Criminosos têm aplicado golpes se passando por advogados em cidades do Sul de
Minas. Eles acessam os dados dos processos na internet e criam perfis falsos
para enganar pessoas que aguardam por indenizações na Justiça.

A vítima prefere não ter a identidade revelada. No final do ano passado, ele foi
vítima de um golpe. Fez uma transferência bancária no valor de 11 mil reais para
um criminoso que ele acreditou ser o advogado dele.

“Falando que tinha uma boa notícia e que é referente à minha indenização que
tinha sido liberada. E entrou em alguns detalhes falando questão de valores, né,
qual valor que tinha sido liberado e o período meu trabalhado. Tudo aquilo..
eles tinham todas as informações lá. E me pediu um dinheiro que era para entrar
com o processo pra liberar o imposto de renda de 27,5%, que era passivo de pagar
né? E que depois seria ressarcido esse valor. Aí no final da tarde, ele vem com
mais uma cobrança. Certo, aí eu vi que eu tinha caído no golpe, liguei pro meu
advogado”, disse a vítima.

O baque foi grande. Ele nunca imaginou que passaria por uma situação parecida.
“À princípio foi uma alegria danada, né? Porque eu pensei que ia receber o
dinheiro né? Aí isso aí acho que mexe um pouco com o lado emocional da gente,
que a gente passa acreditar em tudo né?”, completou.

O advogado dele conta que casos assim têm se tornado cada vez mais comuns. Quase
todos os clientes do escritório chegaram a ser abordados pelos criminosos. Os
idosos são as principais vítimas.

Os golpes estão cada vez mais sofisticados e, nestes casos, os golpistas
utilizam tecnologias específicas para acessar diários e processos públicos. As
vítimas escolhidas normalmente são aquelas que estão próximas de receber um
valor na justiça. Os criminosos clonam os dados dos telefones dos advogados, se
passam por eles e conversam com os clientes, pedindo dinheiro, argumentando que
sem o pagamento, esses mesmos clientes não vão conseguir receber o valor
esperado na Justiça.

Um outro homem que também prefere não aparecer, caiu no golpe e perdeu cerca de
30 mil reais.

“Fiquei cego de emoção na hora que fiquei sabendo que ‘tava’ aposentado. Nunca
tinha visto isso, nunca passei por isso né? Não acreditei que tinha caído nesse
golpe. Me senti um otário, um bobo. Foi tudo por mensagem. Não teve nenhum
áudio. A única vez foi essa suposta agente do INSS que a gente conversou por
telefonema”, disse o homem.

O Thiago é advogado e teve um número de telefone clonado. Pelo menos cinco
clientes dele foram vítimas de tentativa desse tipo de crime. Nenhum chegou a
transferir dinheiro para os bandidos.

“A gente hoje tem a lei de proteção de dados, mas ainda muito frágil em relação
a esse tipo de golpe, que é algo que faz parte da rotina do advogado nos últimos
tempos e infelizmente, mesmo que tenhamos toda a informação, todo o acesso, o
cliente é tomado por forte emoção no momento, nós ficamos também de mãos atadas,
porque a gente sabe que muitos que acabam caindo no golpe, o fazem pela
confiança que tem no escritório, no advogado. E isso para nós é muito ruim, é
uma sensação de impotência muito grande”, disse a advogada Carolyna Semaan
Botelho.

A presidente da OAB de Pouso Alegre afirma que o número de reclamações na cidade
cresceu nos últimos meses e que a diretoria estadual da ordem pretende se reunir
com a Polícia Civil.

“Nós aguardamos aí que da reunião saia uma maior atenção ao caso, uma maior
celeridade no atendimento dos advogados e dos clientes que estão passando por
esse tipo de situação”, disse a presidente da OAB, Graziela Brianezi.