Projeto para ampliar aterro sanitário em SP enfrenta impasse na votação

Projeto para derrubar 10 mil árvores e ampliar aterro sanitário em SP não atinge
votos suficientes

Proposta teve inclusão de ‘jabutis’ como a flexibilização das regras para
emissão de ruídos em shows e não passou em 2º turno por um voto. Nova votação
deve ocorrer na sexta-feira (20).

A Câmara Municipal de São Paulo vota projetos nesta quarta-feira (18) — Foto:
Reprodução/Youtube Câmara Municipal de São Paulo

O projeto de lei que prevê a transformação de uma área de preservação ambiental
em São Mateus, na Zona Leste de São Paulo, em aterro sanitário e a instalação de um incinerador não atingiu a votação necessária e teve a decisão adiada na Câmara Municipal por apenas um voto.

A votação aconteceu já na madrugada desta quinta-feira (19), pouco depois da meia-noite. A proposta precisava de dois terços dos votos da casa, ou seja, 37 dos 55 vereadores. Porém, o projeto teve 36 votos favoráveis e 16 contrários, sem nenhuma abstenção.

Os vereadores iniciaram a votação da proposta sob gritos de “crime ambiental” do
público presente na Casa. Ao não atingir a votação necessária, houve comemoração
do público e dos vereadores que votaram contra o projeto.

A proposta, que teve a inclusão de “jabutis” — temas distintos ao projeto original —, deverá ser votada novamente na sexta-feira (20), quando os vereadores também decidirão sobre o orçamento da capital paulista para 2025, previsto em R$ 125 bilhões, entre outros projetos.

Para a criação do aterro que o projeto prevê terão que ser cortadas 10 mil árvores, entre elas quase mil nativas da Mata Atlântica. A oposição e urbanistas afirmam que não foram apresentados detalhes do projeto para debate. Eles argumentam que o terreno possui córregos, além da nascente do Rio Aricanduva.

O projeto já havia sido aprovado em primeira votação e passou por uma audiência pública. No texto substitutivo, houve a inclusão de um trecho que busca flexibilizar as regras sobre a emissão de ruídos em shows e eventos na capital.

Além disso, em outra emenda, a proposta quer permitir que construtoras construam
prédios em cima de estações do metrô e terminais de ônibus para vender os imóveis.

A proposta de flexibilizar as regras sobre a emissão de ruídos em shows e eventos na capital foi incluída no mesmo projeto de lei que trata do aterro — sem que tivesse sido votada na primeira discussão.

O vereador Celso Giannazi (PSOL) relembrou um caso parecido que aconteceu no fim de 2022. Na ocasião, a Câmara aprovou um projeto de regulamentação das cozinhas industriais na cidade e, no mesmo texto, também aprovou um artigo que tratava do aumento do limite de barulho permitido em estádios durante shows.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) sancionou o projeto menos de 24
horas depois da aprovação dos vereadores. No entanto, em 2023, o Tribunal de
Justiça de São Paulo decidiu que o trecho que tratava do aumento de limite de ruídos era inconstitucional e retirou o tema da lei.

Segundo Giannazi, o mesmo pode acontecer com o projeto de lei em trâmite neste
ano. “Da mesma forma, não tem pertinência temática. Tudo igual. Desrespeitando a
decisão judicial, né, que é bem clara. Estão repetindo o que foi feito lá atrás.
É um absurdo total.”

Uma vez aprovado o projeto, shows não precisarão seguir legislações federais,
estaduais ou municipais sobre o tema e poderão, por exemplo, extrapolar o limite
de ruído definido em lei atualmente.

Em nota, a prefeitura da capital paulista informou que a proposta “segue na
direção de consolidar o papel de São Paulo como capital de eventos e fomento a
geração de emprego e renda”, mas não explicou o motivo pelo qual o tema foi
incluído em um projeto que foge do tema apresentado.

“Importante destacar que o assunto será objeto de regulamentação”, explicou a
administração municipal.

Moradores de São Mateus acompanharam a discussão da proposta, que começou por
volta do meio-dia da quarta-feira (18). Durante a fala de vereadores das
bancadas do PSOL e do PT, eles se manifestaram no plenário contra o aterro e o
incinerador. Parlamentares, inclusive, elogiaram o fato de os eleitores
acompanharem a votação e as audiências.

Os vereadores Eliseu Gabriel (PSB), Silvia da Bancada Feministra (PSOL), Luana
Alves (PSOL), Professor Toninho Vespoli (PSOL), Celso Giannazi (PSOL), Hélio
Rodrigues (PT), Luna Zarattini (PT), Alessandro Guedes (PT), Manoel Del Rio
(PT), João Ananias (PT) e Senival Moura (PT) fizeram críticas a Nunes sobre o
projeto prejudicar o meio ambiente antes de abrir a votação.

Luna Zarattini (PT) chegou a enfatizar, durante sua fala, que Ricardo Nunes
(MDB) merecia o “Prêmio Jabuti”, por colocar um tema totalmente distinto no
texto do projeto de lei sobre o aterro.

Silvia, do PSOL, também mencionou que o prefeito deveria ser premiado com o
“Prêmio Motosserra de Ouro” pelo corte de árvores.

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STF valida Lei do Despejo Zero em Piracicaba para acolhimento social

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu validar uma lei originada de projeto de iniciativa popular que prevê acolhimento social de moradores de ocupações que são alvo de despejo em Piracicaba (SP). A decisão foi tomada após um recurso ser acolhido, e a lei busca garantir o acolhimento de pessoas vulneráveis em situações de despejo, proporcionando habitação, saneamento, fontes de renda e trabalho, entre outras medidas. No entanto, a validação da lei se aplica apenas a ocupações de áreas públicas, não se estendendo a ocupações de áreas privadas.

O objetivo principal da lei é reduzir os impactos sociais das reintegrações de posse determinadas pela Justiça na cidade, estabelecendo critérios para as ordens de despejo ou remoção. Alguns desses critérios incluem a garantia de habitação para as famílias vulneráveis, a manutenção do acesso a serviços básicos como comunicação, energia elétrica, água potável, saneamento e coleta de lixo, além da proteção contra intempéries climáticas, acesso aos meios de subsistência e privacidade, segurança e proteção contra violência.

A lei também determina que o poder público notifique as pessoas que serão desalojadas, realize audiências de mediação entre as partes envolvidas e insira as pessoas removidas em programas e políticas sociais. No entanto, a prefeitura de Piracicaba contestou a lei na Justiça, alegando inconstitucionalidade e apontando despesas extras com logística e alojamento, sem indicar a fonte de recursos para tais custos. A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) julgou a lei inconstitucional em setembro de 2023.

O ministro Dias Toffoli, em sua decisão sobre o caso, considerou que a lei do Despejo Zero está alinhada aos direitos sociais previstos na Constituição e que não invade a competência do Poder Executivo. Por outro lado, a extensão do acolhimento a ocupações de áreas particulares foi considerada inconstitucional. O Coletivo Despejo Zero de Piracicaba destacou a importância da lei para garantir o direito à moradia e dignidade, ressaltando a participação popular no processo de aprovação da lei.

De acordo com novos dados do Censo de 2022 do IBGE, Piracicaba possui mais de 10 mil pessoas vivendo em favelas e comunidades urbanas, distribuídas em 16 áreas com um total de 4.590 moradias. O censo aponta que a idade mediana dessa população é de 26 anos, e metade dos moradores da Comunidade Renascer são crianças, adolescentes, idosos, gestantes ou pessoas com deficiência. A ação para remoção das famílias do local foi suspensa temporariamente até o julgamento de um recurso do advogado de defesa, após uma série de manifestações em defesa da Lei do Despejo Zero em Piracicaba.

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