No último sábado (14/12), o jornal Estado de S.Paulo divulgou um editorial na página 6, intitulado “Tutela absurda”, onde expressa sua firme desaprovação em relação à recente decisão da juíza Maria Umbelina Zorzetti, que atua na primeira instância da Justiça Eleitoral em Goiás. A magistrada impôs uma condenação ao governador Ronaldo Caiado (União Brasil), tornando-o inelegível por um período de oito anos, além de cassar a chapa do prefeito eleito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), e de sua vice, coronel Cláudia Lira (Avante).
A análise do Estadão destaca que a juíza, ao tomar essa decisão, desconsiderou a vontade expressa de mais de 55% dos cidadãos goianienses, que optaram por Mabel no segundo turno da eleição municipal realizada neste ano. A condenação foi fundamentada em uma acusação feita por Fred Rodrigues (PL), um candidato derrotado, que alegou que Caiado teria abusado de seu poder político ao promover um ato de campanha em apoio a Mabel no Palácio das Esmeraldas, poucos dias após o encerramento do primeiro turno da eleição.
Embora o editorial reconheça que a escolha do Palácio das Esmeraldas como sede para o evento foi, de fato, inadequada, a publicação avalia que a sanção imposta foi excessivamente severa. “A juíza deveria ter ponderado se a irregularidade realmente teve um impacto decisivo sobre o resultado da eleição”, sustenta o texto. Para o Estadão, é evidente que a ação não comprometeu de forma alguma a escolha popular, e que a decisão judicial representa uma interpretação excessivamente rigorosa e “draconiana” da legislação eleitoral vigente.
Ademais, o editorial traça um paralelo entre a situação de Caiado e casos mais graves que envolveram figuras proeminentes da política, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu vice, o general Braga Netto. Ambos foram condenados à inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devido a ataques ao sistema eleitoral brasileiro. O texto também menciona Pablo Marçal (PRTB), que foi acusado de falsificar um laudo médico com o intuito de prejudicar o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) e, assim, influenciar o resultado da eleição para a Prefeitura de São Paulo.
O Estadão conclui que o comportamento de Caiado está longe de se comparar a essas condutas ilícitas e questionáveis. Por fim, o jornal emite um alerta de que decisões rígidas e inflexíveis, como a proferida pela juíza Zorzetti, podem alimentar o discurso de desconfiança em relação às instituições, um discurso frequentemente utilizado por grupos que se opõem à democracia. “A Justiça Eleitoral deve existir para proteger os direitos dos eleitores, mas, neste caso específico, parece ter infringido esses direitos”, conclui a publicação.