tornou impossível quando Ian teve um mal-estar nas arquibancadas. Com isso, os três deixaram o estádio às 16h40, 20 minutos antes da bola rolar, e procuraram um bar.
Mal o jogo começou e veio a expulsão de Gregore. Juquinha assistia a tudo pelo celular e pensava o quão difícil era a vida dos irmãos botafoguenses.
— Ah, a frase veio na hora: “Há coisas que só acontecem com o Botafogo”. Esse tipo de coisa só acontece com o botafoguense — completou.
Em campo, a equipe de Artur Jorge deu conta do recado e venceu o Atlético-MG por 3 a 1 mesmo com um a menos.
De volta ao Brasil, ele se diz feliz e realizado por ter honrado os nove irmãos — os dois que faleceram e os outros sete — e mãe, Hilda, com 99 anos, com este gesto de respeito e amor por Jairo e Getúlio.
— O legado que eu tiro desta viagem é a educação que os nossos pais nos deram, o prazer de estar vivo e poder representar a família toda na homenagem aos meus irmãos. É algo indescritível. Eu me vi botafoguense por alguns minutos ali — finalizou.