Ex-funcionários expõem pendências trabalhistas de hospital em SP
Demitidos no início do ano, ex-funcionários do Hospital Japonês Santa Cruz
alegam que não receberam uma série de direitos trabalhistas.
São Paulo — Ex-funcionários do Hospital Japonês Santa Cruz,
na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo,
alegam que enfrentam pendências
trabalhistas após a demissão de 15% do quadro de profissionais da unidade em
janeiro deste ano. Segundo ex-colaboradoras ouvidas pelo DE,
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem não receberam a rescisão
contratual, salários, benefícios e parcelas do 13º salário. Além disso, relatam
que o depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) não é regular desde 2021.
Alice Moreira, de 38 anos, foi enfermeira no hospital por 12 anos. Demitida em
16 de janeiro, ela ainda não recebeu o valor da rescisão contratual, que deveria
ter sido depositado em até 10 dias corridos — o que fixa o prazo final no último
domingo (26/1). Além disso, a enfermeira não recebeu os salários referentes aos
meses de dezembro e janeiro e diz que, há pelo menos dois anos, os atrasos nos
pagamentos eram recorrentes.
A auxiliar de enfermagem Thaís Tereza Souza de Arruda, de 42 anos, tinha cerca
de seis anos no hospital e foi demitida no último dia 20. Ela ainda não recebeu
a rescisão contratual, mas a empresa tem até esta quinta-feira (30/1) para lhe
pagar. Ela, porém, alega que os seus últimos salários estão atrasados e que só
recebeu a primeira parcela do 13ª salário. Segundo Thaís, o depósito do FGTS não
é realizado pelo hospital desde 2021.
Thaís é a responsável por organizar um grupo com cerca de 30 colaboradores
demitidos, todos com pendências trabalhistas. “Estávamos há oito meses
aproximadamente com pagamento sendo efetuado com atraso e promessas de melhora
do hospital. Diziam ser apenas uma crise, que a situação iria melhorar com a
chegada de novos investidores. Mas todo mês, o salário que deveria cair no 5º
dia útil do mês vinha com atraso. E aí agora em janeiro veio a demissão em
massa”, disse a auxiliar de enfermagem.
“Todos deram suas vidas ali, diariamente. Na pandemia de Covid, o trabalho era
dobrado. E agora fomos demitidos sem um centavo”, lamentou a auxiliar de
enfermagem.
A enfermeira Laís da Silva Santos Lopes, de 35 anos, está na mesma situação de
Thaís. “A empresa alega que seria pago conforme os recebíveis das operadoras.
Alguns funcionários acabaram recebendo 50% do salário, porém eu não estava
inclusa na lista. Para isso, a empresa fala que foi a maneira que encontrou para
‘todos não saírem prejudicados’”, revelou. Além dos atrasos nos pagamentos, a
empresa não faz o depósito do FGTS de Laís desde 2022. Ela tinha 12 anos de
carreira na unidade hospitalar.
Aline dos Santos Sapata, de 39 anos, trabalha no Hospital Japonês Santa Cruz há
sete anos como técnica de enfermagem. Mais uma sem os devidos pagamentos, ela,
que é mãe solo de dois filhos, disse que está muito abalada com a situação.
“Eu só choro, estou sem chão. Minhas contas estão atrasadas, escola dos meus
filhos atrasada. O hospital não teve um mínimo de senso de, pelo menos, dar
uma satisfação para a gente. E ainda nos sentimos acuados, porque a gente vai
no hospital pra ter uma resposta, e encontra seguranças na porta, segurança na
porta dos RH [Recursos Humanos]”, desabafou a técnica.
“É um dinheiro nosso, por direito. Eu trabalhei lá por sete anos, dei minha vida
para aquele hospital. Trabalhava 12 horas, até 24h quando faltava funcionário.
Então é lamentável.”
Ao DE, o Hospital Japonês Santa Cruz afirma que vem promovendo uma série
de ajustes em sua operação, o que inclui o quadro de funcionários.
Sobre as demissões de janeiro, o hospital diz que “a movimentação recente
representou cerca de 15% do quadro de funcionários, não representando demissão
em massa”.
“Os ajustes têm finalidade de manter a sustentabilidade financeira e preservar
o emprego do maior número possível de funcionários, mantendo de forma
mandatória a segurança dos pacientes que buscam o nosso hospital em qualquer
serviço disponibilizado”, argumenta a empresa.
Os desafios enfrentados pelo setor de saúde, incluindo os Hospitais
Filantrópicos, principalmente durante e após a pandemia da Covid, impactaram de
forma relevante o Hospital Japonês Santa Cruz, e estamos tomando todas as
medidas necessárias de ajuste, visando a continuidade do hospital e o que
possibilitará sua recuperação, e consequente abertura de novas vagas, finaliza
a nota.
Questionado sobre os atrasos no pagamento e a previsão de regularização da
situação dos ex-colaboradores, o hospital afirmou que se pronunciará apenas por
meio da nota enviada.
Sobre a presença de seguranças supostamente reforçadas no DE, a empresa alega
que “sempre prezou pela segurança e bem-estar de seus pacientes e
colaboradores”. “Estamos aperfeiçoando o serviço de controladoria de acesso,
modelo que adotamos na instituição”, diz o comunicado.