Ossada de grávida sacrificada para evitar El Niño é achada no Equador
Restos mortais de 1,2 mil anos de uma mulher grávida desmembrada no Equador
sugerem um sacrifício para impedir efeitos do El Niño
Arqueólogos descobriram uma ossada misteriosa no Equador que pode mudar o
entendimento sobre os antigos rituais da região. O achado, que data de cerca de
1,2 mil anos, revelou os restos mortais de uma mulher grávida que foi espancada,
desmembrada e enterrada com uma série de artefatos valiosos.
O sepultamento foi realizado durante o período Manteño (650 a 1532), conhecido
por suas complexas chefias e povos costeiros que se dedicavam à agricultura e
navegação.
De acordo com o estudo, publicado no periódico Latin American Antiquity em 23 de janeiro, o sepultamento da jovem, que tinha entre 17 e 20 anos e estava
grávida de 7 a 9 meses, ocorreu entre 771 e 953 d.C.
A datação por radiocarbono e as fraturas no crânio da mulher sugerem que ela pode ter morrido devido a um golpe na cabeça, e a
remoção violenta de suas mãos e perna esquerda também indicam um ritual de morte peculiar.
O achado inclui itens raros, como conchas de berbigão colocadas nas órbitas
oculares da mulher, lâminas de obsidiana ao redor de seu corpo e até uma garra
de caranguejo colocada em seu abdômen.
O túmulo também continha o crânio de uma pessoa de 25 a 35 anos e uma oferta
queimada datada de 991 a 1025 d.C., provavelmente colocada na sepultura após a
morte da mulher.
Os elementos despertaram suspeitas de que ela teria sido sacrificada, e sua
morte, associada a esse ritual, levanta questões sobre o papel da vítima na
sociedade DE.
A bioarqueóloga Sara Juengst, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados
Unidos, e uma das autoras do estudo, aponta que a gestante poderia ter ocupado
uma posição importante de poder na sociedade.
Os pesquisadores exploram duas hipóteses para explicar a morte da jovem. A
primeira sugere que, em um período de intensa atividade de El Niño, que afetava a produção agrícola, ela poderia ter sido sacrificada como uma
tentativa de garantir a prosperidade da colheita.
A segunda hipótese, mais voltada para a dinâmica política e social da época,
sugere que a mulher poderia ter sido uma líder de destaque na sociedade
DE. “Caso ela tivesse algum rival, a eliminação dela e do feto poderia ter
sido uma forma de garantir a ascensão desse rival ao poder”, indica a
pesquisadora.
O tratamento “desumanizante” da mulher, com a remoção de partes de seu corpo,
seria uma maneira de enfraquecê-la, mas, ao mesmo tempo, conceder honra devido
ao seu status.
Os pesquisadores observaram que, independente do cenário do sepultamento, a
descoberta oferece novas perspectivas sobre como fatores ambientais, sociais e
culturais podem ter influenciado os rituais do passado, especialmente em relação
ao sacrifício e ao tratamento das mulheres nas antigas civilizações do Equador.