Vereador eleito se entrega à Polícia Federal em Salvador; político é suspeito de integrar esquema que desviou milhões de recursos públicos
Junior Figueiredo era considerado foragido. Investigação aponta interferências dele na Prefeitura de Lauro de Freitas.
Suspeito de desvios em recursos públicos, vereador eleito Junior Figueiredo se entregou à Polícia Federal em Salvador. O político é suspeito de integrar a organização criminosa acusada de desvios milionários em recursos públicos. O empresário e político era considerado foragido, pois não foi localizado na terça (10), quando os agentes deflagraram a Operação Overclean.
A equipe de defesa dele negociou a rendição após uma câmera do sistema de reconhecimento facial flagrá-lo dirigindo por Salvador. Com isso, pelo menos 16 dos 17 alvos de mandados de prisão preventiva já foram capturados. Apenas Itallo Moreira de Almeida, servidor da Secretaria de Educação do Tocantins e suspeito de favorecer empresas nas licitações, segue foragido.
O grupo é acusado ainda de corrupção e lavagem de dinheiro, tendo movimentado aproximadamente R$ 1,4 bilhão. Desse montante, parte é proveniente de emendas parlamentares e contratos firmados com órgãos públicos apenas em 2024.
De acordo com a investigação policial, a participação de Ailton Figueiredo Souza Junior — nome completo do político — era concentrada em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, com “amplo e irrestrito acesso aos mais diversos setores da prefeitura”. Pelas conversas analisadas, ocorridas no mês de dezembro de 2023, ficou demonstrado que ele possui forte influência na administração da referida municipalidade, ‘ao ponto de dar ordem para pagamento’ relacionado ao contrato firmado entre o Fundo Municipal de Saúde e a sociedade empresária PAP SAÚDE AMBIENTAL EIRELI, gerida, de fato, por Alex Parente.
O DE e a TV Bahia pediram um posicionamento à defesa de Junior Figueiredo, mas preferiram não se posicionar. O PSDB também não respondeu aos pedidos de nota até a noite desta quarta-feira.
A organização criminosa suspeita de promover esses desvios milionários “atua de forma sistemática e coordenada pelo menos desde 2021”, conforme descrito na decisão judicial que determinou a prisão preventiva dos investigados. Desse total, pelo menos 16 pessoas foram presas na Bahia, em São Paulo e em Goiás. A PF também cumpriu 43 mandados de busca e apreensão e ordens de sequestro de bens em cidades da Bahia, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
A decisão assinada pelo juiz federal Fábio Moreira Ramiro, da 2ª Vara Federal de Salvador, mostra que a investigação nasceu para apurar infrações penais no pregão eletrônico 3/2021, do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O anúncio em questão foi divulgado para contratar serviços comuns de engenharia para obras em estradas vicinais. Entretanto, o aprofundamento das investigações demonstrou a existência de uma organização criminosa dirigida pelos irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, e por José Marcos de Moura e Lucas Maciel Lobão Vieira. Esses quatro formam o “núcleo central da organização”, conforme apontado pela Polícia Federal.
Alex é descrito como o grande coordenador do esquema, suspeito de negociar diretamente com servidores públicos. Fábio seria o executor financeiro da organização. Lucas é suspeito de financiar as atividades ilícitas, já que atuava no DNOCS e favorecia as empresas nos bastidores. José Marcos Moura, o “Rei do Lixo”, é suspeito de prospectar contratos, “com a cooptação de servidores mediante pagamento de propina”.
Embora a investigação tenha surgido no DNOCS, os investigadores concluíram que as fraudes não se restringiam ao departamento de obras. A organização criminosa liderada por Alex Rezende Parente é uma estrutura complexa, bem definida e hierarquicamente organizada, onde cada membro desempenha funções específicas para o funcionamento do esquema. Esta organização se dedica principalmente à prática de crimes como corrupção ativa e passiva, fraudes em licitações, lavagem de dinheiro, utilizando contratos públicos fraudulentos como principais meios de atuação, analisou a PF.
Uma das empresas dos irmãos Rezende é a Allpha Pavimentações. A decisão destaca que a empresa obteve cerca de R$ 150 mil em contratos com o DNOCS no período de aproximadamente três anos. O valor chama atenção porque a empresa foi fundada apenas em 2017, com capital social de R$ 30 mil à época. Atualmente, o capital social do empreendimento é estimado em R$ 16 milhões.
Os investigadores da Receita Federal descobriram que uma organização criminosa estava utilizando um esquema estruturado para desviar recursos públicos. Esses recursos, provenientes de emendas parlamentares e convênios, eram direcionados para empresas e indivíduos ligados a administrações municipais. As investigações constataram a prática de superfaturamento em obras e desvios de recursos com o apoio de interlocutores que facilitavam a liberação de verbas destinadas a projetos previamente selecionados pela organização criminosa.