Esquema Overclean: Emendas parlamentares e desvios milionários

Entenda a Overclean e a relação das emendas com desvios milionários

Investigação da Polícia Federal tem como foco contratos de um grupo de empresas
com os governos federal, estaduais e municipais

Cerca de um mês após ter saído às ruas pela primeira vez, a Operação Overclean
tem causado tensão entre políticos brasileiros por causa de seu potencial em
atingir padrinhos de emendas parlamentares que bancaram contratos milionários
sob suspeita.

A investigação teve até o momento duas fases. A primeira, em 10 de dezembro de
2024, prendeu 17 pessoas e cumpriu 43 mandados de busca e apreensão na Bahia,
Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

Dias depois, em 23 de dezembro, outras quatro pessoas foram presas
e diligências foram realizadas em Brasília e cidades baianas.

Embora as duas fases tenham aumentado a tensão na classe política,
principalmente entre integrantes do União Brasil, foi uma ação sigilosa, em 3 de
dezembro, a responsável por causar mais apreensão.

Naquele dia, a PF fez buscas em uma aeronave que pousou em Brasília após decolar de Salvador.

Os passageiros do avião eram o empresário Alex Parente e o ex-coordenador do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) na Bahia Lucas Maciel
Lobão Vieira.

Os dois são investigados na Overclean. Alex Parente e seu irmão Fábio são apontados como líderes do esquema, ao lado do empresário José
Marcos de Moura, apelidado como Rei do Lixo na Bahia. Moura teria sido o
responsável pelo aluguel da aeronave. Com a dupla os investigadores encontraram R$ 1,5 milhão e uma série de
documentos e planilhas.

“A análise, ainda que preliminar, do material apreendido quando da ação
controlada demonstra que o material apreendido consiste em controle informal de
pagamento de propinas”, diz a PF em relatório. Os investigadores agora estão debruçados sobre esse material e todas as outras
informações coletadas em quebras de sigilo bancário e telemático e nas buscas e
apreensões realizadas nas duas fases.

O objetivo é tentar entender quem foi beneficiado pelos desvios em licitações
públicas descobertos ao longo da investigação.

Embora ainda não tenha pessoas com foro privilegiado como alvos, o material
coletado e tornado público até o momento aponta para integrantes da classe
política.
A Overclean é uma apuração sobre desvios em contratos firmados entre um grupo de
empresas com o DNOCS e governos estaduais e municipais.

Uma das planilhas encontradas pela PF no avião mostram uma relação de contratos
cujo valor alcança a casa dos R$ 800 milhões. O valor ainda é investigado para
saber se esses contratos citados foram realmente assinados.

No período investigado, as empresas suspeitas movimentaram R$ 1,4 bilhão, entre
créditos e débitos em suas contas. Somente no DNOCS, a Allpha Pavimentação, uma das empresas dos irmãos Parente,
tem cerca de R$ 130 milhões em contratos firmados. Em alguns casos, a PF
conseguiu mostrar os bastidores das irregularidades, como direcionamento da
disputa, por meio de mensagens e conversas dos alvos.

Desde 2021, a empresa já recebeu R$ 67 milhões do governo federal,
sendo todo valor proveniente de emendas do relator, o chamado orçamento secreto,
o que dificulta a transparência ao não indicar qual político é o padrinho da
indicação.

Em apenas um dos contratos entre a Allpha Pavimentações e o DNOCS, no valor de
R$ 40 milhões e custeado com dinheiro de emendas parlamentares, a
Controladoria-Geral da União diz ter havido um prejuízo de cerca de R$ 8 milhões
com os desvios praticados.

Uma das conversas gravadas por uma escuta instalada pela PF no carro de Alex
Parente mostra como as emendas eram importantes para os investigados.
Nela, Parente fala com o atual coordenador do DNOCS na Bahia, Rafael Guimarães
de Carvalho, alvo de busca da PF e mantido no cargo pelo governo Lula.

Em determinado momento, diz a PF, Alex e Rafael “conversam sobre decisão recente
do STF acerca dos pagamentos de obras” e o coordenador do DNOCS “demonstra
preocupação com os empenhos e os pagamentos das obras com a decisão do STF”.
Segundo a PF, Rafael diz na conversa que as “obras dele são oriundas de
emendas”.

A PF cita a relação das emendas e dos desvios investigados na representação
pelas prisões e buscas da primeira fase da Overclean. De acordo com os investigadores, o esquema investigado “causou um dano
significativo ao erário, se utilizando, inclusive, do direcionamento viciado do
dinheiro oriundos de emendas/convênios para pessoas ligadas à prefeitura e
empresas pré-selecionadas, resultando em obras superfaturadas”.

DEFESAS O empresário José Marcos de Moura não respondeu ao contato da coluna. Em outras ocasiões, por meio de nota, a defesa do empresário dele afirmou que o termo Rei do Lixo é “equivocadamente atribuído” a ele, que tem “atuação reconhecida e
respeitada no ramo da coleta e destinação de resíduos.”

Os advogados de Moura argumentam que ele não possui contratos com o DNOCS da
Bahia ou exerce atividade relacionada a obras públicas.

“Importante reforçar que todos os outros elementos apontados em fase de
investigação são apenas ilações, sem qualquer comprovação”, afirmaram Antonio
Vieira, Felipe Carvalho e José Eduardo Alckmin.

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