A Câmara dos Deputados concluiu, nesta terça-feira (17/12), a votação do texto principal da regulamentação da Reforma Tributária. Agora, a proposta segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 68/2024 foi aprovado em julho na Câmara dos Deputados e, desde então, aguardava deliberação no Senado Federal, o que ocorreu na última quinta-feira (12/12). Como os senadores mudaram o texto, foi necessária uma nova análise dos deputados.
A proposta em questão estabelece as diretrizes para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência estadual; a Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS), de competência federal; e o Imposto Seletivo (IS), conhecido como “imposto do pecado”.
Os deputados se debruçaram sobre as mudanças feitas pelos senadores e rejeitaram algumas, retomando o texto que havia sido aprovado pela Câmara em julho. Uma delas foi tirar a inclusão de serviços de saneamento básico no rol de atividades para a saúde humana, com redução de 60% da alíquota. Os deputados também rejeitaram incluir a prestação de serviços por médicos veterinários na redução de 60%, junto a profissionais de saúde humana.
Os itens da cesta básica de alíquotas zero também estiveram no centro das discussões ao longo da tramitação da proposta, tanto na Câmara quanto no Senado. Os artigos são considerados alimentos essenciais, por isso, são isentos de impostos. Por fim, as carnes ficaram na cesta básica isenta. Essa foi uma das principais mudanças incluídas no texto pela Câmara dos Deputados, após pressão da bancada ruralista, em derrota para o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que era contra a inclusão por entender que a alíquota ficaria maior e prejudicaria a população. No Senado, as carnes foram mantidas na isenção.
O Senado Federal incluiu o saneamento básico na alíquota reduzida em 60%. Com a volta do texto para Câmara dos Deputados, o benefício foi retirado para os serviços de tratamento de água e esgoto. O imposto seletivo, também chamado de “imposto do pecado”, é um tributo que incidirá sobre produtos considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, como jogos de azar e bebidas alcoólicas. Os senadores retiraram desta lista as bebidas açucaradas, como refrigerantes e energéticos, mas a medida foi revertida pela Câmara dos Deputados. Com isso, serão tributados com o imposto do pecado: veículos, embarcações e aeronaves, produtos fumígenos (cigarros), bebidas alcoólicas, bebidas açucaradas, bens minerais e concursos de prognósticos (apostas) e fantasy sport (jogos on-line).
O Senado aprovou a regulamentação da reforma com alíquota para medicamentos com variação entre 0 a 60%. Os remédios considerados populares, como os antigripais, por exemplo, foram incluídos na alíquota reduzida de 60%. O relatório de Reginaldo Lopes (PT-MG), membro do grupo de trabalho da regulamentação da reforma, indicou a supressão das mudanças feitas pelos senadores no que se refere aos medicamentos e retornou com o que foi acordado pelos deputados. Na Câmara dos Deputados ficou estabelecido a redução de 60% do CBS e IBS aos produtos básicos de higiene pessoal, medicamentos não isentos, serviços médicos e 71 fórmulas de nutrição. Os deputados também especificaram a isenção de impostos para os produtos de saúde menstrual, que antes teriam redução de 60%, como tampões, absorventes higiênicos e coletores menstruais.
O texto seguiu para o Senado, que votou o texto na última quinta-feira (12/12). Depois da votação dos senadores, os deputados do GT voltaram a se reunir em Brasília para discutir possíveis alterações na proposta, que contou com a relatoria do senador Eduardo Braga (MDB-MA). Um dos principais pontos de desacordo dos deputados na proposta aprovada no Senado é em relação à trava para evitar que a alíquota do Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) ultrapasse os 26,5%, estabelecida na Câmara. O imposto abrange o IBS, de competência estadual e municipal, e o CBS, ligado à gestão federal. Os senadores majoraram a trava acima de 28%. Essa mudança foi revertida pelos deputados.
A discussão da regulamentação da reforma tributária iniciou ainda na noite de segunda-feira (16/12), mas a votação foi adiada para terça porque, segundo o presidente da Câmara, havia um baixo número de deputados presentes para análise da proposta. Durante a discussão da matéria, o PL apresentou um destaque para votação em separada do um trecho sobre itens beneficiados por incentivos fiscais concedidos na Zona Franca de Manaus. Um dos itens do artigo em questão fala sobre benefícios fiscais a derivados do petróleo. A proposta, no entanto, estabelece que os produtos são para destino interno na Zona Franca de Manaus ou refinado na área de beneficiamento fiscal. No entanto, o destaque do PL foi retirado após apelo dos líderes e os deputados aprovaram o parecer de Reginaldo Lopes.