Mulher que ganhou na Mega-Sena morava em lanchonete antes do prêmio
Vencedora da Mega-Sena agora é cobrada na Justiça pelo ex-marido para dividir prêmio de R$ 103 milhões que ganhou no sorteio
Ganhadora da Mega-Sena, uma dona de barraca em Pernambuco viu a vida girar em outubro de 2020 ao receber um prêmio de R$ 103 milhões na loteria – ao qual chama de “milagre”. Antes, a mulher vivia na barraca de uma lanchonete onde trabalhava. Os pertences incluíam um colchonete de solteiro e uma caixa de papelão com roupas, além de fogão, geladeira e panelas.
A empreendedora passou a morar na barraca depois de ser despejada de uma casa alugada: “No meu estabelecimento eu tinha esse colchonete, aí minhas roupas eram dentro de uma caixinha lá de papelão, mas eu tinha em outra área que eu cozinhava um fogão, uma geladeira, umas panelinhas”, afirmou, em depoimento.
Mas a vida não mudou só com a fortuna da Mega-Sena. Um casamento-relâmpago cruzou o destino dela, que, agora, se vê diante da Justiça numa disputa pela fortuna com o ex-marido. O caso foi revelado pela coluna Ambos, que terão a identidade preservada por questões de segurança, começaram a namorar em abril de 2020, ficaram noivos em agosto e se casaram em outubro, dias após a aposta vencedora ser divulgada.
O homem tenta provar que viveram uma união estável nesses sete meses antes do matrimônio para ter direito a R$ 66 milhões, que calcula ser metade do prêmio da Mega-Sena, mais danos morais e materiais. A mulher nega. O divórcio, entretanto, já veio com uma doação dela de R$ 10 milhões.
Um dos argumentos dele é de que haveria uma conta-conjunta bancária do casal – mas diz não ter feito movimentações financeiras. Documento da Caixa juntado ao processo, porém, aponta que se trata de conta individual. A defesa dele afirmou à coluna que os números e o dinheiro apostado eram dele. Também sustentou que tinham relações sexuais antes do casamento, dizendo que dormiam juntos num colchonete de solteiro dentro da barraca dela, com frequência, a fim de provar a união estável. “A situação não era fácil nem pra mim e nem pra ela”, afirmou ele, em depoimento.
A defesa dele disse que essa situação ocorria de forma “bem sigilosa” por causa da religião. Também afirma que havia o desejo de constituir família desde o início. Judicialmente, toda união estável não registrada em cartório, mas depois comprovada, ocorre em comunhão parcial de bens. Isso daria a ele metade do prêmio, conforme pediu na Justiça. Mas esse tipo de união precisa ser duradoura, pública e com intenção de constituir família para ser caracterizada como tal. O relacionamento dos dois, no entanto, durou apenas sete meses entre o início do namoro e o casamento, e eles sequer moravam juntos.
Antes, na própria declaração à juíza, ela negou esses fatos e afirmou ser evangélica: “Não teve nenhum contato”. Ambos já haviam sido casados e tinham filhos desses relacionamentos.
Enquanto ele, também evangélico, disse que passava algumas noites na barraca – o que é confirmado pela irmã dele –, ela nega que o ex-casal tenha morado junto antes do casamento. Uma amiga dela afirmou, por exemplo, que nunca o viu no estabelecimento pela manhã.
PROCESSO DA MEGA-SENA
Além do casamento em separação total de bens, consta na certidão de divórcio que não havia bens a partilhar. A empreendedora, que considera o prêmio da Mega-Sena um “milagre”, disse que se separaram devido a grosserias por parte dele. “Ele não tinha modos”. Já a defesa dele disse à coluna que ela terminou com ele enquanto estava internado para tratar problemas no coração. O processo, obtido pela coluna, foi impetrado na Justiça um ano após o fim do relacionamento, porque, justifica a defesa, ele estava com medo do “poderio econômico” dela. Mais um ano se passou até que houvesse um pedido cautelar para bloqueio de bens obtidos com a Mega-Sena.
Nele, constam doações dela ao então marido e aos filhos dele. Amigas também foram agraciadas financeiramente, com quantias por volta de R$ 100 mil a R$ 120 mil, de acordo com depoimento dela. Segundo a defesa dela disse à coluna, a mulher chegou a mudar de cidade por razões de segurança diante da fortuna. Vive, hoje, com parte do prêmio, já que a Justiça bloqueou o restante a pedido dele numa decisão monocrática em primeira instância em dezembro de 2023.
Caberá à Justiça a decisão sobre o futuro do dinheiro da Mega-Sena – será partilhado ou não. O destino de ambos, portanto, ainda está em aberto. Já leu todas as notas e reportagens da coluna hoje? Acesse a coluna do Metrópoles.