Apanhadores de flores na Serra do Espinhaço: rotina reconhecida pela ONU em edição especial de 45 anos do Diário do Estado

Diário do Estado 45 anos: edição especial mostra rotina de agricultores da transumância, reconhecida pela ONU como patrimônio agrícola mundial

Apanhadores de flores fazem casas improvisadas na Cordilheira do Espinhaço, em Minas Gerais, para se manter próximos às áreas de colheita da flor sempre-viva, fonte de renda dessas pessoas.

Mulher colhendo flores sempre-vivas na Cordilheira do Espinhaço, em Minas Gerais. — Foto: Reprodução/Jornal Nacional

Centenas de famílias vivem em constante mudança na Cordilheira do Espinhaço, em Minas Gerais. Um modo de existência que foi reconhecido pela ONU como patrimônio agrícola mundial.

“Vamos subir a serra, pessoal”

São horas de subida para alcançar o topo.

No alto da montanha, homens e mulheres andam quilômetros juntando flores desidratadas naturalmente: as sempre-vivas.

> “Eu tirei o dia para pensar quem era eu”, cantam os apanhadores das flores.

A atividade garante pelo menos metade da renda das famílias.

“Você compra tudo, você compra porco, você compra tudo que a gente interessar”, disse a agricultora Salete Gomes.

Para fazer a coleta, os apanhadores passam meses vivendo em casas de rocha, conhecidas como lapas.

Essas casas em Diamantina são equipadas com fogão, uma dispensa onde vão guardando os alimentos que vão consumir nas próximas semanas, nos próximos meses, e no fundo tem as camas. Os moradores usam toras de madeira, um colchãozinho e um cobertor por cima. E é nestes locais que as famílias vão repousar durante todo o período que estiverem realizando a coleta.

“A gente pode deitar, rolar pra lá e pra cá que está firme”, brinca Salete.

Casas de rocha, conhecidas como lapas, que abrigam durante meses apanhadores de flores sempre-vivas em Minas Gerais. — Foto: Reprodução/Jornal Nacional

As moradas são passadas de geração para geração.

“Que Deus deu a colheita, plantou a sempre-viva para nós e deu a nós o lugar de morar”, afirmou a agricultora Jovita Correia.

> Os buquês terminam de secar camuflados nas pedras. “Aqui ela toma o sol da manhã e fica chique”, afirmou o agricultor Lorico Correia.

Mais de duzentas toneladas de sempre-vivas são exportadas por ano. Algumas espécies, como o capim dourado, viram vaso, chapéu, bolsa.

Os agricultores ainda cultivam alimentos e criam animais, que também migram na época da seca para onde o alimento é farto.

Esse sobe e desce se repete várias vezes ao longo do ano e tem nome: transumância. Um modo de vida reconhecido pela Organização das Nações Unidas como patrimônio agrícola mundial – o primeiro e único do Brasil.

> “Foi maravilhoso de pensar que o modo de ser, fazer e viver dessas comunidades é importante para o mundo. É o reconhecimento do sistema vivo, e ele tem que se manter”, afirmou a agricultora Maria de Fátima Alves.

Os apanhadores de flores da Serra do Espinhaço são o tema da edição especial que comemora os 45 anos do Diário do Estado. Neste domingo (5), a partir das 8h40 da manhã.

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Temporal em Dom Silvério: moradores resgatados, pontes derrubadas e 41 cidades mineiras em situação de emergência

Nove pontes derrubadas e casas debaixo d’água: após temporal, cidade de 5 mil habitantes convive com lama e sujeira

De acordo com a Prefeitura de Dom Silvério, na Zona da Mata, a chuvarada desta terça-feira (7) deixou a cidade no escuro. Mais de 40 cidades mineiras estão em situação de emergência por causa da chuva.

Uma das pontes que foram derrubadas durante o temporal — Foto: Prefeitura de Dom Silvério/Divulgação

A tempestade que atingiu Dom Silvério, na Região da Zona da Mata, em Minas Gerais, nesta terça-feira (7), derrubou nove pontes – três dentro da área urbana e seis na zona rural –, deixou a cidade no escuro e ainda levou muita lama para dentro das casas.

O município tem 5.228 habitantes e foi totalmente afetado pela chuvarada. Moradores tiveram que sair de casa no meio da enxurrada. Alguns deles contaram até com a ajuda do próprio prefeito da cidade, Zé Bráulio (União), que usou cordas no resgate. (veja vídeo mais abaixo)

Moradores são resgatados com cordas por prefeito durante enchente em MG

Um mutirão de limpeza reuniu 150 pessoas nesta manhã na cidade. No fim da manhã, o abastecimento de água e o fornecimento de energia elétrica foram normalizados.

Após temporal, mutirão de limpeza é feito em Dom Silvério

De acordo com a prefeitura, ainda não se sabe o número de desabrigados e desalojados.

Minas Gerais tem 41 municípios em situação de emergência por causa das chuvas. As cidades de Conceição do Pará, na Região Centro-Oeste, Coronel Fabriciano, no Leste, e Nepomuceno, no Sul, estão em estado de calamidade pública. Onze pessoas morreram no atual período chuvoso no estado, iniciado no fim de setembro — a maior parte dos óbitos ocorreu em dezembro. As mortes foram registradas em Uberlândia (1), Ipanema (3), Maripá de Minas (1), Coronel Pacheco (1), Raul Soares (2), Nepomuceno (1), Capinópolis (1) e Alterosa (1). Os dados constam no boletim da Defesa Civil de MG desta terça-feira (7). Ao todo, 1.268 pessoas já ficaram desalojadas no estado, e outras 183, desabrigadas (com necessidade de abrigo público).

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