Criando “condições de conforto” para aprovar pacote (Leonardo Barreto)
É preciso abaixar a temperatura do debate com o mercado financeiro e a sensibilidade da comunicação é chave
Na disputa aberta entre mercado e governo sobre quem sabe mais do estado real da economia e sobre o seu futuro, dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento do país têm sido respondidas com lições de moral.
Agentes importantes do PT abriram uma intifada contra o mercado na última semana, propondo um nível muito baixo de discussão, no qual tudo parece ser justificado desde que o proponente tenha as intenções corretas. Clara e propositadamente estão confundindo discurso eleitoral com comunicação de governo.
Tudo leva a crer que se trata de um erro estratégico. Ao esquentarem demais a panela política, correm o risco duplo de inflamarem as forças de centro, que ao final são os responsáveis pela aprovação do pacote, e de estressarem um mercado já muito nervoso.
Esse clima de aposta serve pouco ao governo considerando que a reação do mercado faz preço. O dólar já bateu R$ 6 e a curva de juros não para de subir, ambos com efeito imediato sobre a inflação, o poder de compra e o bem-estar das pessoas.
É preciso abaixar a temperatura do debate e a sensibilidade da comunicação é chave. Não são poucos os que sugerem que, se o pacote tivesse sido anunciado por meio de uma entrevista coletiva concedida por técnicos, a reação do Congresso e dos operadores financeiros teria sido outra.
O governo precisa “colocar a bola no chão”. Qualquer manual de gestão de crise sugerirá lições básicas: fazer uma “ordem unida”, nomeando poucos porta-vozes para falar sobre o pacote, reduzir o volume de declarações públicas, produzir um material de apoio explicando os caminhos adotados e uma estratégia de comunicação pública condizente e criar um fluxograma da decisão.
Em resumo, nas palavras de Carlos Parente, um consultor de comunicação corporativa bastante acionado no eixo Brasília-São Paulo, é preciso criar uma situação “de conforto para a decisão”.
Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política (UnB) e sócio da consultoria Think Policy.