Entenda o ‘toró’, modelo de fenômeno meteorológico com nome indígena apresentado em pesquisa da UFSC
Termo tem origem na língua guarani e significa ‘chuva como um jato de água’. Além de conceituar o termo, a pesquisa quer valorizar as contribuições indígenas na nomeação e compreensão de fenômenos naturais.
Associado popularmente a um forte temporal, o termo “toró” foi apresentado oficialmente como um termo meteorológico por uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Originário da língua guarani, o termo significa “chuva como um jato de água”, segundo Reinaldo Haas, responsável por falar sobre o modelo na AGU, uma das maiores conferências sobre ciência que ocorreu em dezembro de 2024 nos Estados Unidos. Professor de climatologia do departamento de Física da universidade, Haas alerta que o fenômeno já foi visto em tragédias climáticas recentes e tem grande potencial de destruição. Ele é caracterizado pela queda abundante de água e granizo, em pouco tempo, cerca de 20 segundos.
Além de conceituar o novo modelo, o pesquisador elaborou um artigo em que destaca, ainda, a contribuição indígena na compreensão do fenômeno. Conforme a pesquisa apresentada no estudo, o povo guarani já tinha ciência sobre o evento.
Além disso, a pesquisa esclareceu a diferença entre toró e outros termos usados na meteorologia e no dia a dia da população, entre eles, “tromba d’água” e “cabeça d’água”. O primeiro trata de um tornado que se forma sobre a água. Já o segundo ocorre quando há chuva intensa em uma nascente.
O “toró” acontece em regiões próximas a montanhas e é produzido por ventos fortes verticais, podendo causar a destruição de árvores e casas e gerar as inundações, chamadas popularmente de cabeça d’água. Outras características são as marcas e as cicatrizes lineares que se formam em desfiladeiros e montanhas após o fenômeno.
No estudo apresentado pela universidade, Haas defende que o termo foi nomeado pelos indígenas, conforme registros antigos, dicionários e a toponímia de algumas localidades consultados na pesquisa.
No trabalho, o professor também aponta que o toró esteve por detrás de grandes desastres de inundações e escorregamentos da história brasileira “sem ninguém perceber”. Como, por exemplo, a tragédia de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro, considerada uma das maiores catástrofes climáticas do país. Mais de 1 mil pessoas morreram no evento.
Segundo Haas, o “toró” acontece em regiões próximas a montanhas e é produzido por ventos fortes verticais, podendo causar a destruição de árvores e casas e gerar as inundações, chamadas popularmente de cabeça d’água. O professor também cita que o fenômeno causa erosão intensa devido à precipitação concentrada.
Após apresentar o artigo sobre o modelo, o especialista agora tenta reunir dados como fotos, vídeos e relatos sobre o “som do toró”. A ideia é ampliar a informação sobre o fenômeno na tentativa de prever a ocorrência desses eventos extremos e cada vez mais comuns. A população que conseguir captar tempestades similares pode enviar as informações para o Laboratório de Clima e Meteorologia da UFSC.