Sapo exclusivo da África do Sul tem aparência semelhante a um ‘abacate rabugento’
Espécie que não ultrapassa os 5 cm possui estratégia de defesa impressionante e
é considerada uma das joias das montanhas sul-africanas.
1 de 3 Anfíbio é apelidado de ‘abacate rabugento’ devido a aparência — Foto:
Amaël Borzée/ iNatualist
Anfíbio é apelidado de ‘abacate rabugento’ devido a aparência — Foto: Amaël
Borzée/ iNatualist
Em meio às montanhas Cape Fold, na África do Sul, vive um pequeno anfíbio que
surpreende com sua aparência carrancuda e hábitos inusitados, o Black Rain Frog
(Breviceps fuscus), ou ‘sapo da chuva preta’, na tradução literal, mas que é
carinhosamente apelidado como “abacate rabugento”.
E o motivo é justamente por se assemelhar a fruta: ele possui a pele escura e
irregular, de cor marrom ou preta, com alguns grânulos pronunciados e amplamente
espaçados, como pequenos caroços. Segundo Diego Santana, especialista em
anfíbios, as variações morfológicas têm aspectos de onde o bicho ocorre, tipo de
habitat e hábito dele (nesse caso, por se enterrar na areia).
A espécie é exclusiva da África do Sul e pertence ao gênero Breviceps, que
abrange cerca de 20 espécies distribuídas por toda a África. Anfíbios desse
gênero são encontrados predominantemente nas regiões áridas e semiáridas do
leste e sul do continente africano, com maior concentração na parte meridional,
onde o ambiente desafia seus habitantes a desenvolverem adaptações únicas para
sobreviver.
2 de 3 Espécie vive boa parte do tempo em tocas subterrâneas — Foto:
Hermanviviers/ iNaturalist
Espécie vive boa parte do tempo em tocas subterrâneas — Foto: Hermanviviers/
iNaturalist
Entre as curiosidades do sapinho abacate, se destaca o fato dele ser fossorial,
ou seja, passa a maior parte do tempo em tocas subterrâneas, absorvendo umidade
diretamente do solo, uma adaptação essencial para sobreviver em regiões onde a
água é escassa. Além disso, é uma espécie diminuta, não ultrapassa os cinco
centímetros e alimenta-se de pequenos insetos.
Quando ameaçado, infla o corpo como um balão, dificultando que predadores o
removam de seus esconderijos. De acordo com Santana, essa estratégia ocorre para
dois propósitos principais: parecer um pouco maior e mais intimidador e tornar
mais difícil de ser engolido pelos predadores.
> “Umas das coisas que deixaram os Breviceps ‘famosinhos’ são alguns vídeos
> deles ‘gritando’, o que na verdade é um grito de desespero (canto agonístico).
> Várias espécies apresentam esse grito agonístico, e pode parecer ‘engraçado’,
> mas na real, o bicho está estressadíssimo e assustado”, explica Diego.
Algumas espécies brasileiras também realizam esse comportamento. Um exemplo é
Proceratophrys cristiceps, um anfíbio endêmico do nosso país. Um estudo
publicado em janeiro de 2015 na revista Herpetology Notes explica o
comportamento do chamado ‘Distress Call’ do sapo brasileiro, que também é
praticado pelo B. fuscus.
3 de 3 Ao se sentir ameaçado sapinho infla e emite sons agonísticos — Foto:
Jessi Venter/iNaturalist
Ao se sentir ameaçado sapinho infla e emite sons agonísticos — Foto: Jessi
Venter/iNaturalist
Segundo o documento, quando capturados por um predador, sapos podem emitir
gritos de angústia. Esse tipo de vocalização é caracterizado por sons altos e
explosivos emitidos por machos, fêmeas e juvenis em resposta a perturbações de
potenciais predadores. O ‘Distress Call’ pode ser acompanhado por exibições de
alerta, como inflar o corpo, um comportamento defensivo comum entre os anuros.
De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF), durante a temporada de
reprodução no verão, a espécie pode ser ouvida em grandes coros que duram vários
dias em clima chuvoso. Por conta disso, o gênero Breviceps é associado pelas
populações locais como um sinal de chuva iminente.
Diferentemente da maioria das espécies de sapos, esses não precisam de acesso a
água aberta para pôr ovos ou se reproduzir. Em vez disso, as fêmeas colocam seus
ovos em ninhos rasos subterrâneos, que os machos guardam até que os embriões
eclodam — não como girinos, mas como pequenos sapos já totalmente formados.
Essa estratégia incomum reduz a exposição a predadores e aumenta as chances de
sobrevivência dos filhotes, mostrando como essa espécie soube se adaptar com
engenhosidade ao seu habitat hostil.
*Texto sob supervisão de Ananda Porto