Ambulatório para pessoas transexuais volta a funcionar após mais de 1 ano com atendimentos suspensos em Sorocaba
Atendimento na UBS da Vila Fiori tinha sido interrompido em julho de 2023 e estava sendo realizado no hospital Santa Lucinda e no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS).
Associação de Transgênero de Sorocaba (ATS) consegue apoio para reabertura do ambulatório médico — Foto: Divulgação / @izasouzalima
Pessoas transgêneros que vivem em Sorocaba (SP) voltaram a ter atendimento médico na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Fiori. O direito foi garantido após manifestações da Associação de Transgênero de Sorocaba (ATS), com apoio Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Os atendimentos da UBS Vila Fiori para pessoas trans foram interrompidos em julho de 2023 e transferidos para ambulatório no Hospital Santa Lucinda, em Sorocaba. No entanto, segundo o Ministério Público, os retornos foram cancelados a partir de abril e não foram criadas agendas para novos atendimentos.
Neste período, pacientes que precisavam de acompanhamento regularmente sentiram a dificuldade para garantir o direito à saúde. Segundo eles, por mais que o atendimento tenha sido transferido para outras unidades de Sorocaba, a demora e a fila de espera eram desanimadoras.
Danyel Almeida Rodrigues, de 24 anos, foi um dos primeiros a fazer o tratamento no ambulatório trans da Vila Fiori, na época em que foi inaugurado. Ele relembra que o atendimento continuou no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) após o fechamento da unidade, mas com um prazo maior. “O prazo de três meses para retorno foi prorrogado para seis meses”, afirma.
Danyel conta que tem uma consulta marcada na UBS Vila Fiori em fevereiro de 2025, para entregar os exames. Já Thomas Victor Barreto Cardoso, 29 anos, está na fila para ser atendido desde a época em que o ambulatório foi aberto pela primeira vez, em 2022.
Agora, com a volta do atendimento, o Thomas Victor conseguiu agendar consulta com o especialista para receber o encaminhamento e começar o tratamento. “Eu continuei minha hormonioterapia no particular, agora com a reabertura, estou iniciando o processo, aguardando minha consulta com o clínico, agendada para fevereiro e ter o encaminhamento”, conta.
Fábia Ferraz, presidente da Associação de Transgênero de Sorocaba (ATS), reforça sobre a pouca oferta no atendimento comparado com a alta procura. “O ambulatório reabre com uma fila de espera de 122 pessoas e acredito que muitos mais procurarão sabendo que voltou a funcionar, então, não se tem uma estimativa se a quantidade de vagas será suficiente”.
Em nota, a Prefeitura de Sorocaba afirma que os atendimentos na UBS Vila Fiori retomaram no dia 22 de novembro para cerca de 100 pessoas, e que o fluxo se dá por meio da Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência do usuário ou Centro Municipal de Atendimento Especializado (CMAE).
“Uma vez identificado o desejo de hormonioterapia, o profissional de saúde gera a guia de referência e agenda o paciente com profissional da equipe multiprofissional. Após esse acolhimento, é realizada avaliação e um relatório. Vale ressaltar que os atendimentos no ambulatório ocorrem após o usuário ser comunicado da data da consulta, sendo necessário ocorrer o agendamento com antecedência. Para mais informações sobre o ambulatório, as pessoas interessadas podem procurar as UBS mais próxima”, trecho afirmado na nota.
“A prefeitura tentou até o último momento não se responsabilizar por isso, jogando a responsabilidade para o Estado, alegando que não havia demanda e outras mil desculpas. Nós acionamos a [deputada] Erika Hilton (PSOL) quando tivemos o fechamento do ambulatório, fizemos abaixo-assinado, recolhemos depoimentos e denúncias ao MP”, afirma Thomas Victor, vice-presidente da ATS.
A presidente da ATS, Fábia Ferraz, conta como foi o processo para garantir o atendimento ao público trans. “Antes mesmo dele ser aberto, em novembro de 2022, a ATS fez muitas formações sobre gênero e diversidade sexual para os profissionais da saúde, capacitando-os para um atendimento humanizado”.
“Após o fechamento, entramos com denúncias através do nosso jurídico ao Ministério Público, incentivamos usuários que tinham seus acompanhamentos interrompidos a denunciarem. Para a luta ganhar ainda mais força, a associação e pessoas que estavam tendo problemas de saúde por falta de acompanhamento fizeram um abaixo-assinado, e um protesto na Praça Central e Audiência Pública na Câmara, com apoio da vereadora Fernanda Garcia (PSOL).”