Cientistas constroem ‘máquina do tempo’ para entender efeitos de mudanças climáticas na Amazônia
Parceria entre Unicamp, Inpa e governo britânico reúne pesquisadores de diferentes países. O objetivo é avaliar, por pelo menos uma década, o impacto do aumento de CO₂ na atmosfera.
Entenda como cientistas da Unicamp e do Inpa querem abrir ‘janela’ para 2060 na Amazônia
Cerca de 80 km ao norte de Manaus (AM), em meio à Amazônia, estruturas metálicas que ultrapassam a copa das árvores destoam do cenário tropical. As torres – 96 no total – fazem parte de um experimento científico que busca abrir um “portal” para 2060 e entender os efeitos das mudanças climáticas na floresta.
Chamado de AmazonFACE (acrônimo para free air CO₂ enrichment, em inglês, ou enriquecimento de CO₂ ao ar livre), o experimento inédito é conduzido por pesquisadores da Unicamp, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o governo britânico, e deve durar pelo menos uma década.
Segundo Lapola, a escolha do local para receber o experimento foi pautada por uma necessidade de resolver “uma das maiores fontes de incerteza em relação ao futuro do Amazônia, que é o potencial efeito que o aumento de gás carbônico na atmosfera teria em segurar os efeitos ruins de mudanças climáticas na região sobre a floresta”.
Carlos Alberto Quesada, pesquisador do Inpa que também coordena o experimento, acredita que entender as respostas de florestas tropicais às mudanças climáticas significa entender, concomitantemente, como os seres humanos serão afetados nos próximos séculos.
Em 2014, o AmazonFACE se tornou um programa oficial do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sob a execução do Inpa. Desde então, o governo brasileiro investiu R$ 32 milhões na iniciativa, enquanto o Reino Unido liberou o aporte de 7,3 milhões de libras (R$ 45 milhões). Este investimento milionário reflete a importância e o alcance do projeto.
O experimento reúne aproximadamente 130 pessoas, incluindo pesquisadores, estudantes e cientistas sociais de cerca de 40 instituições. O objetivo é analisar seis componentes-chave, como os fluxos de carbono, a ciclagem de nutrientes, o fluxo de umidade da floresta para a atmosfera, a resposta da fauna e flora, os impactos socioeconômicos e modelos computacionais para formulação de hipóteses.
A abordagem interdisciplinar do AmazonFACE e seu compromisso em abordar questões cruciais de sustentabilidade e mudanças climáticas evidenciam sua relevância e potencial impacto. A busca por compreender como os ecossistemas reagirão às mudanças climáticas é essencial para orientar ações futuras em prol do meio ambiente e da sociedade.