Ex-PM, investigador preso atuou em batalhão de seguranças de Gritzbach
Preso sub suspeita de usar cargo na Polícia Civil para ajudar em ações
criminosas do PCC, Eduardo Monteiro já foi soldado do 18º Batalhão de.
São Paulo – Antes de ingressar na Polícia Civil, onde usou o cargo
de chefe de investigações para barganhar propinas com criminosos do Primeiro
Comando da Capital (PCC) – como consta em investigação da Polícia Federal (PF)
– Eduardo Monteiro, que está preso desde o último dia 17, compôs o efetivo do 18º Batalhão
da Polícia Militar.
> “Coincidência ou não, o mesmo [batalhão] dos policiais militares que faziam a
> escolta de [Vinícius] Gritzbach, no dia do homicídio [de Gritzbach]”, diz
> trecho de inquérito da Superintendência da PF em São Paulo.
O Metrópoles encontrou a edição do Diário Oficial, de 12 de setembro de 2002, na
qual o então soldado Eduardo Lopes Monteiro foi exonerado da PM,
após ser empossado como investigador de 5ª Classe da Polícia Civil. Desde então, ele cresceu de cargo na
instituição, na qual ocupou a chefia do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Empresário, preso sob suspeita de mandar matar membros do PCC, foi solto por
determinação do STJ. Delator do PCC, Vinícius Gritzbach foi executado no Aeroporto de Guarulhos.
Antônio Vinícius Gritzbach, delator do PCC, foi morto no aeroporto de Guarulhos. Namorada de Gritzbach é influenciadora e já foi candidata a vereadora.
Foi na coordenação das investigações do DHPP que a PF identificou a relação de
Eduardo Monteiro com membros do PCC, incluindo da alta cúpula da facção.
A relação do chefe de investigações com o crime organizado foi denunciada pelo
corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, em uma delação premiada ao Ministério
Público de São Paulo (MPSP), na qual ele deu detalhes, além de provas, de como
Eduardo Monteiro, aliado ao delegado Fábio Baena, também do DHPP, extorquiam
milhões de criminosos para livrá-los de investigações.
Gritzbach, o delator, foi assassinado com dez tiros de fuzil dias depois, quando
desembarcou de um voo, vindo de Alagoas, no Aeroporto Internacional de São
Paulo, em 8 de novembro. Quem fazia sua escolta particular, na ocasião, eram
policiais do 18º BPM. Todos foram afastados das ruas com a repercussão obtida
pelo caso.
EX-PM, CIVIL E SOBRINHO DA CORREGEDORA
Como o Metrópoles mostrou, Eduardo Monteiro foi sócio de duas empresas de
construção de imóveis de alto padrão e venda de carros esportivos importados.
Há um ano, ele deixou os dois negócios, mas sua mulher permaneceu nas
companhias. Nas empreitadas, ele se associou a um empresário que é filho de um
ex-delegado do Departamento de Ordem Polícia e Social (Dops), acusado de tortura
ao lado do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, durante a ditadura militar.
Monteiro é atualmente investigador de classe especial e ganha R$ 11,9 mil
líquidos por mês. Ele foi citado pelo delator Vinícius Gritzbach como um dos
policiais civis que cometeram “ilicitudes e arbitrariedades” na investigação
sobre os assassinatos do traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, e de
Antônio Corona Neto, o Sem Sangue – ambos do PCC.
Segundo Gritzbach, Eduardo Monteiro e o delegado Fábio Baena pediram R$ 40
milhões para deixá-lo de fora da lista de indiciados pelo duplo homicídio. Ele
ainda relatou o sumiço de bens apreendidos, como relógios de luxo, atribuindo
aos policiais o roubo das peças.
Na representação em que pediu a prisão dos policiais investigados, os promotores
do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP,
afirmaram que Eduardo Monteiro não temia “qualquer investigação” por parte da
Corregedoria da Polícia Civil, “uma vez que sua tia seria corregedora, dando a
entender que ele tem [tinha] plenas condições de influenciar eventuais
investigações de infrações funcionais”.
Três dias após a prisão do sobrinho, alegando desgaste, a agora
ex-corregedora-geral da Polícia Civil, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez,
pediu para ser afastada do cargo.
POLICIAIS CIVIS PRESOS
Como resultado da delação, aliada à investigação da PF, foram presos no último
dia 17 – além de Monteiro e Baena – o chefe de investigações do Corpo Especial
de Repressão ao Crime Organizado (Cerco), da 5ª Delegacia Seccional da capital
paulista, Marcelo Marques de Souza e o investigador Marcelo Roberto Ruggieri.
O agente de telecomunicações da Polícia Civil Rogério de Almeira Felício, o
Rogerinho, também foi alvo de um dos mandados de prisão. Ele ficou foragido da
Justiça por quase uma semana e se entregou, na segunda-feira (23/12), após sua
defesa negociar a rendição dele com a Delegacia Geral.
Os policiais presos vão responder pelos crimes de organização criminosa,
corrupção ativa e passiva, além de ocultação de capitais, cujas penas somadas
podem alcançar 30 anos de prisão.