Sobrevivente de chacina por aplicativo luta por justiça e superação após cinco anos: a história conturbada de um ex-motorista

Vivo essa ferida todos os dias, diz sobrevivente cinco anos após chacina de motoristas por aplicativo

Traumatizado, homem se mudou para endereço mantido sob segredo e segue em tratamento psiquiátrico, enquanto trava disputa judicial com plataforma.

Sávio da Silva Dias, Alisson Silva Damasceno, Daniel Santos da Silva e Genivaldo da Silva Félix foram mortos em Salvador — Foto: Arte DE

O único sobrevivente da chacina com motoristas por aplicativo ocorrida em Salvador, em 2019, segue escondido e convivendo com os traumas provocados pelo crime, que completou cinco anos nesta sexta-feira (13).

Na época, quatro homens foram mortos, com requintes de crueldade, por traficantes no bairro de Jardim Santo Inácio, após serem atraídos com falsas chamadas de corridas. O sobrevivente só conseguiu escapar porque aproveitou uma distração criada por uma das vítimas, que tentou tomar a arma dos suspeitos, para correr para um matagal. No ano passado, a única responsável pelo crime com vida foi condenada a 63 anos e oito meses de prisão e segue cumprindo a pena.

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Em entrevista à TV Bahia, o sobrevivente, que prefere não ser identificado, comentou o panorama conturbado da vida atual. Escondido em um endereço mantido sob sigilo até mesmo de familiares, ele segue tratamento psiquiátrico, mas ainda não conseguiu voltar a rotina.

“Eu vivo todos os dias essa ferida, que me corrói. Hoje, eu sobrevivo. Não só sou sobrevivente da chacina, como também sou sobrevivente da vida”, afirmou o homem.

As dificuldades se estendem também à esposa e os dois filhos do ex-motorista por aplicativo, que convivem com ele.

“A rotina dos meus filhos de lazer é quando eu vou para o médico. Aí, a gente reúne a família para poder fazer uma coisa só”.

Além do trauma, o homem ainda enfrenta dificuldades financeiras, após ter benefício por invalidez suspenso pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Um acordo está sendo firmado, mas ainda sem previsão de retomada dos pagamentos.

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Disputa judicial também com a plataforma 99, por onde o sobrevivente atuava no dia dos assassinatos. A empresa cobra indenização de R$ 100 mil porque ele deu entrevista depois de ter assinado um acordo de sigilo do caso.

No documento, estava previsto o pagamento de mesmo valor ao homem, desde que não falasse sobre o caso e nem processasse a plataforma. Caso contrário, precisaria devolver o dinheiro. A defesa contesta a atitude.

“A empresa de aplicativo, sabendo que ele não estava em pleno gozo de suas faculdades mentais, firmou um contrato com ele. Impossibilitaram ele de pedir ajuda para si e também ajudar outros motoristas por aplicativo que arriscam as suas vidas diariamente”, afirmou o advogado Gilmar Soares.

Em nota enviada à reportagem, a plataforma 99 citou a ação movida contra a empresa, mesmo após o acordo. Segundo a empresa, o processo está em andamento e em segredo de justiça, e, por esta razão, não pode comentar a respeito.

Já o INSS disse que a conclusão do acordo judicial firmado com a vítima está prevista para os próximos dias, e que ele deve acompanhar o andamento do protocolo pelo portal 135.

RELEMBRE O CRIME

O crime aconteceu na madrugada do dia 13 de dezembro de 2019, na localidade conhecida como “Paz e Vida”. As vítimas eram todas motoristas por aplicativo. Elas foram identificadas como:

* 👉 Sávio da Silva Dias, de 23 anos;
* 👉 Alisson Silva Damasceno, de 27 anos;
* 👉 Daniel Santos da Silva, de 31 anos;
* 👉 Genivaldo da Silva Félix, de 48 anos.

RELEMBRE RELATO TRAUMÁTICO DO MOTORISTA SOBREVIVENTE ABAIXO 👇

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Três criminosos envolvidos na ação morreram. Dois não resistiram após um confronto com a polícia e Jeferson Palmeira, considerado mandante, foi morto pelo tribunal do crime. Os envolvidos são:

* 👉 Jeferson Palmeira Soares Santos, conhecido como “Jel”: apontado como mandante do crime; (encontrado morto dois dias depois do crime)
* 👉 Antônio Carlos Santos de Carvalho, de 19 anos: apontado por envolvimento; (morreu em confronto com policiais no mesmo dia do crime)
* 👉 Marcos Moura de Jesus, de 30 anos: apontado por envolvimento; (morreu em confronto com policiais no mesmo dia do crime)
* 👉 Amanda Santos: condenada.

Somente a travesti Amanda Santos foi presa e julgada. Ela teria torturado o motorista que sobreviveu, além de matar os outros com golpes de facão. Amanda foi condenada pelo Tribunal do Júri após 8h de audiência.

Na época, a defesa da condenada pediu anulação do júri popular alegando que ela participou com roupa do presídio. E isso já seria um pré-julgamento de culpa. No entanto, o pedido foi indeferido pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

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MP-BA denuncia policiais pela morte de terceirizado da Embasa: Família busca justiça

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou à Justiça os policiais militares Cláudio Alves dos Prazeres Júnior, Igor Portugal da Fonseca e Rafael Vieira da Silva, investigados pela morte do funcionário terceirizado da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) Welson Figueredo Macedo, de 28 anos, baleado no bairro de Castelo Branco, em Salvador. As imagens e depoimentos contestaram a versão apresentada pelos policiais.

A denúncia foi oferecida no dia 18 de dezembro, mas a informação só foi divulgada nesta quinta-feira (26). A Justiça vai avaliar os pedidos feitos pelo órgão estadual no curso da instrução criminal, caso seja aceito, eles se tornarão réus. O MP-BA solicitou o afastamento cautelar dos suspeitos do policiamento ostensivo por 180 dias, além da proibição de acesso ao bairro onde ocorreu o crime e contato com testemunhas e familiares da vítima durante o processo.

Segundo a denúncia, Welson foi atingido por um tiro de carabina nas costas, causando um traumatismo abdominal fatal. Com base em testemunhos e imagens de câmeras de segurança, presentes no inquérito policial, a denúncia contrariou a versão dos policiais de que Welson estaria armado e teria trocado tiros com os militares. Testemunhas e imagens mostram que a vítima estava desarmada e retornava do trabalho quando foi baleada.

Os policiais alegaram que perseguiam três suspeitos de roubo e que Welson foi atingido durante a troca de tiros. No entanto, as evidências indicam que a vítima não tinha relação com o trio e foi baleada posteriormente. Além disso, a denúncia aponta que os militares teriam manipulado a cena do crime, removendo pertences da vítima, alterando a posição do corpo e adicionando uma arma de fogo para simular um confronto.

Os suspeitos ainda podem responder por crime de fraude processual. O caso está sob análise da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Salvador e será acompanhado por uma Promotoria de Controle Externo da Atividade Policial. A família de Welson luta por justiça e busca esclarecimentos sobre a tragédia que resultou na morte do jovem terceirizado da Embasa.

Os depoimentos e imagens coletadas revelam inconsistências na versão dos policiais, questionando a conduta dos agentes envolvidos. A Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informaram que estão investigando o caso, assim como a Corregedoria e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. O Ministério Público acompanha de perto as investigações para garantir a apuração rigorosa dos fatos.

A família de Welson, abalada pela perda, clama por justiça e busca respostas sobre o trágico acontecimento. O caso, marcado por contradições e suspeitas de manipulação de cena, levanta questionamentos sobre a conduta dos policiais envolvidos e a necessidade de esclarecimentos em relação à morte do jovem terceirizado da Embasa. Espera-se que a justiça seja feita e os fatos sejam devidamente esclarecidos para trazer paz e respostas à família enlutada.

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