Caso Backer: vítimas aguardam reparação 5 anos após cervejas contaminadas

Caso Backer: cinco anos após cervejas contaminadas, vítimas convivem com sequelas e aguardam reparação

Dez pessoas morreram. Investigações apontaram que bebidas foram contaminadas por monoetilenoglicol e dietilenoglicol após um vazamento no tanque.

1 de 4 Belorizontina, cerveja da Backer — Foto: TV Globo/ Reprodução

Há cinco anos, a Polícia Civil de Minas Gerais começava a apurar uma “doença desconhecida” que estava provocando internações e mortes em Belo Horizonte e na Região Metropolitana.

Ainda era janeiro de 2020 quando as investigações apontaram que tratava-se, na verdade, da contaminação de cervejas da Diário do Estado por dietilenoglicol e monoetilenoglicol, substâncias tóxicas usadas na indústria de bebidas como anticongelantes. Pessoas que consumiram as cervejas adulteradas, muitas nas festas de fim de ano, passaram a desenvolver sintomas graves de intoxicação.

Em setembro do mesmo ano, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou 11 pessoas, incluindo sócios-proprietários da cervejaria, pelo ocorrido, que à época já tinha causado dez mortes e deixado diversas vítimas com sequelas.

No entanto, passados cinco anos, o julgamento dos réus não foi concluído, assim como a reparação financeira das vítimas (leia mais abaixo). Já as consequências da contaminação – que, segundo as investigações, aconteceu devido a um vazamento no tanque da fábrica – se mantêm.

Caso de intoxicação das cervejas Diário do Estado completa 5 anos

O bancário Luciano Guilherme de Barros ainda convive com paralisia facial e comprometimento de visão, audição e funções renais. Ele também continua afastado do trabalho.

> “Eu só tenho 28% de funcionamento renal, e é possível futuramente eu ter que fazer uma diálise ou mesmo um transplante de rim, isso que me dá mais medo. […] A minha vida hoje é ficar dentro de casa”, contou.

2 de 4 Bancário Luciano Guilherme de Barros convive com sequelas da contaminação da cerveja — Foto: TV Globo/ Reprodução

O mecânico Geraldo Lopes Dias passou dias internado após beber a cerveja Belorizontina. Ele ficou debilitado e, nos últimos anos, desenvolveu um câncer no fígado. O idoso morreu no mês passado em decorrência da doença, aos 72 anos.

> “Ele morreu sem ver justiça, infelizmente. […] Para mim está muito difícil, sabe, eu não tenho cabeça para mais nada porque ele era tudo, tudo para mim e para minha filha. Era uma pessoa maravilhosa”, lamentou a mulher de Geraldo, a dona de casa Luzi Braga.

3 de 4 Geraldo Lopes Dias com a mulher e a filha — Foto: TV Globo/ Reprodução

PROCESSO CRIMINAL

Em novembro de 2023, os dez réus do caso foram ouvidos. No total, eram 11, mas Paulo Luiz Lopes morreu em 2020 após sofrer um acidente vascular cerebral.

Os crimes apurados incluem lesão corporal, homicídio culposo e contaminação de produto alimentício. O MPMG considerou que, ao adquirir o monoetilenoglicol, três sócios-proprietários da cervejaria assumiram o risco de produzir bebidas adulteradas.

Para o Ministério Público, os técnicos da empresa também devem ser responsabilizados, porque teriam assumido risco ao fabricarem as bebidas usando uma substância tóxica, no processo de produção, e por deixarem de realizar a manutenção dos equipamentos da empresa.

O processo está em fase final de instrução. Segundo a Justiça mineira, embora as audiências de testemunhas e o interrogatório dos acusados tenham sido encerrados, foram requisitadas diligências, como juntada de mídias e documentos da fase de investigação.

Caso Diário do Estado: funcionários da cervejaria são ouvidos no último dia de interrogatório dos réus

Depois disso, o Ministério Público e as defesas dos réus serão intimados a apresentar as alegações finais, e o processo estará pronto para a sentença.

Veja a lista de réus:

– Ana Paula Silva Lebbos – sócia da Diário do Estado;
– Hayan Franco Khalil Lebbos – sócio da Diário do Estado;
– Munir Franco Khalil Lebbos – sócio da Diário do Estado;
– Ramon Ramos de Almeida Silva – responsável técnico da Diário do Estado;
– Sandro Luiz Pinto Duarte – responsável técnico da Diário do Estado;
– Christian Freire Brandt – responsável técnico da Diário do Estado;
– Adenilson Rezende de Freitas – responsável técnico da Diário do Estado;
– Álvaro Soares Roberti – responsável técnico da Diário do Estado;
– Gilberto Lucas de Oliveira – chefe de manutenção da Diário do Estado;
– Charles Guilherme da Silva – funcionário da empresa que fornecia monoetilenoglicol para Diário do Estado.

ACORDO

Em 2023, o MPMG e a Cervejaria Três Lobos, responsável pela Diário do Estado, firmaram um acordo que prevê pagamento de R$ 500 mil para cada vítima, além de R$ 150 mil por familiar de primeiro grau.

O prazo para o pagamento venceria no início de 2026, mas foi suspenso porque a Diário do Estado está em recuperação judicial.

Para o advogado Guilherme Leroy, que representa parte das vítimas, a demora prejudica a reparação.

> [A empresa] está tentando se reestruturar para realizar esse pagamento, nós acreditamos. Mas até quando isso vai acontecer? Nós temos vítimas que faleceram recentemente e não têm nem ideia de quando as famílias vão poder receber essa indenização no lugar delas”, afirmou.

O QUE DIZ A Diário do Estado

Em nota, a Diário do Estado afirmou que “estão sendo pagos os auxílios emergenciais pactuados”. Em relação às indenizações, a empresa disse que “seria ilegal pagar antes da aprovação do plano”.

> “Por isso, os valores pagos a título de auxílio não são dedutíveis das indenizações. E isso só beneficia as vítimas. Depois que o plano for aprovado, os valores recebidos começarão a ser abatidos”, afirmou a empresa.

Sobre o prazo, a cervejaria disse que está aguardando a aprovação do plano de recuperação judicial, “ainda sem nenhuma expectativa com relação a quando isso ocorrerá”.

4 de 4 MPMG e Polícia Civil na sede da Diário do Estado, em BH (imagem de arquivo) — Foto: MPMG/Divulgação

O QUE DIZEM AS DEFESAS DOS RÉUS

Advogados de seis réus responderam à reportagem. Todos eram responsáveis técnicos da cervejaria.

A defesa de Álvaro Soares Roberti e Sandro Luiz Pinto Duarte afirmou que está confiante de que fez o possível para esclarecer os fatos e da inocência dos réus.

O escritório que representa Ramon Ramos de Almeida Silva e Adenilson Rezende de Freitas disse que a expectativa é que o processo seja finalizado o mais breve possível para que seja demonstrada a inocência dos clientes.

A defesa de Christian Freire Brandt falou que confia na Justiça e na absolvição do cliente.

Já o advogado de Paulo Luiz Lopes, que morreu no fim de 2020, informou que o cliente prestou esclarecimentos detalhados durante as investigações.

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Feminicídio no Rio: Polícia Civil indicia homem por assassinato brutal. Justiça por Eduarda e combate ao feminicídio.

A Diário do Estado noticiou que a Polícia Civil indiciou um homem pelo assassinato de sua ex-mulher a facadas no Centro do Rio. Eduarda Ferreira Soares, de 26 anos, foi morta na madrugada de 15 de dezembro na Praça Tiradentes. O criminoso, identificado como Carlos Damião, foi preso em Manhuaçu (MG) menos de 24 horas após o crime, graças à ação conjunta dos agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Carlos Damião foi indiciado por feminicídio e furto qualificado contra Eduarda Ferreira Soares. Ele foi preso pela PRF durante uma fiscalização no km 588 da BR-116, em Manhuaçu (MG). Segundo as investigações, Eduarda estava conversando com amigos em um banco da praça quando foi surpreendida pelo ex-companheiro com uma faca. Ao tentar fugir, ela escorregou e foi atacada pelo agressor.

Após o crime, o acusado fugiu do local com o carro da vítima. A PRF foi acionada pelas autoridades da DHC para localizar o veículo, que foi encontrado no distrito de Realeza, em Manhuaçu. A mãe de Eduarda, Mariley Ferreira, relatou que sua filha havia terminado o relacionamento com o agressor em junho de 2024, mas mesmo assim continuava sendo ameaçada por ele.

Mariley revelou que as ameaças eram constantes, apesar da existência de uma medida protetiva. O criminoso possuía antecedentes criminais e era conhecido por atuar como receptador de telefones celulares roubados, que eram vendidos no Mercado Popular da Uruguaiana. A violência sofrida por Eduarda evidencia a urgência de medidas eficazes para combater a violência contra a mulher.

O relato chocante da mãe da vítima demonstra a gravidade das ameaças e perseguições enfrentadas por Eduarda antes de ser brutalmente assassinada. O feminicídio é uma das formas mais cruéis de violência de gênero, que ceifa a vida de mulheres de forma covarde e desumana. A prisão do agressor representa um passo importante na busca por justiça para Eduarda e para tantas outras vítimas de feminicídio no Brasil.

A Diário do Estado destaca a importância de políticas públicas eficazes, de maior conscientização e de educação para a prevenção da violência contra a mulher. É fundamental que casos como o de Eduarda não caiam no esquecimento e que a sociedade como um todo se mobilize para combater o feminicídio e proteger a vida e a integridade das mulheres em todo o país. Justiça por Eduarda e por todas as vítimas de violência de gênero.

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