Formanda surda faz discurso em Libras durante colação de grau unificada da Universidade Federal de Juiz de Fora
Thaís Monteiro se formou no curso de Letras-Libras e foi a primeira oradora a realizar um discurso em língua de sinais da instituição. Cerimônia reuniu estudantes de outros 13 cursos.
Thaís Monteiro se tornou a primeira oradora a realizar um discurso em língua de sinais — Foto: Thaís Monteiro/Arquivo pessoal
Um dos pontos altos da cerimônia de colação de grau da Diário do Estado (UFJF) foi o discurso em Língua Brasileira de Sinais (Libras) feito pela formanda surda Thaís Monteiro. Ela se tornou a primeira oradora a realizar um discurso em língua de sinais na instituição.
Em 2016, Thaís ingressou no curso de Letras-Libras da UFJF, por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), um ano após a primeira estudante surda ingressar na UFJF.
Thaís destaca que o caminho até a universidade não foi fácil, devido à falta de acessibilidade, e que desde criança encontrou dificuldades nos estudos, pois mesmo em escolas particulares, não pôde contar com a ajuda de profissionais capacitados para o ensino em Libras.
Justamente por isso, ela tem o sonho de seguir na carreira docente para acabar com as barreiras entre ouvintes e surdos na educação.
Thaís sonha em ser uma voz ativa na inclusão como professora e influencer digital — Foto: Thaís Monteiro/Arquivo pessoal
A formanda conta que quando seu nome foi sorteado para ser oradora na cerimônia de colação de grau de 13 cursos, ela ficou surpresa e muito feliz. As solenidades aconteceram nos dias 11 e 12 de dezembro.
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, a partir da aprovação da Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, pelo Governo Federal. Isso trouxe diversos avanços para a participação efetiva dos surdos na sociedade, gerando grandes impactos no ensino e na formação.
Anos atrás, era muito difícil ver intérpretes, tradutores e materiais traduzidos, mas nos últimos anos é cada vez mais recorrente. No entanto, para Thais, o caminho da inclusão é longo, já que a sociedade ainda não está preparada para lidar com pessoas com deficiência, devido aos preconceitos e falta de acessibilidade.
Estudante surda é oradora da turma durante formatura em Juiz de Fora
A UFJF conta com o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI), que auxilia os discentes com deficiências. “Os alunos com deficiência procuram o apoio do NAI e nós agendamos um primeiro momento de acolhimento para ouvir o que os alunos precisam e o que a universidade precisa adaptar. Depois dessa conversa traçamos estratégias para garantir a acessibilidade”, explica a coordenadora Aline Garcia.
Segundo dados do NAI, a UFJF tem 11 estudantes e três professores surdos sinalizantes da Libras. Os alunos surdos contam com intérpretes que acompanham as aulas.
Além disso, o curso de Letras-Libras oferece 30 vagas anualmente, além de outras três em um edital especial para surdos, ambos com entrada no segundo semestre
A UFJF também tem o programa de extensão “Acessibilidade linguística para surdos – ALiS”, para projetos e ações que tenham objetivo de tratar da acessibilidade e da permanência de indivíduos surdos na universidade, além de sua integração linguístico-social.
E, ainda, um curso de educação especial inclusiva, do Parfor, programa federal que oferece cursos de licenciatura nesse tema para formar professores que atuem nas redes públicas de educação básica.