Investigador suspeito de extorquir delator do PCC é parente de chefe da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo
Eduardo Monteiro, chefe de investigações de Polícia, foi preso na terça (17) suspeito de atuar para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Outras seis pessoas também foram presas na mesma operação, da Polícia Federal (PF), ação reúne dados de diversas investigações sobre a facção, inclusive o homicídio do delator Vinícius Gritzbach.
Eduardo Lopes Monteiro, de 47 anos, foi preso nesta terça-feira (17) em Bragança Paulista, SP — Foto: Reprodução
Eduardo Monteiro, chefe de investigações de Polícia, um dos sete presos na terça-feira (17) suspeitos de atuar para o Primeiro Comando da Capital (PCC), é sobrinho da Chefe da Corregedoria Geral da Polícia Civil de São Paulo, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibañez. A Corregedoria é responsável por investigar os policiais.
Segundo a investigação da PF, o suspeito usava a relação familiar para se proteger de investigações. Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, o delator do PCC que foi executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, durante a delação premiada teria dito ter um áudio onde Eduardo afirmou que não tinha medo da Corregedoria porque uma tia dele era chefe do local.
Eduardo é acusado de extorquir Gritzbach, inclusive, quando o delator foi preso, o investigador teria se apropriado indevidamente de bens do empresário, como relógios, computadores e dinheiro em espécie. Ainda segundo o relatório da PF, o investigador teria realizado diversas operações financeiras suspeitas que foram interceptadas pelo RIF e pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que revelou indícios de lavagem de dinheiro por parte de Eduardo, como movimentação de recurso financeiro incompatível com o seu patrimônio, atividade econômica e sua ocupação profissional, utilização de contas com pouca movimentação para depósito de valores altos e transações imobiliárias com valores declarados diferentes dos valores de mercado.
Antes de virar investigador da Civil, Eduardo teria atuado no 8º Batalhão da Polícia Militar. Ele também é sócio das empresas MD CONSTRUÇÕES e da BARONESA MOTORS LTDA, que podem ter sido usadas para ocultar a origem ilícita de bens e valores.
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Segundo as investigações, o esquema criminoso envolveria manipulação e vazamento de investigações policiais, venda de proteção a criminosos e corrupção para beneficiar um esquema de lavagem de dinheiro do PCC. A ação é realizada pela Polícia Federal (PF) e promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), com apoio da Corregedoria da Polícia Civil. A Justiça decretou a prisão temporária dos investigados, buscas e apreensões em endereços relacionados a eles, e outras medidas cautelares, como bloqueio de contas bancárias e o sequestro de bens. A operação é resultante do cruzamento de diversas investigações sobre o PCC, inclusive o assassinato do delator Vinícius Gritzbach, ocorrido em 8 de novembro, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. (Veja no vídeo abaixo.)
Dinheiro e armas apreendidos durante operação da PF e do MP-SP contra policiais corruptos ligados ao PCC — Foto: Reprodução/TV Globo
São 130 policiais federais e promotores com apoio da Corregedoria nas ruas. Ao todo, são 8 mandados de prisão e 13 de busca e apreensão na capital de São Paulo e nas cidades de Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba, no interior do estado. A PF apreendeu R$ 620 mil, US$ 1 mil e 1,5 mil euros na casa de um dos policiais investigados. Os sete presos foram levados inicialmente para a carceragem da Polícia Federal, na capital. Nesta quarta-feira (18) eles passarão por audiência de custódia na Justiça. Se as prisões forem mantidas, os agentes seguirão para o presídio da Polícia Civil. Já os outros alvos presos irão para uma unidade prisional comum. Os investigados, de acordo com suas condutas, vão responder pelos crimes organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais. As penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão. A operação foi batizada de Tacitus, termo que vem do latim que significa silencioso ou não dito, em alusão à forma de atuar da organização criminosa.